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Sobre a independência do Kosovo

category balkans region | imperialismo / guerra | opinião / análise author Saturday February 23, 2008 07:51author by Manuel Baptista (a título pessoal) - Colectivo Luta Socialauthor email manuelbap at yahoo dot com Report this post to the editors

Tem sido fértil a actualidade em relação aos Balcãs, a propósito da independência kosovar, programada e mesmo organizada pela UE e USA.

Tem sido fértil a actualidade em relação aos Balcãs, a propósito da independência kosovar, programada e mesmo organizada pela UE e USA.

O estado étnico de raiz albanesa surge após uma guerra de agressão do «ocidente» em 99, disfarçada de «guerra humanitária» onde não faltaram a manipulação grosseira, fazendo surgir como uma espécie de carrasco nazi o nacionalista de Slobodan Milosevic. Note-se que este estava completamente derrotado nas suas ambições em relação à Bósnia, onde a minoria sérvia fez o papel de «mau da fita»... Embora nestas guerras de desmembramento da Jugoslávia, ninguém fosse inocente, nenhum lado fosse isento de culpas, nenhum lado isento de milícias étnicas causadoras de crimes de guerra...
O ataque da NATO (sob comando dos EUA) contra a Sérvia, não motivado por agressão desta contra quaisquer estados ou interesses de países da NATO, ficará nos anais do neoliberalismo como um crime de guerra: como os crimes de guerra dos nazis, ou os bombardeamentos de civis na Guerra de Espanha pelos nazis e franquistas, ou as bombas sobre Hiroxima e Nagasaki pelos EUA ou o bombardeio de Dresden pelos britânicos com apoio dos EUA, etc, etc...
O grande vencedor -no caso do Kosovo - é o UÇK: este foi apadrinhado pelos serviços secretos de todo o «ocidente» mas com especial carinho pela CIA, havendo ligações comprovadas dos seus membros mais destacados com as máfias albanesas (são uma única realidade, melhor dizendo) especializadas no tráfico de mulheres, dos Balcãs e outras origens, para a prostituição em capitais de prósperos países ocidentais, onde são escravizadas; especializadas, também, no tráfico de armas; nas acções terroristas, passadas sob silêncio desde o momento que se tratava de indefesos civis sérvios, no Kosovo ou noutros lugares.
É portanto um Estado feito por um gangue de rufiões, apadrinhado pelas potências vencedoras da guerra-fria, totalmente controlado por elas.
O facto dos políticos no poder no Kosovo terem esses padrinhos, não os torna respeitáveis; são apenas uma máfia subordinada a outra máfia mais forte. Não existe independência. Existe sim um protectorado NATO-UE, que pretende eternizar uma situação de coação violenta sobre a Sérvia, ainda não totalmente rendida às «virtudes» do livre mercado.
A um nível mais geral cabe-nos reflectir sobre a questão das pátrias e dos nacionalismos. É fácil dizer-se que as questões nacionais estão completamente ultrapassadas pelo próprio desenrolar da história recente, nomeadamente com a «globalização capitalista». Porém, é em nome das pátrias que se mata, que se fazem guerras. Do lado dos estados, tanto pode ser por defesa da pátria contra «terroristas», estilizados como fanáticos fundamentalistas islâmicos e apátridas, como noutros casos, é para defender o estado, identificado com a «civilização», contra o «nacionalismo terrorista», de minorias étnicas...
A humanidade sofre por causa do nacionalismo, quer ele seja de Estado, quer ele seja um desafio ao Estado. O nacionalismo contra um determinado Estado, tem como finalidade última erigir-se em Estado, ele próprio.

Voltando ao caso do Kosovo, vemos claramente que um grupo terrorista anti-estado (jugoslavo) foi dignificado como «movimento nacionalista», para servir como alibi para a destruição completa de um Estado que mantinha um modelo de sociedade não inteiramente submissa ao pensamento único, ao dogma neo-liberal, uma federação 'anacrónica', que era urgente destruir, pois poderia dar a ideia de uma outra Europa, a dos povos, vivendo um socialismo cheio de imperfeições, mas onde a propriedade social tinha, pelo menos em teoria, um predomínio sobre a propriedade privada e tentando resolver em comum as suas diferenças, sem recurso à opressão dos fortes pelos fracos, estimulando a convivência entre comunidades...
Conseguiu-o a União Europeia na perfeição; nem por um instante hesitou em estimular para esse fim o vírus nacionalista. Não esqueçamos que, após os acordos de Dayton, Milosevic foi considerado o homem providencial que iria permitir uma pacificação dos Balcãs.
Hoje temos de novo a farsa, com perigo de se tornar tragédia, dos nacionalismos rivais se afrontarem, pondo em cena minorias esmagadas: antes os albaneses do Kosovo com o apoio dos EUA, agora os sérvios do Kosovo e os refugiados sérvios do Kosovo na própria Sérvia, com o apoio da Rússia.
Estão os poderes a criar mais uma versão do famoso caldo de cultura balcânico que se arrisca a desembocar numa cruel guerra.
Os Balcãs estão relacionados com demasiado derramamento de sangue:
- pretexto para o despoletar de uma Guerra Mundial (a 1ª).
- já foram palco para a primeira guerra entre estados após o fim da 2ª Guerra Mundial, de guerras civis cruéis, de «limpezas étnicas», de torturas, de massacres, de todos os horrores que a Europa e o Mundo pensaram apenas seriam possíveis - nos finais deste martirizado século XX- no Ruanda, em Timor, ou outras paragens remotas, longe das fronteiras do «velho continente».
Afinal, a canalha que se auto-proclama “governos e chefes de Estado”, nos países europeus, precisava de fabricar o seu banho de sangue. Assim pôde demonstrar ao grande capital, sem pátria nem fronteiras, a sua completa servidão.
Os Estados precisam da guerra para manterem a multidão submissa.
Chamam a isso «manter a coesão interna». Precisam do nacionalismo para atearem o ódio, o fermento da união dos de uma etnia contra os «outros» ou seja, de manter a divisão entre explorados, das diversas etnias: os russos contra os tchetchenos, os turcos contra os curdos, os castelhanos contra os bascos, etc. e vice versa, claro.
Assim se mantém a escravidão dupla, em relação ao Estado e ao Capital.
Somente o derrube simultâneo dos dois poderá livrar a humanidade da exploração e da guerra.

Related Link: http://www.luta-social.org
author by Manuel Baptistapublication date Sat Feb 23, 2008 21:23author address author phone Report this post to the editors

«já foram palco para a primeira guerra entre estados após o fim da 2ª Guerra Mundial, de guerras civis cruéis, de «limpezas étnicas»,[...]»
Na frase anterior, omiti, que me referia unicamente a estados europeus... como era evidente pelo contexto. A frase correcta será:
«já foram palco para a primeira guerra entre estados europeus após o fim da 2ª Guerra Mundial, de guerras civis cruéis, de «limpezas étnicas»,[...]»

 
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