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Uma entrevista com um militante do DAF sobre a solidariedade pelo processo social em Rojava

category internacional | imperialismo / guerra | entrevista author Sunday February 08, 2015 23:14author by BrunoL - 1 of Anarkismo Editorial Groupauthor email blimarocha at gmail dot com Report this post to the editors

Introdução, por Bruno Lima Rocha:

Desde que começou o cerco à Kobanê tenho dedicado várias horas por semana a entender e divulgar o máximo possível sobre essa revolução social iniciada numa combinação de Confederalismo Democrático e a Guerra Civil Síria. Enquanto militante, eu sempre estive envolvido com solidariedade internacional. Enquanto descendente árabe, eu sempre tentei procurar uma força de esquerda que combinasse ação direta e democracia interna. Enquanto acadêmico e professor de Geopolítica estudando a região por mais de 25 anos, Rojava é um sonho que se tornou realidade. Aqui eu começo a primeira de algumas entrevistas com organizações com real experiência nesse processo e na região. Nesta estou conversando com o Devrimci Anarşist Faaliyet (DAF, ou Ação Revolucionária Anarquista). Eles têm sido bem ativos nessa ação e entendem em detalhes todo o processo Curdo, tanto em Rojava quanto no interior das fronteiras do Estado Turco.
A militância do DAF é parte ativa nos esforços de solidariedade a Kobane e compõem um amplo leque de alianças vinculado ao projeto sócio-político do KCK dentro do território do Estado Turco.
A militância do DAF é parte ativa nos esforços de solidariedade a Kobane e compõem um amplo leque de alianças vinculado ao projeto sócio-político do KCK dentro do território do Estado Turco.

E&A- É possível entender o PKK (Partiya Karkerên Kurdistani, Partido Popular do Curdistão) como uma força político-militar remodelada pelo pensamento de seu líder histórico (e sentenciado a prisão perpétua) sendo transferida organicamente para toda a organização? Ainda, temos duas perguntas em sequência: Você pode imaginar a reprodução dessas ideias além de um culto à personalidade ao redor da imagem de Abdullah Ocalan (Apo)? E, seria possível universalizar as propostas do PKK-KCK (Koma Civakên Kurdistan, Grupo de Comunidades do Curdistão) além dos assuntos nacionais dos Curdos que ainda não foram resolvidos?

DAF- Nós temos de ver o assunto enquanto Movimento de Liberdade Curda. O PKK é uma organização do povo Curdo que vem lutando não apenas por 30 anos, mas centenas de anos. Especialmente após os anos 2000 o partido mudou sua ideologia, estratégia e característica. Assim, os críticos do movimento tem mesmo o mesmo vício de tomar o PKK como sendo o mesmo partido das décadas de 80 e 90. Apenas para lembrar, o PKK clamou pela liberdade não apenas para o povo Curdo, mas pela liberdade para todos os povos oprimidos no Oriente Médio. Pense sobre Rojava, PYD (Democratic Union Party, in Kurdish: Partiya Yekîtiya Demokrat), tem lutado não apenas pelos Curdos, mas pelos Ezidis, Turcomanos, Xiitas, Alauítas os quais o Daesh (ISIS, ISIL, EI, Estado Islâmico) quer destruir.

E&A- É observável um problema estratégico para a revolução de Rojava. Eu explico: a fronteira viva e aquela que é possível ser usada como santuário está com o KRG (Governo Regional Curdo no Iraque), mesmo o epicentro da guerra estando em Kobanê. É observável que se não houver reforços dos peshmerges (forças profissionais do KRG), provavelmente a coalizão anti-ISIS liderada pelos EUA não bombardeará a posição dos jihadistas. Logo, a aliança entre PKK-PYD e o KDP (Partido Democrático do Curdistão, Partîya Demokrata Kurdistanê, ou PDK) e sua coalizão com Massoud Barzani a frente do gabinete do KRG poderia implicar numa inevitável aproximação com o Ocidente? É possível sobreviver enquanto processo revolucionário dependendo militarmente e fisicamente do KRG e do Ocidente?

