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Especifismo: Organização Anarquista, Perspectivas Históricas e Influências

category brazil/guyana/suriname/fguiana | movimento anarquista | policy statement author Wednesday December 03, 2008 15:07author by Federação Anarquista do Rio de Janeiro - FARJ Report this post to the editors
Desde que o termo “especifismo” chegou ao Brasil, ainda em meados da década de 1990, houve uma série de polêmicas ou mesmo de confusões em torno dele. Houve, e infelizmente ainda há, pessoas que dizem que o especifismo não é anarquismo, acusam as organizações especifistas de serem partidos políticos, dentre outros absurdos. Quando reivindicamos a FARJ como uma organização anarquista especifista, estamos buscando, mais do que qualquer outra coisa, situar dentro da discussão sobre organização anarquista, quais são as posições que defendemos.

ANARQUISMO SOCIAL E ORGANIZAÇÃO

ESPECIFISMO: ORGANIZAÇÃO ANARQUISTA, PERSPECTIVAS HISTÓRICAS E INFLUÊNCIAS

A ausência de organização visível, normal e aceita
por cada um de seus membros torna possível o
estabelecimento de organizações arbitrárias,
menos libertárias.

Luigi Fabbri

Desde que o termo “especifismo” chegou ao Brasil, ainda em meados da década de 1990, houve uma série de polêmicas ou mesmo de confusões em torno dele. Houve, e infelizmente ainda há, pessoas que dizem que o especifismo não é anarquismo, acusam as organizações especifistas de serem partidos políticos, dentre outros absurdos. Quando reivindicamos a FARJ como uma organização anarquista especifista, estamos buscando, mais do que qualquer outra coisa, situar dentro da discussão sobre organização anarquista, quais são as posições que defendemos.

O termo especifismo foi criado pela Federação Anarquista Uruguaia (FAU) e, por ele, nos referimos a uma concepção de organização anarquista que possui dois eixos fundamentais: organização e trabalho/inserção social. Estes dois eixos estão baseados nos conceitos clássicos do anarquismo de atuação diferenciada nos níveis político e social (conceito bakuninista) e de organização específica anarquista (conceito malatestiano). Portanto, o termo especifismo, apesar de ter sido concebido recentemente, refere-se às práticas organizacionais anarquistas que existem desde o século XIX. Além desses dois eixos, há uma série de outras questões organizacionais que são definidas dentro do especifismo e que buscaremos desenvolver em seguida. Portanto, as duas principais referências clássicas do especifismo são Bakunin e Malatesta. Isso não significa que desconsideremos outros importantes teóricos como Proudhon e Kropotkin – utilizamos neste texto muitas referências teóricas deles – mas acreditamos que, para a discussão de organização anarquista, Bakunin e Malatesta possuem propostas mais adequadas para nossa atuação.

Nos próximos parágrafos, pretendemos retomar de maneira breve algumas discussões que fizemos ao longo deste texto, e principalmente deste último capítulo, situá-las e compará-las com outras posições existentes dentro do anarquismo. Acreditamos que mais do que afirmar as posições que defendemos – o que fizemos até aqui – cabe realizarmos algumas críticas fraternais a outras concepções de organização (ou de desorganização) presentes no anarquismo e comparar, com base em alguns pontos escolhidos, nossa concepção com outras.

Talvez o melhor contraponto com o modelo de organização especifista, seja o que chamamos de modelo de síntese, ou sintetismo. Este modelo foi formalizado teoricamente em dois documentos homônimos, chamados “A Síntese Anarquista”, um de Sebastièn Faure e outro de Volin. Histórica e mundialmente, foi a Plataforma do Dielo Trouda que estabeleceu este contraponto. Pretendemos retomar parte deste debate sobre organização anarquista, apesar de, na nossa concepção, o especifismo ser mais amplo que o plataformismo – ainda que possua sua significativa influência.

A síntese defende um modelo de organização anarquista em que estejam todos os anarquistas (anarco-comunistas, anarco-sindicalistas, anarco-individualistas etc.) e, portanto, apresenta muitas das características que criticaremos a seguir. Sabemos que várias destas características não estão necessariamente ligadas ao modelo sintetista de organização. No entanto, é inegável que muitas delas se reproduzam em organizações deste tipo, principalmente por influência do individualismo, mas não somente dele. Reconhecemos que dentro de organizações sintetistas também há militantes sérios e compromissados com o anarquismo social e, portanto, não queremos que as críticas pareçam generalizadas. Apesar de nunca questionarmos se estas organizações são anarquistas (para nós, todas elas são), elas, na maioria dos casos, não convergem com nossa maneira de pensar a organização anarquista.

Antes de tudo, quando tratamos neste texto da “organização específica anarquista”, a partir desta perspectiva especifista, não estamos falando de qualquer organização de anarquista. Há diversas organizações anarquistas que não são especifistas. Portanto, o especifismo implica em muito mais do que se defender a organização anarquista.

