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Teoria e Ideologia

category brazil/guyana/suriname/fguiana | movimento anarquista | opinião / análise author Wednesday January 29, 2014 03:36author by Coordenação Anarquista Brasileira (CAB) Report this post to the editors

Texto publicado na revista "Socialismo Libertário" núm. 2, da Coordenação Anarquista Brasileira, que discute conceitualmente teoria e ideologia. Sustenta as seguintes posições: 1.) A teoria está relacionada ao conhecimento da sociedade e a ideologia a um nível de análise relativamente autônomo que, muitas vezes, se traduz em práticas políticas fundamentadas numa concepção do “vir a ser” da sociedade; 2.) O anarquismo é, portanto, uma ideologia e tem utilizado historicamente distintas teorias sociais para compreender a realidade; 3.) Teoria e ideologia constituem as bases da prática política.
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“O anarquismo é [...] uma aspiração humana, que não se funda
em nenhuma necessidade natural verdadeira ou supostamente
verdadeira, mas que poderá se realizar segundo a vontade humana.
Aproveita os meios que a ciência proporciona ao homem na luta contra
a natureza e contra as vontades contrastantes; pode tirar proveito
dos progressos do pensamento filosófico quando eles servirem
para ensinar aos homens raciocinar melhor e distinguir com maior
precisão o real do fantástico; mas não se pode confundi-lo,
sem cair no absurdo, nem com a ciência e nem com
qualquer sistema filosófico.”
Errico Malatesta



O DEBATE ORGÂNICO E O TEMA

Durante a Plenária da Coordenação Anarquista Brasileira (CAB), no início de 2013, dedicamos tempo, dentre outros assuntos, para chegar a alguns acordos e firmar uma posição coletiva em relação ao debate sobre teoria e ideologia, que vem sendo realizado há anos pelas organizações do anarquismo especifista, no Brasil e em outros países.

O documento que tem motivado essa discussão foi escrito em 1972 pela Federação Anarquista Uruguaia (FAU) e se chama “Huerta Grande: a importância da teoria”, tendo sido elaborado a partir das contribuições de Errico Malatesta e outros teóricos. Desde os anos 1990, esse documento tem sido debatido entre militantes e organizações de nossa corrente, os quais também têm feito aportes, atualizações e aprofundamentos necessários; fruto desse debate foram as produções das organizações que, na época, faziam parte do Fórum do Anarquismo Organizado (FAO), em meados dos anos 2000.

Com o ganho de organicidade impulsionado pela transformação do FAO em CAB, um de nossos objetivos no ano de 2012 foi retomar esse debate nas organizações que compõem a CAB e, o que nos parecia mais relevante, chegar a posições comuns, de maneira a dar continuidade no processo permanente de ganho de organicidade que temos em mente, para nos tornar uma organização nacional. O texto a seguir apresenta os acordos e posições coletivas estabelecidos em 2013, depois dessas longas discussões realizadas nas organizações da CAB e que, por meio do mecanismo federalista, foram estabelecidas como pontos de acordo.

A discussão do tema teoria e ideologia nos parece central, visto que algumas questões são fundamentais. O que é o anarquismo? O que o caracteriza historicamente como tal? Qual é o nosso vínculo com os clássicos anarquistas? O anarquismo é uma ferramenta para teorizar sobre a sociedade, uma prática política que tem por objetivo transformá-la ou ambas as coisas? Devemos utilizar autores de fora do campo anarquista para compreender a sociedade que vivemos? Em que medida nossa maneira de teorizar sobre a sociedade afeta nossa ideologia e vice-versa? Existe socialismo científico? Em suma, trata-se de uma discussão antiga e complexa, que extrapola muito o campo anarquista e que tem por objetivo fornecer respostas para as nossas tentativas de compreender a sociedade em que vivemos e as melhores estratégias para nela intervir, tendo por base nossos princípios e nossa estratégia geral, e visando estabelecer um processo revolucionário de transformação rumo ao socialismo libertário.

Pelo conteúdo dessa discussão, teremos de nos debruçar sobre temas que vêm sendo discutidos há mais de um século: a natureza da produção do conhecimento, as similaridades e diferenças entre as ciências naturais e sociais, as relações entre as teorias sociais e as ideologias e doutrinas políticas, a natureza e o funcionamento da política entre outros. Sabemos que o debate sobre a ideologia vem sendo muito marcado pelas abordagens marxistas e o debate acerca da teoria envolve reflexões epistemológicas complexas. Ou seja: não se trata de uma discussão simples. Por isso, não esperamos esgotá-la aqui e nem mesmo dar a ela uma abordagem acadêmica, que não teria funcionalidade prática. Nosso intuito é refletir sobre o tema em função de nossa prática política e estabelecer ferramentas que contribuam com seu avanço.