DAF- Temos que ver o papel dos peshmerges. Faz quase um mês e meio que eles não fazem nada por Rojava. Quando o YPG (Unidades de Proteção Popular, em Curdo: Yekîeyên Parastina Gel) e YPJ (Unidades de Proteção das Mulheres, em curdo: Yekîeyên Parastina Jinê), as organizações de auto-defesa do povo de Rojava tomou o controle de 60% de Kobanê, as forças de Barzani decidiram vir ajudar. É óbvio que essa foi uma ação estratégica de Barzani. Barzani declarou que como se não houvesse a Revolução de Rojava dois anos antes e temos que ver isso, EUA e outros países ocidentais não apoiam a resistência de Kobanê. Após a Revolução de Rojava não aceitaram a existência política do PYD ou dos cantões de Rojava. Assim, a melhor solução para eles é Barzani que não tem problemas com política capitalistas ou estatistas. Ainda, o KDP de Barzani é o partido irmão do AKP de Recep Erdogan (Partido do Desenvolvimento e Justiça, em turco: Adalet ve Kalkinma Partisi). Nestas circunstâncias, o povo em Rojava precisa de qualquer tipo de apoio. Isto não significa que ele pode receber ajuda de qualquer poder capitalista e estatista. Mas é como o YPG-YPJ lutando contra o EI, a Frente Al-Nusrat (uma afiliada do grupo Al-Qaeda)..., mas também lutando estrategicamente contra a Turquia, a Síria de Esad (Bashir Al Assad), o Curdistão de Barzani e todos os poderes capitalistas.

E&A- Ainda, em termos de estratégia, ao que tudo indica, o governo da Turquia tem favorecido as linhas de suprimentos deixando o EI se fortalecer dentro do território sob controle do exército turco. Aparentemente, isto é causado pelo cálculo realista de Ankara e o governo do AKP, considerando ser menos perigosa uma proposta de “califado” - ou o retorno do Ummah – comparado à ideia do separatismo Curdo, ou mesmo autonomia política de Rojava dentro do fracassado Estado da Síria? Pela posição turca, como avaliar a disputa entre os outros Estados operando através de sunitas jihadista, como Arábia Saudita e Qatar?

DAF- Na mídia hegemônica, é difícil achar notícias sobre o apoio Turco ao Estado islâmico. Não é apenas apoio por armamentos, ou sua posição neutra. Como você declarou, existe uma óbvia logística de apoio de países sunitas ao EI, mas o aquilo que nunca podemos esquecer são as relações escondidas entre o EI e poderes capitalistas ocidentais. A cena é clara de que um grupo terrorista islâmico tem fortalecido a mão dos EUA, especialmente no Oriente Médio.

E&A- Entrando no assunto da guerra civil Síria, o que pode ser visto hoje é uma guerra crescente entre Sunitas e Xiitas, e junto disto, entre o EI (e antes a Frente Al-Nusra) e a tentiva de conquista de Kobanê. Considerando essa realidade, qual seria o papel do Exército Livre da Síria hoje (FSA)? Esta força ainda possui algum poder de proteção – como o Qatar – ou caiu para uma condição de aliado secundário do YPG? Nós podemos considerar o Qatar o maior patrocinador do FSA? E, talvez esta seja a razão, ao passo que ambos o FSA e o YPG são contrários ao regime de Assad, Damascus e seus aliados (financiadores) preferiram liberar a área de Aleppo e Raqqa para operações do EI, permitindo que os sunitas jihadistas avançassem sobre Rojava?

DAF- Como declaramos antes, algumas das ações estratégicas contra o EI com o FSA não representam a real visão política do PYD. Então, este tipo de cooperação é o resultado das circunstâncias na Síria e em Rojava. A cooperação entre as organizações e grupos não deveria ser tomada como resultados das reais políticas das organizações e grupos. A guerra em Rojava, ainda mais continua na Síria, então é difícil para nós determinar os aliados. Esta longe da solidariedade dos revolucionários pela Resistência de Kobanê e pela Revolução de Rojava.

E&A- Eu entendo, mesmo de um relance à distância, que para os Estados da Turquia, Síria (o que restou dela) e do Irã, um Curdistão a oeste com autonomia política e uma sociedade trabalhando sobre bases igualitária e secular implica num problema insolúvel. Não seria a proposta do PYD não separar-se formalmente da Síria, mas obter o status de uma Federação política autônoma na Síria, assim como um futuro reajuste com o Iraque e com o governo de Irbil (Capital do KRG)? A Turquia toleraria tal estatuto, mesmo possuindo o segundo maior exército da OTAN e o de maior contingente num Estado de grande população islâmica? Se o Curdistão Turco recebe tal status, o que preveniria uma Confederação com o Curdistão Sírio? E, dessa forma, qual seria a reação do KRG e da coalizão de direita e partidos Curdos pró-Ocidente, como o KDP?