Tratemos das diferenças entre o especifismo e outras formas de organização anarquista.

A primeira diferença está na forma de entender o próprio anarquismo. Como pontuamos no início deste texto, entendemos o anarquismo como uma ideologia, ou seja, um “um conjunto de idéias, motivações, aspirações, valores, estrutura ou sistema de conceitos, que possuem uma conexão direta com a ação – o que chamamos de prática política”. Neste caso, buscamos diferenciar esta compreensão de anarquismo de uma outra, puramente abstrata e teórica, que estimula somente o livre pensar, sem necessariamente conceber um modelo de transformação social. O anarquismo pensado somente a partir deste modelo de observação crítica da vida, oferece uma liberdade estética e de possibilidades infinitas. No entanto, se assim for concebido, não oferece possibilidades reais de transformação social, visto que não é colocado em prática, em ação. Não possui a prática política que busca os objetivos finalistas.

O especifismo defende um anarquismo que, como ideologia, busque conceber um modelo de atuação que transforme a sociedade de hoje no socialismo libertário por meio da revolução social. Este processo, necessariamente, passa pela organização das classes exploradas em organização popular e exige a utilização da violência, entendida fundamentalmente como resposta à violência do atual sistema. Outras correntes anarquistas são contra a violência e acreditam que a transformação social pode se dar de outras maneiras.

Outra diferença está em torno da própria questão da organização. Para nós, a organização é uma questão absolutamente central ao tratarmos de anarquismo. Sem ela, acreditamos ser impossível conceber qualquer projeto político sério e que tenha por objetivo chegar à revolução social e ao socialismo libertário.

Há correntes anarquistas sustentam posições “anti-organização”, ou mesmo espontaneístas, e acreditam que qualquer forma de organização é autoritária ou avessa ao anarquismo. Para estas correntes, a formação de uma mesa para coordenar uma assembléia é autoritária, a formação de um grupo para trabalhar nos movimentos sociais é autoritária. Enfim, para estes anarquistas, as lutas devem se dar de maneira espontânea, os ganhos, caso vierem, deverão vir de maneira espontânea, a conexão entre lutas deve ser espontânea e o mesmo o capitalismo e o Estado, se forem derrubados, será por uma mobilização espontânea. Talvez, ainda, depois de uma eventual revolução social, as coisas evoluirão por sua própria conta, entrando nos eixos sem maiores esforços. Estes anarquistas acreditam que a organização prévia não é necessária, outros pensam que ela nem mesmo é desejável.

Alguns indivíduos anarquistas que defendem estes pontos de vista e que se dispõem a realizar trabalho social, não conseguem lidar com as forças autoritárias e, sem a devida organização, terminam sendo tarefeiros e “buchas” para projetos autoritários ou saem frustrados por não conseguirem espaço nos movimentos sociais.

Pontuamos anteriormente que concebemos a organização específica anarquista como uma organização de minoria ativa. Assim, ela é uma organização de anarquistas que se agrupam no nível político e ideológico e que realizam sua principal atividade no nível social, que é mais amplo, buscando ser o fermento das lutas. No modelo especifista, há obrigatoriamente esta diferenciação entre os níveis político e social de atuação.

Diferentemente, há anarquistas que concebem a organização anarquista como um amplo agrupamento que federa todos aqueles que se intitulam anarquistas, servindo como um espaço de convergência para a realização de ações com completa autonomia. No anarquismo, de maneira ampla, também esta divisão entre os níveis político e social não é aceita por todas as correntes, que compreendem a organização anarquista de maneira difusa, podendo ser ela um movimento social, uma organização, um grupo de afinidades, um grupo de estudos, uma comunidade, uma cooperativa etc.

Mesmo o conceito de anarco-sindicalismo, em diversos momentos, buscou suprimir esta diferença de atuação entre níveis, misturando a ideologia anarquista com o sindicalismo. Estas e outras tentativas de ideologizar os movimentos sociais, no nosso entender, enfraquecem tanto os movimentos sociais – que não funcionam mais em torno de questões concretas como terra, moradia, emprego etc. –, quanto o próprio anarquismo, já que não permitem o aprofundamento das discussões ideológicas, que são feitas em meio ao movimento social. Enfraquece também, pois o objetivo destes anarquistas de tornar todos os militantes dos movimentos sociais anarquistas é impossível, a não ser que se reduzam e enfraqueçam significativamente os movimentos. Desta forma, ou mesmo por ver que é natural encontrar pessoas de ideologias diferentes nos movimentos sociais que nunca serão anarquistas, estes anarquistas se frustram, e muitas vezes se afastam das lutas. Como conseqüência disso, fazem, frequentemente, o anarquismo fechar-se em si mesmo.

A organização anarquista de minoria ativa é muitas vezes entendida, por outras correntes do anarquismo, como similar à organização autoritária de vanguarda. Como fizemos questão de pontuar, quando concebemos esta separação entre os níveis político e social, não queremos dizer com isso que queremos estar à frente dos movimentos sociais e nem que o nível político possui qualquer hierarquia ou domínio em relação ao nível social.