Compreendemos que as reflexões aqui colocadas devem estar vinculadas à prática política concreta de nossas organizações e gostaríamos de não ir além daquilo que necessitamos para o momento. Se fizermos isso, corremos o risco de dissociar o cheiro dessa comida dos ingredientes que usamos para cozinhar todos os dias; além disso, temos de ter cuidado para não criar ou aceitar um livro de receitas sem cozinheiros. Não temos por objetivo constituir um sistema teórico-metodológico; nosso objetivo é elaborar um conjunto de ferramentas necessário ao exercício da política, como mediação entre o contexto que vivemos e nosso projeto de sociedade.

Buscaremos, nas linhas a seguir, sustentar as seguintes posições: 1.) A teoria está relacionada ao conhecimento da sociedade e a ideologia a um nível de análise relativamente autônomo que, muitas vezes, se traduz em práticas políticas fundamentadas numa concepção do “vir a ser” da sociedade; 2.) O anarquismo é, portanto, uma ideologia e tem utilizado historicamente distintas teorias sociais para compreender a realidade – assunto que trataremos um pouco mais aprofundadamente no texto “Distintas Abordagens Teóricas dos Anarquistas: a relação entre as esferas sociais”; 3.) Teoria e ideologia constituem as bases da prática política.


TEORIA

Definimos teoria como um conjunto sistemático de conceitos, afirmações e explicações que tem por objetivo proporcionar um conhecimento sobre a realidade. A teoria estrutura, elabora e verifica o saber para descrever a ordem, a regularidade e a organização dos fenômenos que aborda. Ela está vinculada ao processo de conhecer aquilo que de fato é (e não aquilo que deveria ser), e de compreender, o mais rigorosamente possível, diferentes fenômenos que ocorrem em uma determinada realidade.

Quando definimos a teoria dessa maneira, nos aproximamos da definição da FAU: “A teoria aponta para a elaboração de instrumentos conceituais para pensar rigorosamente e conhecer profundamente a realidade concreta.” A FAU ainda relaciona teoria com ciência: “É neste sentido que se pode falar da teoria como equivalente à ciência.” (FAU, “Huerta Grande”) Entretanto, de que ciência falamos? Como concebemos a função científica da teoria?

Mikhail Bakunin e Malatesta possuem reflexões que podem contribuir com essas respostas. Bakunin dizia que “a ciência compreende o pensamento da realidade, não a realidade em si mesma; o pensamento da vida, não a vida” (Bakunin, “Deus e o Estado”). A afirmação de Bakunin nos permite sustentar que as criações da vida cabem à própria vida e que a teoria, como uma forma de pensar sobre a vida, tem sempre uma defasagem em relação a ela; as teorias, em geral, devem sempre buscar um aprimoramento para uma compreensão mais adequada dos fenômenos da vida. Bakunin afirma ainda que “a ciência universal é, pois, um ideal que o homem nunca poderá realizar. Estará sempre forçado a contentar-se com a ciência de seu mundo. [...] A ciência é, todavia, muito imensa para que possa ser dominada por um homem ou por uma geração.” (Bakunin, “Considerações Filosóficas sobre o Fantasma Divino”) Ou seja, nunca conseguiremos ter uma ciência ou teoria geral, que dê conta de toda a realidade; o campo teórico-científico constitui um legado histórico-social e, por isso mesmo, possui suas limitações.

Malatesta, fundamentado em posições semelhantes, concebe o campo teórico-científico, em especial no que diz respeito às análises da sociedade, sempre como um campo provisório, que coloca em xeque o próprio critério de verdade:

“Na ciência, as teorias, sempre hipotéticas e provisórias, constituem um meio cômodo para reagrupar e vincular os fatos conhecidos, e um instrumento útil à investigação, as descobertas e a interpretação de novos fatos: mas não são a verdade. [...] A dúvida deve ser a posição daqueles que aspiram cada vez mais chegar à verdade ou, pelo menos, a essa porção de verdade que é possível alcançar.” (Malatesta, “Anarquismo y Ciencia”)

Os métodos de análise e as teorias sociais devem sempre ter como horizonte a compreensão adequada da realidade, mas esses métodos e teorias não podem ser concebidos como verdades absolutas; não há, nesse sentido, uma teoria de base científica definitiva para a explicação social.

Malatesta também enfatiza que “a missão da ciência é descobrir e formular as condições nas quais o fato necessariamente se produz e se repete: ou seja, é dizer o que é e o que necessariamente deve ser.” (Anarquismo y Ciencia) Essa afirmação reforça o argumento colocado anteriormente, de que o papel da ciência, e, portanto, da teoria científica, relaciona-se sempre a uma explicação daquilo que é, ou, ainda, daquilo que obrigatoriamente deve ser, no sentido da extrapolação dos elementos de previsão da teoria científica; a ciência, conforme a concebe Malatesta, não pode explicar o futuro e nem aquilo que deveria ser, sendo essa uma das características da ideologia. A estratégia anarquista certamente se apóia em explicações estruturais e conjunturais sobre a realidade e, por isso, relaciona-se com a teoria científica; entretanto, seus objetivos finalistas – revolucionários, socialistas e libertários – e os próprios meios estratégicos concebidos para atingir esses fins não pertencem estritamente ao campo científico ou teórico. Podem ter alguma relação, mas não se resumem a ele.