DAF- Estes cenários estão sendo discutindo ao passo que a guerra na Síria acabou. É difícil estimar como essas guerras irão modelar o Oriente Médio. Rojava declarou a liberdade de seus três cantões há 2 anos e meio atrás sem se importar com qual seriam as reações de Esad (Bashir al Assad), Erdogan ou Barzani. Todos os três declararam que não reconheciam o auto-governo dos cantões de Rojava. Ainda, eles insistem em não falar sobre a existência política de Rojava. Camarada, nós precisamos ver que durante estes dois anos os Estados em torno de Rojava mudaram suas políticas em suas regiões com a decisiva luta do povo livre de Rojava. Eles tentam encontrar meios de controlar a liberdade de Rojava. O cenário principal é de que Rojava será uma federação parte da Síria de Esad. Mas de qual Síria estamos falando, qual será o poder de Esad na Síria ou se haverá um Esad para liderar a Síria? O segundo cenário é de que Rojava fará parte do Curdistão de Barzani. O que seria o objetivo de Barzani, mas os princípios que sustentam Kobanê contra o EI não só assustam o EI como também Barzani. Porque a Revolução de Rojava se autodeclarou uma revolução centrada no anticapitalismo, no antiestatismo, nas mulheres e no meio ambiente.

E&A- Seria interessante para o KRG que Washington deixasse de considerar o PKK-HPG (Força de Defesa Popular, em curdo: Hezen Parastina Gel) como uma força terrorista? Isto permitiria uma requisição da liberdade de Ocalan, reforçando a liderança dessa força política?

DAF- Este é um assunto político constante na Turquia. A Resistência de Kobanê e a Revolução de Rojava não fortaleceu apenas a posição dos Curdos que vivem em Rojava, mas também na Turquia, Irã e Iraque. Então, esta ocasião tem alguns resultados políticos, sociais e econômicos. Mas temos de ter em mente o poder do AKP de Erdogan que não hesita em expressar suas ideias sobre a política internacional.

E&A- Como vocês projetam a existência de uma soberania e status de autonomia política legais para Rojava considerando alguns temas fundamentais como: moeda corrente (como seria? Existiria um banco central?); relações comerciais com outros territórios (por exemplo, na comercialização do petróleo); pertencer a uma federação territorial (como numa Síria reorganizada ou federada à KRG); e quais medidas concretas seriam instituídas através da Confederalismo Democrático com total unidade territorial e existência dos três cantões?

DAF- 2 anos e meio atrás, após a declaração de liberdade dos cantões de Rojava, o povo de Rojava começou a organizar a economia instituindo as terras coletivas do povo; abriu o Mala Gel (Casa do Povo) e Mala Jins (Casa das Mulheres) para organizar a sociedade numa forma de democracia direta. Estas casas são os reais centros políticos onde pessoas de dessas regiões discutem questões sociais e políticas e decidem o que fazer. Elas organizam o processo jurídico entre si sem nenhuma corte, advogado ou juiz. Justiça social não é providenciada sem qualquer tipo de poder central como um Estado. Sem escolas, mas com compartilhamento de conhecimento gratuito aos moldes das Universidades Zapatistas.

Nós temos que aceitar que a Revolução de Rojava não é uma revolução anarquista. Mas não há dúvidas sobre seu caráter de revolução social. A existência política de Rojava não faz parte da Síria de Esadou parte do Curdistão Iraquiano. Nós estamos falando de uma federação que se autodeclarou anticapitalista. Agora é inútil se preocupar com o futuro de Rojava se esta comercializa com capitalistas ou coopera com Estados... Façamos aumentar a solidariedade revolucionária e façamos parte dessa revolução social, para que não tenhamos tanta coisa para nos preocupar. Enquanto DAF, nós também mencionamos nossa posição num texto sobre a Resistência de Kobanê; nós não somos cartomantes que, então não adivinhamos a posição política de Rojava daqui 10 ou 50 anos. Mas somos anarquistas revolucionários, nós temos que tomar parte nos movimentos sociais e moldar esses movimentos.

E&A- O que seria um resultado concreto das políticas de massa através dos organizadores do KCK e das propostas de democratização da política municipal de autonomia do Curdistão Turco?

DAF- O verdadeiro mal-entendido da oposição social internacional é diferenciar as políticas do Movimento Curdo (HDP – Partido Popular Democrático, em turco: Halklarin Demokratik Partisi) ou outras instituições que são aceitas pelo Estado Turco; e o PKK (que é mencionado como organização terrorista pelo Estado). As chances de realização de instituições políticas democráticas dependem da luta do povo Curdo que é referida como terrorismo. Então, temos que entender a questão da “luta contra a política assimilacionista do Estado Turco”como um todo. Não há movimento, política ou instituição que se expresse por si como distante da luta do PKK e se declarou parte desta luta.(?) Então, o resultado de quaisquer políticas depende do sucesso da luta do povo Curdo organizado, o PKK. Esta situação pode ser parte de outro tipo de cultura política situado no Oriente Médio, distante das Europeias.