Há também uma diferença em relação ao espaço privilegiado para a prática do anarquismo. Nós especifistas acreditamos que este espaço é a luta de classes. Antes de tudo, já consideramos que não vivemos apenas em uma sociedade, mas em uma sociedade de classes. Independente da forma que pensemos a diferença destas classes, nos parece impossível negar que a dominação e a exploração aconteçam em níveis diferentes em nossa sociedade e que o fator econômico tem grande influência sobre isso. Para nós, o anarquismo nasceu no seio do povo e é lá que ele deve estar, tomando uma posição clara em favor das classes exploradas que estão em conflito permanente na luta de classes. Portanto, quando discutimos “onde jogar as sementes do anarquismo”, para nós é claro que deve ser no seio da luta de classes; nos espaços em que as contradições do capitalismo são mais evidentes.

Há anarquistas que não sustentam este viés classista do anarquismo e, o que é pior, há aqueles que o acusam de ser assistencialista, ou de querer “fazer apologia dos pobres”. Negando a luta de classes, a maioria desses anarquistas acredita que como a definição clássica de classes de burguês e proletário não dá conta da sociedade de hoje, então se poderia dizer que não existem mais classes; ou que este seria um conceito anacrônico. Discordamos radicalmente destas posições e acreditamos que, independente de como formos definir as classes – se daremos mais ou menos ênfase ao caráter econômico etc. – é inegável que existam contextos e circunstâncias em que as pessoas sofrem mais os efeitos do capitalismo. E é nestes contextos e nestas circunstâncias que queremos priorizar o nosso trabalho.

Quando buscamos aplicar o anarquismo à luta de classes, reivindicamos o que chamamos de trabalho social, e que definimos anteriormente como “a atividade que a organização anarquista realiza em meio à luta de classes, fazendo o anarquismo interagir com as classes exploradas”. Como também dissemos, para nós, esta deve ser a principal atividade da organização específica anarquista. Por meio do trabalho social, defendemos que a organização anarquista deva buscar a inserção social, “processo de influência dos movimentos sociais a partir da prática anarquista”.

Há anarquistas que não defendem este trabalho com vistas à inserção social. Parte não acredita que isso seja prioridade, e outra parte, o que é mais complicado, acredita que é autoritário. Para os anarquistas que pensam que trabalho/inserção social não são prioritários, parece que outras atividades teriam mais efetividade no desenvolvimento do anarquismo – por mais que geralmente isso não seja dito. Apesar de, pelo menos aparentemente, não haver uma formulação estratégica, o que acontece na prática é que estes anarquistas procuram trabalhar com a propaganda, muito restrita às publicações, aos eventos, à cultura. Como já enfatizamos, esta propaganda também é central para nós, mas não é suficiente se for feita sem respaldo de trabalho/inserção social. Com este respaldo, a propaganda é muito mais efetiva. Portanto, a propaganda, no especifismo, deve ser realizada por estes dois vieses: educacional/cultural e de luta com os movimentos sociais.

Os anarquistas que não acreditam que trabalho/inserção social não são e nem devem ser prioridade, preferem trabalhar em outros meios, longe da luta de classes, longe dos movimentos sociais, longe das pessoas de ideologias diferentes. Alguns dizem que como são membros da sociedade, já possuem inserção social. Muitas vezes, terminam sectários, conseguindo conviver apenas com seus pares, e “guetificando” o anarquismo. Isso explica o sectarismo de parte dos anarquistas, que acontece em proporção muito menor com as organizações especifistas.

Muito mais complicada que a posição acima, é a posição defendida por anarquistas que são contra o trabalho e a inserção social; posição bastante comum no meio libertário. Esses anarquistas acreditam que como muitas vezes não são pobres, como muitas vezes não estão em movimentos sociais (não são sem-terra, por exemplo), que é autoritário trabalhar com a comunidade carente ou mesmo com os movimentos sociais, já que “são de fora dessa realidade”. Para eles, é autoritário uma pessoa que tem onde morar apoiar a luta dos sem-teto; é autoritário freqüentar um movimento comunitário sem ser da comunidade; é autoritário apoiar o trabalho dos catadores de lixo se você não é um deles. Para estes anarquistas, só há legitimidade em se trabalhar com movimentos populares se você é um “popular” e se você faz parte da realidade do movimento. Como geralmente esses anarquistas não estão nessas condições, não se aproximam de movimentos sociais e nem da luta de classes. Terminam por fazer de seu anarquismo um “movimento em si mesmo”, que se caracteriza por ser essencialmente de classe média e de intelectuais, por não buscar contato com as lutas sociais e populares, por não estar em contato com pessoas de ideologia diferentes. Aliás, este anarquismo de classe média e intelectual, quando não busca trabalho e inserção social, termina necessariamente em um de dois caminhos. Ou abandona a proposta de transformação social, ou constitui-se em um agrupamento que luta pelo povo, e não com o povo – assumindo a posição de vanguarda e não de minoria ativa.