Por esse motivo, compreendemos que não se pode falar em “socialismo científico”; o anarquismo, como uma corrente socialista, ainda que possua relações com a ciência, não pode ser considerado como tal, e nem somente como uma teoria social. O mesmo se pode dizer de outros socialismos. Malatesta critica, nesse sentido, os desdobramentos, em certo sentido positivistas, dessa noção científica de socialismo em suas diferentes correntes, incluindo o anarquismo.

“O cientificismo (não digo a ciência) que prevaleceu na segunda metade do século XIX produziu a tendência de considerar verdades científicas, ou seja, leis naturais e, portanto, necessárias e fatais, o que era somente o conceito, correspondente aos diversos interesses e às diversas aspirações, que cada um tinha de justiça, progresso etc., da qual nasceu ‘o socialismo científico’ e, também, o ‘anarquismo científico’ que, mesmo professados por nossos grandes representantes, sempre me pareceram concepções barrocas, que confundiam coisas e conceitos distintos por sua própria natureza.” (Malatesta, “Anarquismo y Ciencia”)

A nosso ver, Bakunin e Malatesta, por meio dessas contribuições, apresentam elementos que nos permitem colocar algumas respostas às questões anteriores. Falamos de métodos e teorias científicas da sociedade e, nesse sentido, compreendemos que as ciências sociais são distintas das ciências naturais e não podem tomar essas últimas como modelo ideal de ciência (o que nos diferencia dos positivistas e empiristas); as teorias que utilizamos para compreender a sociedade – tenham elas foco estrutural, conjuntural, passado ou presente – devem buscar aprimoramentos permanentes, já que nunca conheceremos a sociedade completamente e não conseguiremos prever certeiramente seu futuro; devemos considerar o campo teórico-científico provisório e de incertezas e temos sempre de estar abertos para ajustar nossos métodos e teorias sociais para compreender a realidade de maneira mais adequada.

Quando Malatesta se refere às confusões de “coisas e conceitos distintos”, ele coloca uma preocupação quanto à confusão de teoria e ideologia, ou seja, sobre o conhecimento da sociedade e as intervenções que se realizam sobre ela. Considerar que o anarquismo não é uma teoria ou uma ciência permite, para cumprir as exigências que a produção teórico-científica nos coloca, que busquemos aportes de outros campos ideológicos; não compreendemos ser imprescindível buscarmos referencial teórico-metodológico somente dentre os autores anarquistas, mesmo porque, entre eles, há diferenças fundamentais. Além disso, entendemos que não há um método e uma teoria inquestionáveis, aplicáveis e reproduzíveis a toda e qualquer situação, em todo e qualquer tempo. Estar abertos a aperfeiçoar métodos e teorias sociais já existentes e utilizar-se de novos é justamente um mecanismo de evitar cristalizações e dogmatismos que transformam a teoria em elemento ideológico. Sem que a experiência possa, por assim dizer, desafiar a teoria, esta passa a ser um dogma que, de forma ilusória, força a realidade, sem dúvida sempre maior que a teoria, a se encaixar num sistema que tudo explica e tudo deduz. A teoria deve ser construída ou aplicada a partir de uma observação atenta da realidade, pois é a partir dessa observação que se pode confrontar a teoria com a realidade e, assim, validá-la, aprimorá-la, ou mesmo descartá-la. A teoria deve estar aberta para o universo que busca explicar: colhe nele confirmação e, se surgem certos dados que a contrariam, passa a fazer verificações (sobre os dados), revisões (sobre seu próprio funcionamento) e modificações (sobre si mesma).

Entendemos que a necessária abertura neste campo exige que utilizemos, mesmo que com critério, outros referenciais teórico-metodológicos que vão para além do campo anarquista. Para nós, a ideologia anarquista deve ser concebida muito mais em termos de princípios político-ideológicos (que não excluem elementos de natureza teórica em seu arcabouço doutrinário) do que por elementos de método de análise e teoria social; portanto, pensamos ser possível, e mesmo desejável, que levemos em conta métodos e teorias que foram ou estão sendo produzidos fora do campo anarquista. Nosso parâmetro para incorporar as contribuições teórico-metodológicas não é se elas possuem ou não a “etiqueta” do anarquismo.

Sabemos, entretanto, que o campo teórico-científico não é neutro. É justamente por entendermos que teorias veiculam valores, ou seja, que há ideologia na teoria, que pensamos que se deve, sempre que preciso, recorrer a ou desenvolver elementos teóricos que contribuam para nossa prática política. Acreditamos que devemos ter cuidado para, nos momentos de interlocução teórica, não importarmos sem querer elementos ideológicos de outras correntes que contrariem nossos princípios ou mesmo nossa estratégia geral. É sob o horizonte de radical transformação social que partimos para entender a realidade e nela intervir. Portanto, não são quaisquer métodos ou teorias que nos servem; ainda assim, devemos estar sempre abertos para utilizar novos elementos que nos ajudem a compreender melhor a realidade e, assim, intervir de maneira mais adequada sobre ela.

