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Honduras: o imperialismo e o ´bolivarianismo´ contra a luta popular

category américa central / caribe | imperialismo / guerra | other libertarian press author Thursday September 10, 2009 11:44author by UNIPA Report this post to the editors

Honduras: o imperialismo e o ´bolivarianismo´ contra a luta popular anti-golpe

Jornal Causa do Povo - n. 50 - agosto de 2009 - União Popular Anarquista - Brasil

No dia 28 de junho, o presidente de Honduras Manuel Zelaya foi seqüestrado e mandado pra fora do país por militares encapuzados. Foram tomadas estações de radio e televisão, palácio e órgãos de governo, estradas, etc. Praticamente toda a capital Tegucigalpa amanheceu cheia de tanques, aviões, helicópteros e patrulhas de militares armados. A Junta golpista declarou Roberto Micheletti do Partido Liberal, o mesmo partido de Zelaya, como novo presidente.

Este golpe lembra os golpes que colocaram no poder as ditaduras em quase toda a América Latina dos anos 1960 até fins dos 80. Foi arquitetado pela cúpula das prin- cipais organizações políticas da burguesia de Honduras, os partidos Liberal e Nacional, a Corte Suprema, o Congres- so, meios de comunicação, estado-maior das forças arma- das, Igreja Católica, sociedades “civis” e a embaixada dos EUA. O que tem de novo, porém, é a reação ao golpe. Nos dias seguintes, formou-se uma ampla frente de de- núncia: dentre outros, Lula, Chavez, Fidel Castro, Álvaro Uribe, OEA, União Européia, ONU, e o próprio Barack Obama defenderam a volta de Zelaya. Junto com eles, no Brasil, PT, PCdoB, Psol, PSTU, centrais e movimentos go- vernistas.

Base histórica do imperialismo e “república das bananas”

Honduras é o terceiro país mais pobre das Améri- cas. Sete de cada dez pessoas vivem em situação de po- breza e extrema pobreza. Está na periferia do capitalismo e sua economia está baseada nos latifúndios exportado- res de banana e café. É extremamente dependente: 70% do seu comercio externo é de exportação para os EUA e 55% é importado de lá, em geral bens industrializados. Nos últimos anos, acompanhando as reestruturações do capital no seu atual estágio ultra-monopolista, começou a ter um setor de maquiladoras têxteis, ou seja, a implantar fábricas que se espalharam pelo mundo e que se baseiam na superexploração do trabalho, exportando produtos sub- sidiários na cadeia de produção controlada por mega corporações.

Honduras foi a principal base de ações do imperialis- mo na América Central. Seus militares, inclusive os golpistas, foram treinados na famosa Escola Militar das Américas. Possui uma base militar dos EUA a menos de 100 km da capital. Foi sede para o imperialismo armar, financiar e fo- mentar a sangrenta repressão aos movimentos populares e guerrilheiros na Nicarágua, El Salvador, Cuba, etc. Em 2005, assinou o Tratado de Livre Comercio (TLC) com os EUA que permitiu sua quase completa dependência políti- ca e econômica. Latifundiários ultra-reacionários contro- lam a política burguesa oficial.

Os EUA, o neocaudilhismo “bolivariano” de Manuel Zelaya e a luta popular anti-golpe

O golpe teve participação e conivência dos EUA, como praticamente tudo que acontece politicamente em Honduras, ao contrário das mentiras propagadas pela mídia burguesa e aliados. Os EUA financiam diretamente as pró- prias entidades “civis” que servem de base para o golpe, como a “Paz e Democracia”, através da famosa agencia americana para o desenvolvimento, USAID, com mais de 50 milhões de dólares/ano. Negociações diretas entre o embaixador americano e o bloco golpista já estavam em curso meses antes.

O governo Obama não foi surpreendido. Porém, o im- perialismo dos EUA está sob outras condições das que tinha na Guerra Fria. Não tem mais condições políticas para defender abertamente um golpe deste tipo na América Latina. Obama mantém ocupações militares no Haiti, Iraque e Afeganistão sob o discurso da “democracia”; luta contra outros blocos imperialistas na própria América Latina, Eu- ropa oriental, Ásia e África; tem que enfraquecer as bra- vatas e alianças lideradas por Hugo Chavez e ao mesmo tempo tem que manter em seu campo de influência o bloco “rosa” de Lula, Bachelet e seus amigos. Neste sen- tido, o golpe não é um fim, mas um meio que a burguesia hondurenha teve para neutralizar o presidente Zelaya e seu projeto caudilhista, baseado numa tentativa atrapa- lhada de mudança de alianças políticas. É uma luta entre facções da burguesia.