O trabalho social, para estes militantes, é muitas vezes comparado ao “entrismo” da esquerda autoritária, pessoas que entram nos movimentos para fazê-los funcionar em seu próprio favor. Na maioria das vezes, defendem um espontaneísmo de que “vir de fora”, “colocar o anarquismo dentro dos movimentos sociais”, é autoritário. Segundo eles, as idéias deveriam surgir espontaneamente. Acusam a discussão, a persuasão, o convencimento, a troca, a influência, externos aos movimentos sociais e, por isso, autoritários.

Dessa posição contrária ao trabalho e à inserção social, nós especifistas também discordamos radicalmente. Como explicamos, para nós o anarquismo não deve ser fechado em si mesmo, e nem se afastar dos movimentos sociais e das pessoas de ideologias diferentes. Ele deve servir como ferramenta, como fermento, como motor das lutas de nosso tempo. Para isso, o anarquismo, ao invés de esconder-se deve confrontar-se com a realidade e buscar transformá-la. Para esta transformação, de nada adianta “pregarmos para os convertidos”; temos, necessariamente, que interagir com não-anarquistas.

Já que entendemos que a classe não se define a partir da origem, mas sim a partir da posição que se defende na luta, acreditamos que apoiar movimentos sociais, auxiliar mobilizações e organizações diferentes da realidade que se está incluído é uma obrigação ética de qualquer militante comprometido com o fim da sociedade de classes. Finalmente, acreditamos que o trabalho social traz a prática necessária ao anarquismo, que tem uma contribuição imensa na formulação da linha teórica e ideológica da organização. Esta atividade é, para nós, importantíssima em nossa formulação teórica, pois faz com que teorizemos tendo conhecimento da realidade e da aplicação prática do anarquismo nas lutas. Grupos e organizações que não possuem trabalho social tendem a radicalizar um discurso que não possui respaldo na prática. Quando isso acontece, a tendência é que exista um discurso ultra-radical e revolucionário – muitas vezes acusando outros de reformistas etc. –, mas que não sai da teoria.

Como vimos, no especifismo há unidade teórica e ideológica, um alinhamento em relação aos aspectos teóricos e ideológicos do anarquismo. Esta linha política é construída coletivamente e todos na organização têm obrigação de segui-la. Por considerarmos o anarquismo algo muito amplo, com posições muito variadas ou mesmo contraditórias, nos parece necessário que, entre todas estas posições, devemos extrair uma linha teórica e ideológica a ser defendida e desenvolvida pela organização. Como enfatizamos, esta linha deve, necessariamente, ter vínculo com a prática, já que acreditamos que “para teorizar com eficácia é imprescindível atuar”.

Para anarquistas que não defendem esta unidade, a organização anarquista poderia trabalhar com diversas linhas teóricas e ideológicas. Cada anarquista ou grupo de anarquistas pode ter a sua interpretação do anarquismo e sua própria teoria. Isso é motivo de diversos conflitos e cisões em organizações com esta concepção. Como não há acordo nas questões de saída, são freqüentes as brigas, pois alguns acham que os anarquistas devem realizar trabalho com movimentos sociais, outros acham isso autoritário e “coisa de marxista”, alguns acham que a função do anarquismo é realçar o ego dos indivíduos, outros são radicalmente contra, e assim por diante. Para nós, não há como ter uma prática efetiva ou mesmo constituir-se em uma organização, sem que haja acordo em algumas “questões de saída”. Nas organizações que não trabalham com unidade teórica e ideológica, não há aprofundamento neste sentido, visto que com tantos problemas nas questões mais simples, as mais complexas não chegam nem a ser discutidas. Bakunin estava certo quando afirmou que “quem muito abraça, pouco aperta”[185]. É importante