Mesmo considerando o campo da teoria provisório e em relação ao qual devemos ter a devida abertura, sabemos que é um engano acreditar que a teoria pode cortar o dado amorfo de qualquer forma. Se parece correto dizer que a teoria está imbricada na construção da realidade, é falso acreditar que ela, por si só, constrói seu objeto. Essa visão é indefensável, mesmo nas ciências da natureza, nas quais a consciência, em geral, não corta o objeto da maneira que quiser, e menos ainda garante que as formas que ela constrói encontrem necessariamente um material que lhes corresponda. Ela se torna absurda quando se trata do campo social. Que não haja um saber definitivo e verdadeiro sobre a sociedade, não quer dizer que não haja nenhum conhecimento social ou que se possa dizer qualquer coisa, que toda teoria é apenas um mero “discurso” ou que vale tudo no campo teórico.

Compreendemos ser necessário tratar a “teoria como uma caixa de ferramentas”, tal como a concebeu Michel Foucault, tratando “de construir não um sistema, mas um instrumento” para a análise social, o qual “só pode se fazer aos poucos, a partir de uma reflexão (necessariamente histórica em algumas de suas dimensões) sobre situações dadas”. (Foucault, “Estratégia Poder-Saber”) Temos por objetivo fundamental, no campo teórico-metodológico, construir essa caixa de ferramentas, capaz de nos proporcionar, nos momentos necessários, o ferramental mais adequado para compreendermos a realidade social.

Entretanto, a teoria tem para nós uma função: ela deve subsidiar nossa prática política e, ao mesmo tempo, alimentar-se dela. “Se não nos serve para produzir novos conhecimentos úteis para a prática política, a teoria não serve para nada, se converte em mero tema de palestra improdutiva, de estéril polêmica ideologizante.” (FAU, “Huerta Grande”) Consideramos, pois, de suma relevância a relação entre a teoria e a prática. A teoria deve estar vinculada com aquelas áreas em que damos combate por meio de nossa militância; caso contrário, acabaremos apenas teorizando por puro esporte ou sem vínculos com nossa militância. Precisamos discutir como fazemos as análises da realidade, a partir de que marco constituímos nossa prática política e por meio de que ferramental. Temos, claramente, de exercitar constantemente o trabalho teórico em nossas organizações. E quanto mais conectada com a prática, mais a teoria conseguirá dar conta do real e, deste modo, ser útil e adequada; quanto mais afastada de uma prática política concreta, corre o sério risco de tornar-se excêntrica e incompreensível, assumindo feições que permanecem no campo do abstrato, da filosofia pela filosofia e inviabilizam essa análise que buscamos da realidade. Mas a teoria, estando imbricada com a necessidade de dar respostas às situações da luta política-social não pode também ser produzida apenas como justificativa para ela. Devemos, ao mesmo tempo, verificar como a teoria subsidia e orienta a intervenção político-social. A prática político-social pode conduzir a formulação teórica à falsidade, com esta virando mero recurso sofisticado de justificativa de ações e não como instrumento de conhecimento da realidade. Por isso, é importante compreender que o problema teórico não se resolve simplesmente pela militância social em sentido estrito. Não compreendemos a teoria sem sua implicação com a mudança social e nem como justificativa de uma prática política.

Para uma organização política, a teoria é relevante exatamente por permitir um conhecimento adequado da realidade em que ela atua e, portanto, a escolha de meios coerentes com os fins que ela deseja atingir. Conhecer um determinado contexto permitirá à organização política que ela trace suas estratégias e táticas sabendo mais ou menos exatamente de onde ela parte e aonde quer chegar, tratando, para isso, de estabelecer os caminhos mais adequados. Desconhecer de onde partimos pode implicar equívocos estratégicos e, assim, com que não caminhemos rumo aos objetivos que almejamos.


IDEOLOGIA

Discutir a ideologia, para nós, implica diferenciar duas abordagens que temos utilizado: a primeira, no sentido mais amplo, da ideologia como parte da esfera ideológica/cultural, e, portanto, das idéias, representações e valores que são produzidos e reproduzidos nos imaginários dos distintos sujeitos sociais; a segunda, em sentido mais restrito, da ideologia como doutrina, e, portanto, como conjuntos de pensamento e ação desenvolvidos historicamente e que atuam politicamente no jogo de forças da sociedade, o qual é responsável pelo estabelecimento das relações de poder. Trataremos a seguir de ambas as abordagens.