Zelaya é um “traidor” da oligarquia e um caudilho qua- se clássico, que, sem apoio ao seu projeto de mudança constitucional e continuidade na presidência entre a bur- guesia local, ligada diretamente aos EUA, tentou obter apoio externo com os governos burgueses ditos “bolivarianos” e “anti-imperialistas”. Fazendeiro, líder políti- co do empresariado desde 1970, se elegeu apoiando o TLC e a plataforma do Partido Liberal. Ficaria na presidên- cia até 2010, mas, nos últimos anos veio a se aliar ao chavismo. Entrou para a Petro-Caribe e a “ALBA” (Alterna- tiva Bolivariana para as Américas), aumentou o salário mí- nimo e começou a fazer um discurso de “defesa dos ne- cessitados”, louvação a Deus, crítica dos EUA e apoio a Cuba. O golpe se deu quando ele tentava fazer um refe- rendo para mudar a Constituição que foi considerado “ile- gal” às vésperas da eleição marcadas pra novembro.

Obama evitou classificar como “golpe” o episodio, o que significaria, nas leis dos EUA, interromper imediata- mente a ajuda militar e econômica ao governo golpista e manteve seu embaixador no país. A Secretaria de Estado Hillary Clinton declarou em 7 de julho: “Acabo de celebrar uma reunião produtiva com o presidente Zelaya... Reite- rei a ele que os Estados Unidos apóiam a restituição da ordem constitucional em Honduras. Seguimos apoiando os esforços regionais através da OEA para conseguir uma resolução pacífica segundo as normas da Carta Democrática. Chamamos a todas as partes a não cometer atos de violência e a buscar uma solução pacífica, constitucional e estável às sérias divisões em Honduras, por meio do diálogo. Para esse fim, temos trabalhado com nossos sócios no hemisfério para estabelecer uma negociação, um diálogo que poderia desembocar numa resolução pacífica” (H. Clinton, grifado por Eva Golinder para Rebelión).

Sendo assim, até o fim das “negociações” e as eleições, os EUA e a burguesia hondurenha aliada acabariam com a tentativa de constituinte e jogam por terra a tentativa de reeleição de Zelaya. Porém, a luta popular anti-golpe em Honduras explodiu e deu origem às maiores mobilizações da historia de Honduras. As manifestações nas cidades e no campo levam jovens, camponeses e trabalhadores para as ruas e acirram a luta de classes. O exército impôs toque de recolher e começou a assassinar lideranças sindicais e populares. Correspondentes classistas afirmam que a limitação desta luta está justamente em Zelaya que, através de seus aliados, estaria condenando a “violência” e clamando pela luta “pacífica”.

O governismo e o golpe no Brasil

Neste contexto, ao invés de apoiar o avanço da luta anti-golpe, o governismo brasileiro mostra a quem serve, fazendo coro com os EUA, exigindo que se restabeleça a “ordem constitucional” e que Zelaya volte ao poder, respeitando-se o “processo popular e democrático” em Honduras contra o “retorno das oligarquias ditatoriais ao poder” (Carta aberta ao Consulado de Honduras e ao Povo Hondurenho, 30/06/09, assinada, dentre outros por PT, PCdoB, MST, CUT, UNE, CTB, Consulta Popular e PSOL).

O PSTU/LIT, apesar de caracterizar Zelaya como um latifundiário e seu governo como burguês, afirma que ele foi eleito pela “vontade popular” e que as eleições que o levaram ao poder “devem ser respeitadas”. Em seguida, defende que Zelaya seja restituído e que, com a derrota do golpe, se convoque uma “Constituinte democrática e soberana” (site da LIT). Com isso, na prática e no discurso, todos estão unidos contra o protagonismo popular das lutas anti-golpe, defendendo as eleições burguesas, o oportunismo e o charlatanismo chavista “bolivariano” e o caudilho Zelaya.

Só o povo hondurenho pode fazer avançar as lutas, destruir o golpe imperialista e o governo burguês de Zelaya.

Abaixo o golpe! Abaixo Mel Zelaya! Viva a Luta do Povo Hondurenho!

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