que se compreenda que a divisão que existe neste ponto entre os anarquistas é muito mais profunda do que o que normalmente se acredita, e que supõe igualmente uma inconciliável discordância teórica. Digo isto para responder aos meus bons amigos, favoráveis a um acordo a qualquer preço, que afirmam: “Não criemos problemas de método! A idéia é uma só e a meta é a mesma; permaneçamos pois unidos sem nos rasgarmos por um pequeno desacordo sobre a tática”. Eu, ao contrário, dei-me conta há muito tempo atrás, que nos dilaceramos justamente porque estamos muito próximos, por que estamos artificialmente próximos. Sob o verniz aparente da comunidade de três ou quatro idéias – abolição do Estado, abolição da propriedade privada, revolução, antiparlamentarismo – existe uma diferença enorme na concepção de cada uma destas afirmações teóricas. A diferença é de tal monta que nos impede de tomarmos o mesmo caminho sem querelarmo-nos e sem neutralizar reciprocamente o nosso trabalho ou, se assim quisermos, permanecer em paz, sem renunciarmos àquilo que acreditamos ser verdadeiro. Repito: não existe apenas uma diferença de método, mas sim uma grande diferença de idéias.[186]
Além da unidade teórica e ideológica, os especifistas defendem a unidade estratégica e tática. Atuar com estratégia, como vimos, implica em realizar um planejamento de todas as ações práticas que forem realizadas pela organização, buscando verificar de onde se quer sair, onde se quer chegar e como. O anarquismo que trabalha com unidade estratégica e tática faz do planejamento e do alinhamento na atuação prática um forte pilar organizacional. Isso, porque acreditamos que a falta de estratégia dispersa os esforços, fazendo com que muitos deles sejam perdidos. Defendemos um modelo em que se discute coletivamente um caminho a seguir, e junto com este caminho, temos prioridades estabelecidas e responsabilidades atribuídas aos militantes. As prioridades e responsabilidades significam que cada um não vai poder fazer o que lhe passar pela cabeça, quando quiser. Cada um vai ter obrigação, perante a organização, de realizar aquilo que se comprometeu e aquilo que foi definido como prioritário. Obviamente que se buscará conciliar as atividades que cada um gosta de fazer, com as responsabilidades estabelecidas pela organização, mas nem sempre temos de fazer só aquilo que gostamos de fazer. Um modelo especifista implica em termos de fazer coisas que não gostamos muito ou deixarmos de fazer algumas coisas que gostamos muito. Isso, para fazer com que a organização caminhe com estratégia, com todos remando o barco no mesmo sentido.

Criticamos com ênfase as organizações que não trabalham com estratégia. Para nós, não há como trabalhar em uma organização em que cada militante ou grupo faz aquilo que achar melhor, ou simplesmente aquilo que gosta de fazer, acreditando estar contribuindo com um todo comum. Geralmente, quando se agrupa anarquistas de todos os tipos em uma organização, sem que haja afinidades estratégicas, não há qualquer acordo sobre como atuar. Ou seja, não é possível estabelecer uma forma de caminhar, e há somente um acordo: que as coisas devem ir caminhando.

Como pensar uma organização em que se busca conciliar um grupo que acredita que deve atuar como organização específica no movimento social, com um grupo que acha que a prioridade deve ser a convivência entre amigos, a terapia de grupo ou mesmo a exaltação do papel do indivíduo, considerando autoritário (ou mesmo marxista ou assistencialista) o trabalho com movimento sociais? Há duas maneiras de se trabalhar essas diferenças: ou se discute as questões, e se vive entre brigas e desgastes, que consomem grande parte do tempo, ou simplesmente não se toca nas questões. A maioria das organizações deste tipo opta pela segunda forma.

A fim de estabelecer uma certa coordenação na ação, coordenação necessária, creio eu, entre pessoas que tendem para o mesmo objetivo, impõem-se determinadas condições: um certo número de regras ligando cada um a todos, determinados pactos e acordos renovados frequentemente – se falta tudo isto, se cada um trabalha como lhe apetece, as pessoas mais sérias encontrar-se-ão elas próprias numa situação em que os esforços de uns serão neutralizados pelos dos outros. Disto resultará a desarmonia e não a harmonia e a confiança serena para a qual nós tendemos.[187]
A unidade teórica e ideológica e a unidade estratégia e tática são atingidas por meio do processo decisório coletivo, adotado pelas organizações especifistas que é a tentativa de consenso e se este não for possível, a votação, vencendo a maioria. Como também enfatizamos, neste caso, toda organização adota a decisão vencedora. Diferentemente, há organizações que trabalham somente com o consenso, permitindo, muitas vezes, que uma ou outra pessoa tenha influência exacerbada em um processo decisório que envolve um número muito maior de pessoas. Buscando o consenso a qualquer custo, e com o medo de rachar, essas organizações permitem que uma ou outra pessoa consiga ter um peso desproporcional nas decisões, somente para se conseguir o consenso. Outras vezes, se gasta horas com discussões de pouca importância somente para se buscar o consenso. Temos em mente que o processo decisório é um meio e não um fim em si mesmo.

A obrigação de todos seguirem um mesmo caminho – que é regra no especifismo – é o compromisso que a organização possui com a estratégia, pois, se cada vez que uma decisão tomada não agradar parte dos militantes, e esta parte se recusar à realização do trabalho, será impossível a organização caminhar. Em caso de votação, é importante termos em mente que, em uma vez, alguns ganharão a votação e trabalharão na sua proposta, em outra vez, perderão e trabalharão na proposta dos outros companheiros. Com esta forma de tomada de decisão, se dá mais importância para as deliberações coletivas do que para os pontos de vista individuais.

Há diferença, ainda, em pontos centrais que favorecem a organização especifista: o comprometimento, a responsabilidade e a autodisciplina dos militantes com a organização. No modelo especifista, há alto nível deste compromisso militante. Assim, é imprescindível que os militantes assumam compromissos frente à organização e os cumpram. O compromisso militante imprime uma ligação entre militante e organização, que é uma relação mútua, em que a organização é responsável pelo militante, assim como o militante é responsável pela organização. Assim como a organização deve satisfação ao militante, o militante deve satisfação à organização.