A ideologia como elemento da esfera cultural/ideológica

Consideramos que vivemos em um sistema com uma determinada estrutura e que podemos pensar na representação desse conjunto sistêmico-estrutural por meio da interação entre três esferas fundamentais: econômica, política/jurídica/militar e cultural/ideológica.

Por isso, discutir a ideologia, nesse sentido amplo, implica algumas noções que estão relacionadas a essa terceira esfera do campo social, que tem por base as noções de cultura e ideologia. A cultura está relacionada com as atitudes, normas, crenças, mais ou menos compartilhadas pelos membros de uma sociedade. Envolve conhecimentos, arte, moral, costumes e hábito, e possui relação com as instituições sociais, a forma de vida em sociedade, as existências familiares, os laços, os vínculos e as perspectivas. A ideologia diz respeito a tudo o que circula no campo das idéias e das subjetividades. Os sentimentos de religiosidade e o mundo das utopias e das aspirações do ser humano se encontram neste nível. Os conteúdos das mensagens, a estética e valores contidos na comunicação e na cultura também estão neste nível. Essa esfera, portanto, relaciona-se ao campo das idéias, das subjetividades e do simbólico.

É fundamental tomar em conta o processo de constituição histórica e social dessas das idéias, representações e valores que são produzidos e reproduzidos nos imaginários dos distintos sujeitos sociais. Entretanto, ainda que a ideologia vincule-se às condições histórico-sociais, ela não emana mecanicamente delas. A ideologia “requer um desenvolvimento determinado de sua análise para que não fique relegada ao aparato ideológico que se apóia nas relações entre infra e superestrutura, e nem nesse caráter a ela tão comumente atribuído de distorcer, mascarar a ‘realidade’ e a ‘racionalidade’.” (FAU-FAG, “Wellington Gallarza e Malvina Tavares”) Não consideramos que a esfera cultural/ideológica seja, pura e simplesmente, um reflexo mecânico das outras esferas, e, se por um lado ela sofre determinação econômica e política, por outro, produz e reproduz elementos relevantes para a constituição estrutural e sistêmica de nossas sociedades.

“Em determinados momentos históricos, se produz, fortemente, um conjunto articulado de idéias, representações, noções no interior do imaginário dos distintos sujeitos sociais. É este conjunto articulado de caráter imaginário, que toma a forma de ‘certezas’ defendidas pelos próprios sujeitos sociais. Isso é o que pode transformar esses sujeitos em protagonistas de sua própria história ou em sujeitos passivos e/ou disciplinados pelas forças dominantes. É isso que chamamos de ideologia. Assim, a ideologia tem a ver diretamente com a constituição histórica dos sujeitos sociais e com a forma como eles se expressam na sociedade. É algo bem distinto da noção que a ideologia seja a falsificação da realidade, justamente porque ela é um dos componentes fundamentais de qualquer realidade social.” (FAU-FAG, “Wellington Gallarza e Malvina Tavares”)

A ideologia constitui, assim, um elemento relevante da realidade social. Se ela não emana mecanicamente de condições econômicas e políticas, devemos ter em mente que o trabalho de produção ideológica, de produção de uma ideologia de transformação, é relevante para nossa proposta de transformação social. Também não queremos ir para o outro oposto, que seria considerar que a esfera cultural/ideológica é a mais relevante e determina necessariamente todas as outras; não será o mero combate cultural e ideológico que proporcionará as transformações sociais que desejamos, uma vez que “é a idéia que deve animar a vontade, mas que são necessárias determinadas condições para que a idéia possa nascer e agir”. (Malatesta, “‘Idealismo’ e ‘Materialismo’”) Além disso, deve-se pontuar que a esfera cultural/ideológica possui um ritmo de transformação mais lento que as outras, e que ela conta com elementos não-racionais. Numa estratégia coerente, as mudanças ideológicas devem ser concebidas tomando em conta ambos os fatores.

Temos que ter por objetivo, no que diz respeito a essa esfera, construir outros sujeitos sociais com outras idéias, representações e outros valores, tomando em conta nossa experiência classista.

“Nossa vontade de transformação e nossas intenções conformam um imaginário social e político de matriz revolucionária. Pensar nesse imaginário apenas como um modelo acabado e definido (uma ideologia mais ou menos consciente) já prescrito nos livros e brochuras é ignorar toda uma tradição popular que se assenta na resistência histórica da classe.” (FARJ. “A OEA como Conseqüência do Acúmulo Organizativo”)

As práticas que envolvem o campo ideológico e que se apóiam em valores como liberdade e emancipação nos parecem centrais para modificar as noções atualmente vigentes, que se materializam nos corpos e nas mentes dos distintos sujeitos. Acreditamos ser relevante refletir se estamos, de fato, produzindo e reproduzindo uma ideologia libertária e socialista, ou se estamos apenas reproduzindo a ideologia vigente de nosso sistema de dominação.