E&A- O DAF, enquanto uma força anarquista toma parte de alguma coordenação de alianças com o KCK ou com o DTK (Congresso da Sociedade Democrática, em turco: Demokratik Toplum Kongresi)? Enquanto anarquistas, como avaliar essas atividades com outras forças sociais? E, neste sentido, como avaliar a participação eleitoral da Aliança BDP (Partido da Paz e Democracia, em turco: Baris ve Demokrasi Partisi, em curdo: Partiya Astî û Demokrasiyê), BDP/HDP?

DAF- Relacionado com a resposta da questão acima, o DAF toma o PKK como o verdadeiro assunto da questão. Especialmente depois da mudança do paradigma dos anos 2000, após Ocalan não declarar mais o PKK como um movimento marxista-leninista e referenciá-lo a Bookchin, Bakunin e Kropotkin, é impossível para o DAF não se interessar por essa mudança teórica. Nós tivemos experiência com as mudanças dia após dia. A democracia direta tomou um importante lugar para essa realização política. Mesmo assim, existem críticas de anarquistas europeus já que são parte da ideologia marxista, nós estamos testemunhando a mudança não apenas na partilha da mesma cena política (a luta contra o Estado), mas estamos testemunhando a harmonia da teoria e da prática na Revolução de Rojava. As instituições como KCK, DTK, DBP/HDP poderiam estar numa manobra de estratégia no parlamento, sistema jurídico... Nós podemos criticar estas estratégias, mas não tomamos estas instituições como se fossem organizações as quais objetivam outras políticas. Assim como não votamos pelo HDP do BDP, pois não temos outro tipo de estratégia na democracia parlamentar, isto não nos faz repudiar estas instituições com o PKK.

E&A- Ao passo que o Confederalismo Democrático é inspirado no anarquismo, nós assumimos que existe uma aproximação e simpatia entre as ideias anarquistas e o atual pensamento da esquerda Curda. Esta avaliação é correta? Poderia especificar em qual sentido?

DAF- Como foi dito acima, especialmente após a aparição do novo paradigma dos anos 2000 no movimento Curdo refereciando principalmente Bookchin, Kropotkin e Bakunin (talvez Michael Albert em economia). Então, este é um bom passo para um movimento popular. O povo Curdo não está lutando há apenas 30 anos, ele está lutando há décadas. Para anarquistas revolucionários, é um bom momento para nós, esta organização desta luta de libertação chamada anarquista. É um bom momento para nós socializarmos o anarquismo nas terras onde pessoas vivem se Estado há décadas. Uma revolução social pode ser preparada como se fosse socializada. Nós, enquanto DAF, não somos anarquistas apenas para escrever alguns textos e viver o anarquismo em grupos fechados como os camaradas da Europa fazem. Nós objetivamos a revolução social, nós estamos lutando em todos os sentidos, então este é um bom momento para socializar o anarquismo.

E&A- Baseado no que lemos, o DAF opera lado a lado com o fronte dos movimentos pró-Rojava e como apoiadores da revolução social na região. Isto tem gerado uma aproximação da esquerda Turca como um todo, pode estar marcando um fortalecimento de posição entre o guarda-chuva político e social pró-Curdos (DTK-KCK e forças políticas legais DBP/HDP), levando a população a ter uma opção à rivalidade entre o AKP e o Kemalistas-Nacionalistas?

DAF- O DAF é solidário à Revolução de Rojava e a Resistência de Kobanê desde o princípio. Pois, em 19 de julho, os cantões de Rojava declararam independência contra a Síria de Esad, contra o EI, contra Barzani e contra os poderes econômicos e políticos internacionais que têm interesses na região. A solidariedade do DAF com o povo de Rojava que são Curdos, Ezidis, Xiitas ou Alauítas... pois Rojava é a esperança para o povo oprimido que vive no Oriente Médio e outras partes do mundo. Rojava mostra o que pretendemos ganhar contra os Estados, contra os capitalistas.