A falta de comprometimento, responsabilidade e autodisciplina constitui um grande problema em muitos grupos e organizações anarquistas. É muito comum as pessoas se aproximarem e participarem mais ou menos das atividades, fazendo somente aquilo que têm interesse, muitas vezes participando de decisões, assumindo compromissos e não os cumprindo ou, simplesmente, não assumindo compromissos. Há muitas organizações que são complacentes com a falta de compromisso militante. É inegável que, por este motivo, essas organizações sejam mais “legais” de se fazer parte, no entanto, são muito pouco efetivas do ponto de vista militante. Como para nós a militância é algo necessário na luta por uma sociedade livre e igualitária, não acreditamos que ela será sempre “legal”. Se tivermos de optar entre um modelo de militância mais efetivo e outro mais “legal”, devemos optar pela efetividade.

Para o trabalho com compromisso militante, o especifismo sustenta uma organização com níveis de compromisso. Como explicamos, defendemos a lógica dos círculos concêntricos em que todos os militantes possuem um espaço bem definido na organização, espaço este que é determinado pelo nível de compromisso que o militante quer assumir. Quanto mais ele quiser se comprometer, mais dentro da organização ele estará e maior será o seu poder de deliberação. Portanto, tanto no nível político quanto no nível social, há critérios bem definidos de entrada desde as instâncias de apoio ou agrupamentos de tendência até a organização específica anarquista. Só estão dentro da organização específica anarquistas, militantes com afinidade ideológica com a organização.

Ao contrário do modelo especifista, há outras organizações cujo único critério para entrada de militantes é sua definição como anarquistas, independente de que concepção de anarquismo eles tenham. Algumas pessoas participam um pouco da organização, outras são mais comprometidas; uns assumem mais responsabilidades do que outros e todos possuem o mesmo poder de deliberação. Por isso, muitos deliberam sobre atividades que não vão realizar, ou seja, determinam o que os outros vão fazer. Quando uma organização permite que alguém delibere algo e não assuma responsabilidades, ou que assuma responsabilidades e não as cumpra, ela permite um autoritarismo daqueles que vão deliberar e jogar trabalho nas costas de outros companheiros. Enfim, neste outro modelo, cada um se envolve da forma que acha melhor, aparece quando acha que deve, e não há muita cobrança sobre a questão do compromisso militante. Muitos, ao serem cobrados, julgam-se vítimas do autoritarismo. Como explicamos, para nós, este modelo de organização, além de sobrecarregar os militantes mais responsáveis, acaba por permitir esta discrepância de pessoas que não deliberam e trabalham na mesma proporção.

Portanto, não querermos ser este grande “guarda-chuva” que abarca todos os tipos de anarquistas. Estas amplas (in)definições, aparentemente agregam mais anarquistas na organização, no entanto, acreditamos que não devemos optar pelo critério da quantidade, mas sim da qualidade de militantes.