A ideologia como doutrina e o anarquismo

Discutir a ideologia como doutrina – e, portanto, como conjuntos de pensamento e ação desenvolvidos historicamente e que atuam politicamente no jogo de forças da sociedade, o qual é responsável pelo estabelecimento das relações de poder – e situar o anarquismo como uma ideologia implica, também, algumas noções.

No terreno da política está em jogo uma interação dinâmica do atuar e do saber, que não pode ser exatamente mensurada. É tipo uma “zona parda” onde é difícil determinar uma cor em estado puro. O conceito de doutrina está justamente nesta área que indicamos brevemente. Devemos lembrar que as ideologias podem derivar em política tal como conceituamos, mas também tem suas manifestações em outras formas, como a religião, para nos referir a um caso comum e corrente. Para nossos fins, a doutrina como sistematização racional de elementos ideológicos já é produto das interações do imaginário social – em suas formas “pré-reflexivas” – com certos elementos de interpretação teórica. Os “princípios” estão formados na região entrecruzada da política.

No sentido político-doutrinário, “a ideologia é pensamento e ação” (FAU, “O que é Ideologia”) e, assim, não pode ser concebida como pensamentos ou ações tomados separadamente. O anarquismo, assim, constitui uma ideologia que contém elementos de natureza doutrinária, política e teórica interagindo dinamicamente.

“O anarquismo constitui uma corrente de pensamento e tradição de luta socialista, se inserindo como uma variante das idéias e práticas construídas nesse campo. Ao longo de sua história, firmou determinados preceitos ideológicos que lhe deram um estilo e traçou metas. O anarquismo surge, então, como proposta de luta (articulando preceitos político-organizativos e teórico-ideológicos) em favor do interesse histórico dos trabalhadores.” (CAZP. “Declaração de Princípios”)

O anarquismo é composto de um conjunto de pensamentos e ações articulado sistematicamente. Implica idéias, aspirações, valores, sentimentos e motivações que interagem com as práticas políticas. A ideologia anarquista fornece as bases estratégicas para intervenções políticas que têm como objetivo transformar as relações de poder; ela inclui meios (estratégias) de se alcançar seus horizontes revolucionários, o que se traduz, em termos históricos, na prática política. Essa prática política parte de três elementos fundamentais:

“1. A formulação de um objetivo finalista (que deve ser explicado da maneira mais clara possível). 2. A apreensão ou compreensão definida da realidade em que se vive, por meio de sua análise profunda e exaustiva. 3. A previsão mais aproximada possível do futuro desta realidade, de sua transformação, tanto naquilo que seja espontâneo, quanto deliberado. Ou seja, em nosso caso, a ideologia não admite o caráter de espectador interessado e analítico das condições ou transformações espontâneas da realidade, mas nos obriga a pensar voluntariamente, voluntariosamente, no sentido de seu futuro.” (FAU, “O que é Ideologia”)

A ideologia anarquista, no intuito de intervir politicamente na realidade, com vistas a transformar as relações de poder, estabelece objetivos, leituras da realidade, estratégias e táticas adequadas para tal intervenção. Seus objetivos são socialistas e libertários e apontam para a criação de um sistema federalista e autogestionário; suas leituras da realidade estabelecem críticas, estruturais e conjunturais, dos sistemas de dominação; suas estratégias são coerentes com seus objetivos e revolucionárias.


TEORIA E IDEOLOGIA

Tendo definido e discutido brevemente os conceitos de teoria e ideologia com os quais trabalhamos, queremos, neste momento, relacioná-los, já que mesmo os distinguindo, não os consideramos conceitos estanques; eles certamente possuem relações. Retornamos aqui ao argumento apresentado no início desse texto, de que “a teoria está relacionada ao conhecimento da sociedade e a ideologia a um nível de análise relativamente autônomo que, muitas vezes, se traduz em práticas políticas fundamentadas numa concepção do ‘vir a ser’ da sociedade”; retomaremos aqui essa distinção e colocaremos algumas questões que nos permitam pensar a relação entre teoria e ideologia. Em primeiro lugar, podemos afirmar que, tomando em conta a ideologia anarquista, “à teoria compete a função de compreensão da realidade passada e presente; à ideologia compete a função de intervir sobre a realidade presente, no intuito de transformá-la”. (OASL, “Declaração de Princípios”)

Reforçamos a necessidade, para uma prática política coerente, de diferenciar os conceitos de teoria e ideologia; conforme buscamos demonstrar, a primeira está relacionada ao campo do conhecimento, da ciência, e a segunda ao campo da doutrina, da política. A teoria deve buscar responder o que é, e a ideologia tem como função ser um combustível que impulsione a prática política em relação a um vir a ser, aquilo que gostaríamos que fosse. A primeira relaciona-se ao conhecimento do passado e do presente e, eventualmente, de prognósticos “certeiros” em relação ao futuro (ainda que, reforcemos, no campo social esses prognósticos certeiros sejam bastante questionáveis); a segunda relaciona-se a uma perspectiva de futuro e de uma adequação estratégica entre os dados sistematizados pela primeira e os objetivos finalistas estabelecidos pela segunda – trata-se do estabelecimento de meios para sair de onde estamos e chegar aonde queremos.