Na verdade, a Revolução de Rojava tem um papel decisivo para a esquerda Turca. Pois, algumas organizações e partidos não solidarizam com a revolução por conta de suas visões nacionalistas. A questão Curda para oposição social na esquerda Turca é uma importante questão para se observar os efeitos da política estatal no socialismo. Ainda, depois da mudança de paradigma do PKK, esta situação faz com que alguns partidos socialistas distanciarem-se do movimento Curdo. A posição dos anarquistas neste assunto também é importante. Nós, como revolucionários anarquistas vindos de uma tradição, onde socialistas nem davam importância para movimentos de libertação popular em países do terceiro mundo, mas camaradas anarquistas constituíram os primeiros movimentos na Bulgária, Grécia, Macedônia, Armênia, em 1850, nós estamos vindo de uma tradição onde os camaradas anarquistas empreenderam as primeiras lutas libertárias na América do Sul, na Indonésia, nas Filipinas... Isto não é para criar um novo fronte contra Nacionalistas e AKP. O DAF não se considera na agenda política parlamentar Turca. Este é um novo front que está contra soluções parlamentares para problemas sociais, econômicos e políticos.

E&A- Pelo que vocês podem observar em Rojava de acordo com a grande proximidade, quais seriam as maiores virtudes do sistema social em desenvolvimento na região? E, no mesmo sentido, qual seria a maior fraqueza em termos do PYD-TEV DEM (Movimento pela Sociedade Democrática, em Curdo: Tevgera Civaka Demokratîk) estar estabelecendo um novo Estado na região? O que eles poderiam estar reproduzindo que poderia culminar em outro Estado?

DAF- Camaradas, nós precisamos fortalecer a posição da Revolução de Rojava em todos os sentidos. As pessoas que estão lutando aqui, pessoas que estão lutando aqui para não construir outro Estado opressor. Esta é a luta por revolução social sem Estado, sem capitalismo, sem patriarcado... Nós conhecemos os cenários sobre estarmos unidos ao Curdistão de Barzani ou numa confederação com a Síria de Esad. Nosso papel tem de ser em participar e manter a revolução social longe destes cenários. Se a solidariedade das pessoas revolucionárias for o suficiente para criar esta solução sem Estado, é inútil sentir medo destes cenários. Esta não é apenas nossa posição em Rojava, esta é a posição do Movimento de Libertação Curda.

E&A- Nós entendemos que o tema da emancipação e empoderamento das mulheres é tão importante, que implicaria numa entrevista inteira, mas podemos perceber que isto é uma característica e um resultado acordado pelo processo social da maioria Curda (e não algo sectário, isto está claro). Em quais aspectos a presença das mulheres combatentes no YPJ está transformando as relações sociais no Curdistão como um todo? Isto tem uma relação direta com o PKK e o pensamento orgânico sobre a participação das mulheres no HPG?

DAF- Surgiram os Mala Jins (algo como Conselho das Mulheres) desde o princípio da revolução em Rojava. Nos Mala Jins, se socializa a consciência no papel das mulheres na sociedade, socializa luta contra a cultura patriarcal, socializa a importância da mulher na sociedade. Este esforço é muito importante, pois o EI e outros islamitas radicais tentam moldar toda a região de acordo com os valores de suas culturas. A revolução social não é apenas mudança política. Nós temos que ver outras mudanças como nas questões das mulheres para entender a importância da Revolução de Rojava.

E&A- Para concluir, existe uma preocupação, pois os fatos provam que as sociedades ocidentais observam o processo social de Rojava com simpatia e, em termos e comportamento e regras de coexistência, o Curdistão parece ser o mais próximo que existe de uma forma de sociedade democrática, secular e liberal. Na visão do DAF, existe um verdadeiro risco da esquerda Curda acabar se aproximando do Ocidente de uma maneira inevitável (dependendo do apoio do Ocidente) que ela acabe como uma sociedade secular protoestatal com igualdade de gênero (com é uma conquista para região) ao invés de uma revolução social com chances de realmente construir outra sociedade?

DAF- Como escrevemos “Não somos videntes, nós não podemos prever o que acontecerá em Rojava daqui um mês ou daqui um ano. Nós não podemos saber se esta transformação social, que não só nos traz esperança enquanto revolucionários que lutam numa região geograficamente próxima, mas também alimenta nossa luta nas regiões nas quais lutamos, seguirá num futuro positivo ou negativo. Mas nós somos anarquistas revolucionários. Nós não podemos apenas sentar de fora, ver o que está acontecendo e comentar; nós tomamos parte em lutas sociais e tomamos ações para uma revolução anarquista.”

Original em inglês por Bruno Lima Rocha, tradução para o português por Mariana Miotto. Entrevista originalmente publicada em inglês em Anarkismo.net e em português em Resistência Curda (wordpress).

Site: www.estrategiaeanalise.com.br

E-mail: stragegicanalysis@riseup.net

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