Não há dúvida que se evitarmos precisar bem o nosso verdadeiro caráter, o número de nossos aderentes poderá tornar-se maior. [...] É evidente, por outro lado, que se nós proclamamos alto os nossos princípios, o número dos nossos aderentes será menor, mas pelo menos serão aderentes sérios, com os quais poderemos contar.[188]
Diferença relevante também se dá em torno da questão do individualismo anarquista. O especifismo significa uma recusa absoluta e completa do individualismo anarquista. Por este motivo, diverge de outras organizações que aceitam trabalhar com os individualistas. Para nós, há dois tipos de individualistas no anarquismo. Um tipo, que era mais comum no passado, de pessoas que preferem trabalhar sozinhas, mas que têm em mente o mesmo projeto que nós. Nestas pessoas, só temos a criticar o fato de que, estando desorganizadas, não conseguem potencializar os resultados de seu trabalho. Um outro tipo, mais em evidência nos dias de hoje, renunciou ao projeto socialista. Baseados na crítica anarquista do Estado, possuem pouca crítica ao capitalismo, e nenhuma atuação no sentido de transformar socialmente a realidade em que vivemos. Colocando-se na condição de simples observadores críticos da sociedade, constroem um anarquismo a partir de referências e pensadores secundários, simplesmente em torno da crítica. Não possuem qualquer projeto de sociedade e muito menos uma atuação coerente que aponte para esta nova sociedade. Poderíamos nos perguntar:
o que então nos resta do individualismo anarquista? A negação da luta de classes, a negação do princípio de uma organização anarquista, cuja finalidade seja a sociedade livre de trabalhadores iguais: e mais ainda, a charlatanice vazia, estimulando os trabalhadores infelizes com sua existência, a tomar parte recorrendo a soluções pessoais, supostamente abertas a eles enquanto indivíduos libertados.[189]
Assim, exacerbam o papel da liberdade individual, que, apartada da liberdade coletiva, torna-se meramente um gozo egoísta, para o deleite de alguns poucos que podem, por seus privilégios dentro do capitalismo, permitir-se isso. Na realidade, a liberdade individual só pode existir na liberdade coletiva, pois a escravidão de outros limita a liberdade de cada um, e a liberdade individual plena só pode se realizar no momento em que, coletivamente, todos forem livres. Concordamos com Bakunin quando colocou:
Só posso considerar-me e sentir-me livre na presença e em relação a outros homens. [...] Só sou verdadeiramente livre quando todos os seres humanos que me cercam, homens e mulheres, são igualmente livres. A liberdade do outro, longe de ser um limite ou a negação da minha liberdade, é, ao contrário, sua condição necessária e sua confirmação. Apenas a liberdade dos outros me torna verdadeiramente livre, de forma que, quanto mais numerosos forem os homens livres que me cercam, e mais extensa e ampla for sua liberdade, maior e mais profunda se tornará a minha liberdade. Ao contrário, é a escravidão dos homens que põe uma barreira na minha liberdade. [...] Minha liberdade pessoal assim confirmada pela liberdade de todos se estende ao infinito.[190]
Para nós, é impossível buscar uma liberdade individual em uma sociedade como a nossa, em que milhões não têm acesso às mais básicas necessidades de um ser humano. Não há como se pensar em um anarquismo puramente individual, como uma forma de se colocar no mundo, de ter um estilo de vida diferente. Para os individualistas, na grande maioria dos casos, ser anarquista significa ser artista, boêmio, defender a liberdade sexual de ter relacionamentos abertos ou com mais de um(a) companheiro(a), usar roupas diferentes, ter um corte de cabelo radical, ter comportamentos extravagantes, comer comidas diferentes, definir-se pessoalmente, realizar-se pessoalmente, ser contra a revolução(?!), ser contra o socialismo(?!), possuir um discurso sem pé nem cabeça – gozando da liberdade de estética – enfim, tornar-se apolítico. Discordamos radicalmente desta posição e acreditamos que as influências neste sentido são funestas ao anarquismo, afastando militantes sérios e comprometidos. Finalmente, concordamos com Malatesta quando enfatizou:
É verdade, gostaríamos de poder estar, todos nós, de acordo, e reunir em um único feixe poderoso todas as forças do anarquismo. Mas não acreditamos na solidez das organizações feitas à força de concessões e de restrições, onde não há entre os membros simpatia e concordância real. É melhor estarmos desunidos que mal unidos.[191]
Para nós, escolher o modelo mais adequado de organização anarquista é fundamental para que tenhamos os meios mais adequados e coerentes com os fins que buscamos atingir. Se defendemos o especifismo, que é uma forma de organização anarquista, é porque acreditamos que ele é hoje mais adequado para o trabalho que pretendemos realizar. Entendemos que há anarquistas que não concordam com o especifismo e não achamos que são menos anarquistas por isso. Só exigimos respeito por nossa escolha, assim como nós respeitamos aqueles que fizeram outras escolhas.

* * *

Trataremos à seguir, brevemente, da perspectiva histórica e das influências do especifismo. Como vimos, o termo especifismo foi desenvolvido pela FAU e só chegou ao Brasil nos fins do século XX. Apesar disso, este termo, mais do que criar uma nova concepção de organização anarquista, buscou agrupar uma série de concepções organizacionais anarquistas já existentes, que tomaram corpo desde o século XIX. O especifismo da FAU reivindica influências de Bakunin e Malatesta, da luta classista do anarco-sindicalismo, do anarquismo expropriador; tudo isso, dentro de um contexto latino-americano. Tentaremos expor, nos próximos parágrafos, a partir de uma concepção própria, como entendemos a experiência histórica do especifismo: as principais experiências passadas, em termos de organização anarquista, que hoje nos influenciam.

A primeira referência histórica do especifismo é Bakunin, a partir das concepções organizacionais que constituíram a atuação dos libertários no seio da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), e que deram corpo ao anarquismo.

A AIT foi articulada a partir de visitas dos representantes de associações operárias francesas à Inglaterra, onde contataram líderes sindicais ingleses e exilados alemães – entre estes últimos, Karl Marx. Politicamente, a composição da AIT surgiu heterogênea: marxistas, blanquistas, republicanos, trade-unionistas e federalistas proudhonianos. Os marxistas acabaram por formar no Comitê Central uma maioria na tomada de decisões, aliando-se com membros de outras correntes e assumindo o controle deste órgão. Tal situação perdurou mesmo após a substituição do Comitê Central pelo Conselho Geral, no Congresso de Genebra de 1866. Vê-se por aí, que os associados anarquistas, sejam inspirados por Proudhon, sejam seguidores de Bakunin, não possuíam força no centro executivo da associação. Eram mais influentes por meio das bases, manifestando isto nos congressos.