“A teoria torna precisa, circunstancializa as condicionantes da ação política: a ideologia motiva-a e a impulsiona, configurando-a em suas metas ‘ideais’ e seu estilo. Entre teoria e ideologia existe uma vinculação estreita, já que as propostas destas se confundem e se apóiam nas conclusões da análise teórica. Uma ideologia será tanto mais eficaz como motor da ação política, quanto mais firmemente se apóie nas aquisições da teoria.” (FAU, “Huerta Grande”)

A ideologia no sentido político-doutrinário, essencialmente pensamento e ação, apresenta distintos elementos de ordem não-científica, como aspirações, valores, sentimentos, motivações, que impulsionam práticas políticas determinadas. A teoria, distintamente, se relaciona com método de análise e teoria social e busca elaborar instrumentos conceituais para conhecer a realidade em profundidade, tendo de fazer isso com a maior precisão possível, e buscando aproximar-se ao máximo da ciência. Entretanto, essa “vinculação estreita” entre teoria e ideologia nos permite afirmar que, de um ponto de vista social e histórico, o anarquismo também foi conformado por elementos de crítica social, postulados teóricos que se expressaram na sua crítica da sociedade; críticas que, em boa medida, eram patrimônio comum de todo o campo socialista.

Podemos afirmar, a partir desses conceitos discutidos, que, para nós, o anarquismo se define pela perspectiva de certeza ideológica e dúvida teórica permanente. Por um lado, trata-se de conservar permanentemente princípios ideológicos que nos são fundamentais; por isso, não somos “antidogmáticos” em relação a nossos princípios, que norteiam nossos pensamentos e nossas ações e são inegociáveis. Por outro, trata-se de buscar as ferramentas mais adequadas para compreender a realidade que desejamos transformar, com significativa abertura e postura antidogmática; como colocamos, não constitui uma obrigação interpretar a realidade por meio de ferramentas desenvolvidas por anarquistas. Assim, para nós, certeza ideológica não acarreta certeza teórica.

A dúvida teórica nos permite sempre procurar novas ferramentas quando a realidade nos coloca novos desafios para a atuação militante. Isso não significa aderir a qualquer teoria, mas analisar as teorias passadas e presentes e investigar se algumas das suas explicações e predições lançam luz principalmente sobre erros que cometemos, porque encontramos limitações para ler a realidade em situações concretas de atuação. Se a teoria não contribui para a nossa prática política, não há porque adotá-la. Se há fatos que determinado método ou teoria social não explicam, estes precisam ser revistos; falamos aqui em fatos como a realidade social em que estamos inseridos e consideramos que a humanidade desenvolveu diversas maneiras de compreender fatos que ocorreram em determinados momentos históricos. Ao mesmo tempo, se não podemos querer encaixar a realidade na teoria, devemos também ter o cuidado de não trabalhar a realidade de maneira pragmática, considerando que ela, por si só, oferece as respostas, sendo, nesse caso, a teoria apenas um acessório.

Se nossa teoria não consegue explicar como a realidade social está se desenvolvendo, quais suas relações, ela não irá ajudar na nossa estratégia de transformação social. Da mesma maneira, uma prática política que se desvia dos nosso princípios e/ou é fruto de uma avaliação teórica equivocada não pode gerar uma nova teoria que a justifique, pois, da mesma maneira, estaríamos incorrendo em erro.

Assumir um único método ou uma única teoria social – que, conforme argumentamos, estão, para nós, no campo da teoria – como princípio ideológico, significa privar-se de compreender a realidade como ela é e adotar uma postura enviesada de interpretar a realidade como gostaríamos que fosse; isso não possui qualquer senso de realidade e, muito menos, de ciência.

Confundir teoria e ideologia significa incorrer em alguns erros fundamentais: amarrar-se em métodos e teorias que têm obrigação de explicar a realidade, ainda que a realidade coloque em xeque esse próprio método e essa própria teoria – ou seja, elevar elementos de ordem teórica ao status ideológico e correr seriamente o risco de não interpretar a realidade da melhor maneira possível; acreditar que métodos e teorias podem prever cientificamente o futuro e arrogar-se a uma posição que já foi contestada pela própria realidade histórico-social – não podemos ter certeza do que ocorrerá no futuro, mas temos maneiras de estabelecer tendências e possibilidades sobre o “para onde caminha a realidade”; privar-se dos aportes teóricos que surgem provindos de outros meios e que, não sendo considerados parte de nossa ideologia, são rechaçados – uma avaliação ideológica de algo teórico; prejudicar a prática política por razão de uma leitura da realidade mal feita e, portanto, equivocar-se estrategicamente nos melhores meios para se atingir os fins estabelecidos.

