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O Basta! Da Comuna de Oaxaca.

category américa do norte / méxico | community struggles | opinião / análise author Sunday December 10, 2006 19:36author by Rusga Libertária - MT - Construindo o Fórum do Anarquismo Organizado - Brasil Report this post to the editors

A repressão à APPO, que foi posta na clandestinidade, tem aumentado dia após dia com sistemáticos ataques da PFP as barricadas e a rádio APPO, que acabou por ser tomada pela repressão no dia 29 de novembro em busca de “restaurar a ordem”, em compensação nenhuma atitude contra os grupos paramilitares foi realizada por parte da PFP, muito pelo contrário, os mesmos encontram-se hoje atuando em conjunto contra o povo...


O Basta! Da Comuna de Oaxaca.


“Tomar o poder é tomar o poder nas fábricas, nos campos, nas minas, nas oficinas, nas escolas, nos hospitais, nas centrais elétricas, nos meios de comunicação, nas universidades, e o poder é dos trabalhadores e do povo quando são organismos por eles controlados, amplamente democráticos e participativos, onde os que o assumem apropriam-se das funções tutelares exercidas desde a esfera estatal. Por isso é que uma estratégia de poder popular deve ter como premissa essencial a construção desses organismos e esta é a tarefa política chave que desde já está jogando um papel de primeira ordem na determinação de se o futuro revolucionário será socialista e libertário ou não. Por isso a derrota da ordem capitalista e autoritária e a construção de um autêntico poder popular está se produzindo todos os dias, em relação a como se orienta e concretiza nosso trabalho político e social”.
(Protagonismo da Luta Popular Organizada, Declaração de Princípios: Federação Anarquista Gaúcha – FAG, 2000).

Em meio a uma profunda crise política, marcada, sobretudo pela fraude das eleições presidenciais, legitimando Felipe Calderon como presidente, o México encontra-se hoje, 12 anos após o levante zapatista em Chiapas, no centro da luta de classes da América Latina, abrindo grandes perspectivas às lutas dos oprimidos deste sofrido continente através “de mais de 500 anos de resistência indígena, negra e popular que hoje confluem em um grande caldo que ao seu passo arrasa com a soberba a mentira da auto proclamada classe política. Este espaço aonde se congrega o melhor das tradições democráticas se chama: Assembléia Popular dos Povos de Oaxaca (APPO)”. (Comunicado das Milícias Insurgentes Ricardo Flores Magón, Brigada Francisco Javier Mina).

Tudo começou no mês de maio, com uma greve de professores por melhores condições de trabalho e aumento salarial, que chegou a mobilizar 70 mil pessoas em torno da causa. Em uma das mobilizações grevistas, uma vigília em frente ao palácio do governo de Oaxaca no dia 14 de junho, os professores foram brutalmente desalojados pela polícia a mando do governador Ulises Ruiz Ortiz (URO), o que ao contrário do que a classe política oaxaquenha imaginava, não dispersou o movimento, tendo gerado uma ampla solidariedade por parte da população e dos diversos setores organizados do povo em luta.

Como resultado desta solidariedade, o povo de Oaxaca construiu a APPO, congregando mais de 300 organizações populares em torno de uma única pauta: a destituição do tirano URO. Como meios de luta, o movimento iniciou a ocupação de diversos prédios públicos, canais de TV e rádios, incluindo a rádio Universidad, localizada na Universidade de Oaxaca que se transformou em rádio APPO.

Desde então, o movimento tem se alastrado por todo o Estado de Oaxaca, tendo eco em todo o México, na América Latina e no mundo, como uma autêntica experiência de poder popular. Há cerca de 06 meses Oaxaca se encontra sobre o controle da APPO, sendo gerida de forma direta e horizontal pelos que até então se encontravam a margem de um sistema sanguinário e excludente: indígenas, trabalhadores, desempregados, camponeses... sendo por isso conhecida como a Comuna de Oaxaca. Como meio de tentar calar as vozes insubmissas organizadas na APPO, o Governo Federal mexicano, através do presidente Vicente Fox, ordenou a intervenção da Polícia Federal Preventiva (PFP) no Estado para conter o processo revolucionário. A ordem partiu após um ataque paramilitar a uma barricada da APPO, onde teve o saldo de três mortos, dentre eles um voluntário da rede Indymedia de Nova Iorque e vários feridos.

Após 01 Mês de intervenção da PFP, o povo oaxaquenho deu continuidade a sua luta, radicalizando-a cada vez mais. Multiplicaram-se o número de barricadas pela cidade e a solidariedade a APPO se alastrou por todo mundo: manifestações em diversas embaixadas e consulados mexicanos, bloqueio aos sites das embaixadas e inúmeras cartas de apoio a APPO, o que demonstra que nenhuma luta se faz sem solidariedade internacionalista e que a luta contra o capital é global.

A repressão à APPO, que foi posta na clandestinidade, tem aumentado dia após dia com sistemáticos ataques da PFP as barricadas e a rádio APPO, que acabou por ser tomada pela repressão no dia 29 de novembro em busca de “restaurar a ordem”, em compensação nenhuma atitude contra os grupos paramilitares foi realizada por parte da PFP, muito pelo contrário, os mesmos encontram-se hoje atuando em conjunto contra o povo.

Essa heróica luta do povo de Oaxaca, que atualmente é omitida pela mídia tanto nacional como internacional, se mostra um autentico exemplo de que quando os de baixo se movem os de cima caem, que a auto-organização, o protagonismo e a independência de classe são nossas principais armas contra o inimigo. A vitória dos trabalhadores, indígenas, camponeses e oprimidos de Oaxaca representa uma vitória de todos na luta contra o capital, abrindo perspectivas e ânimos históricos à luta anticapitalista.


Rusga Libertária – MT, Construindo o Fórum do Anarquismo Organizado (FAO) – Brasil.
rusgalibertaria@yahoogrupos.com.br –
secretariafao@riseup.net

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