Trata-se, portanto, de manter as nossas certezas ideológicas que estão relacionadas à nossa vontade de transformação social e a serenidade crítica e a abertura necessárias para o conhecimento que queremos ter da realidade. Afinal, distinguir ideologia de teoria não significa afirmar que qualquer abordagem teórico-metodológica possui a mesma eficácia; certamente há algumas mais adequadas que outras. E devemos, em nossas reflexões teóricas, buscar construir essa “caixa de ferramentas” que nos permita, por meio de métodos e teorias sociais, interpretar a realidade da melhor maneira possível, permitindo que nossas estratégias e táticas sejam as mais adequadas.

Consideramos, também, que devemos tomar em conta a inter-influência entre teoria e ideologia pois, conforme colocamos, ainda que os tratemos como conceitos distintos, eles se relacionam. Nesse sentido, não devemos considerá-los como elementos estanques e completamente apartados.

“Entre teoria e ideologia existe uma vinculação estreita, já que as propostas destas se confundem e se apóiam nas conclusões da análise teórica. Uma ideologia será tanto mais eficaz como motor da ação política, quanto mais firmemente se apóie nas aquisições da teoria.” (FAU, “Huerta Grande”)

A teoria é influenciada pela ideologia de diversas maneiras. Não sustentamos a neutralidade da teoria; assim, consideramos que os métodos e as teorias – o campo teórico de maneira geral, incluindo suas categorias, conceitos, questões, seleção dos fatos da realidade – possui motivações ideológicas que terminam tendo influência sobre ele. Essa influência pode ser notada pelas intenções e interesses que norteiam a produção teórica – ou seja, para quê e para quem essa teoria é produzida e com que objetivo. A ideologia é influenciada pela teoria também, de distintas formas. Na elaboração dos princípios e estratégias fundamentais de uma determinada ideologia, há elementos de ordem teórica em sua elaboração que, dependendo da maneira que forem modificados, podem colocar em xeque o próprio cerne de uma ideologia. Por exemplo: a adoção de teorias que considerem não haver classes na sociedade pode colocar em questão o princípio classista do anarquismo.

O “fato como é” que estuda a teoria também guarda disposições ideológicas do “como deve ser”, dos mecanismos de verdade que jogam na formação do real – social e historicamente – e do futuro atualizado e reatualizado nas crenças e valores que constituem um sujeito na sua condução da vida cotidiana. Por exemplo, o modo de vida que atualiza o capitalismo é também um “como deve ser”, tem uma indiscutível direção moral sobre o que acontece. Por sua vez, a ideologia não é só um “vir a ser” mas também e não menos importante, uma incorporação de tal sentido em disposições de comportamento, hábito, conduta moral. É um “estilo militante”, como dizemos em política; um jeito do fazer, uma atitude prefigurativa que parte do agora e se molda no cotidiano por relações de sentido que nem sempre estão mediadas pelo consciente ou o racional; que pode ser interpelada por um discurso teórico como elucidação, como princípio de lucidez, mas que sempre transborda as suas categorias formais.


TEORIA, IDEOLOGIA E PRÁTICA POLÍTICA

Em conclusão, queremos afirmar que teoria e ideologia constituem as bases da prática política anarquista.

Nossa prática política envolve elementos de ordem teórica e ideológica: temos determinados princípios e uma estratégia geral, que constituem elementos essencialmente ideológicos; realizamos leituras estruturais e conjunturais, do passado e do presente, e tentamos estabelecer alguns prognósticos, que constituem elementos essencialmente teóricos; buscamos conciliar nossos objetivos finalistas com nossa leitura da realidade e, por meio de uma prática política, transformar a sociedade presente na sociedade que desejamos para o futuro sendo, para isso, fundamentais outros elementos de ordem teórica e ideológica.

Nossa prática política deve, por isso, manejar adequadamente os conceitos de teoria e ideologia, sabendo diferenciá-los e/ou reconhecer sua influência, a depender das circunstâncias.

Em termos gerais, podemos dizer que a teoria abarca o “como” vamos analisar e produzir conhecimento sobre o campo social-histórico, a ideologia refere-se a um nível da análise que tem sua “autonomia relativa” e que está em interdependência no conjunto da estrutura global; ela, em geral, contém uma perspectiva de futuro – vinculada, em nosso interesse, à prática política, ganha traços de doutrina.

Fazendo isso, compreendemos poder potencializar nossa intervenção e nosso projeto de poder popular, avançar em relação à nossa estratégia geral. Como afirmamos anteriormente: “A CAB tem por objetivo impulsionar um projeto de poder popular nas localidades em que atua, fazendo do anarquismo a centelha que deve incendiar os movimentos populares, rumo ao nosso ideal de socialismo e liberdade.” (CAB, “Nossa Concepção de Poder Popular”)

Para isso, entendemos como um próximo passo caminhar na construção de nossa caixa de ferramentas teóricas e na elaboração programática de nossa estratégia nacional.

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