Desenvolveram-se duas tendências no seio da AIT: uma centralista e uma federalista. Entre os centralistas autoritários se sobressaíram os comunistas, teorica e politicamente orientados por Marx, os quais contavam com a AIT como instrumento para levar o proletariado ao poder político. Projetavam constituir um Estado operário aparelhado, para a transformação da sociedade capitalista em comunista, atravessando um período intermediário de reorganização, a ser empreendida necessariamente sob uma ditadura. Entre os federalistas libertários, colocaram-se os anarquistas, que defendiam a revolução social com abolição imediata de todas as instâncias de autoridade e a formação de uma nova sociedade baseada na organização livre e federativa dos trabalhadores, de acordo com suas ocupações, problemas e interesses.

Esta divergência básica se fez presente desde o começo, e mostrou-se bem visível já no Congresso de Genebra, primeira reunião plenária da Internacional. Contra os autoritários, foram os mutualistas proudhonianos que conduziram o debate, apoiados por coletivistas que já pertenciam à AIT, antes que Bakunin tivesse se filiado a ela. Nos congressos de Lausanne (1867) e Bruxelas (1868), o coletivismo veio conquistando espaço em relação ao mutualismo, sendo que na Basiléia (1869) os coletivistas compareceram predominando fortemente, entre os avessos à autoridade, e fortalecidos pela presença de Bakunin. Já no campo concorrente, Marx, evitando se comprometer pessoalmente nos congressos, fazia suas intervenções por meio de programas, informes, circulares e propostas do Conselho. Na Basiléia, Bakunin apresentou uma proposta contra o direito de herança. Marx lhe opôs; porém, a proposta foi aprovada.

Ainda no contexto AIT, Bakunin constituiu a Aliança da Democracia Socialista, juntamente com outros militantes anarquistas, que seria aceita como seção da AIT em meados em 1869. Entendemos a Aliança como uma organização específica anarquista (nível político) que atuava dentro da AIT (nível social). A Aliança era uma organização de minoria ativa composta pelos “membros mais seguros, mais dedicados, mais inteligentes e mais enérgicos, numa palavra, pelos mais íntimos”[192]. Ela foi conformada para atuar secretamente, visando tratar dos assuntos que não se podia tratar publicamente e para atuar como agente catalizador do movimento operário. A Aliança definiu a relação entre os níveis político e social:

A Aliança é o complemento necessário da Internacional... – Mas a Internacional e a Aliança, tendendo para o mesmo objetivo final, perseguem ao mesmo tempo objetivos diferentes. Uma tem por missão reunir as massas operárias, os milhões de trabalhadores, através das diferenças das nações e dos países, através das fronteiras de todos os Estados, num só corpo imenso e compacto; a outra, a Aliança, tem por missão de dar às massas uma direção verdadeiramente revolucionária. Os programas de uma e de outra, sem serem nada opostos, são diferentes pelo grau de seu desenvolvimento respectivo. O da Internacional, se o tomarmos a sério, também em germe, mas só em germe, todo o programa da Aliança. O programa da Aliança é a explicação última do programa da Internacional.[193]
A prática da Aliança dentro da AIT fez com que a tendência autoritária buscasse isolar e desqualificar a prática dos libertários. Após o Congresso da Basiléia, os ataques ao grupo coletivista se intensificam. Marx dirigiu em 1870 duas comunicações privadas do Conselho Geral às seções da AIT, com críticas severas às posturas bakuninistas. Com isto, preparava o clima para a Conferência de Londres do ano seguinte, durante a qual o grupo marxista tentou impor a doutrina da conquista do poder estatal, e para o Congresso de Haia de 1872. Nesta plenária, pediu a expulsão de Bakunin da AIT, o que obteve. Em 1874, a Internacional estava extinta.

A segunda referência histórica do especifismo é Malatesta, militante que chegou a fazer parte da Aliança bakuninista e que foi um representante da corrente organicista do anarco-comunismo. Passada a tradição coletivista do anarquismo da época de Bakunin – que defendia, na sociedade futura, uma distribuição a cada um de acordo com seu trabalho – nasce a corrente anarco-comunista – que defende, a partir de então, uma distribuição a cada um de acordo com suas necessidades. Malatesta caracterizou-se por defender, dentro desta corrente, posições contrárias ao evolucionismo e ao cientificismo, presentes em grande parte do movimento socialista. Para Malatesta, o futuro não estaria necessariamente determinado e só poderia ser modificado a partir da vontade, de uma intervenção voluntarista nos acontecimentos para proporcionar a desejada transformação social.

Crítico ferrenho do individualismo, Malatesta defendia um anarquismo completamente baseado na organização, um anarquismo que poderíamos chamar de “organicista”, e que, assim como o anarquismo de Bakunin, sustentava uma atuação distinta nos níveis político e social. No nível político, Malatesta desenvolveu sua concepção de organização específica anarquista, à qual deu o nome de partido anarquista[194]: “entendemos por partido anarquista o conjunto daqueles que querem contribuir para realizar a anarquia, e que, por conseqüência, precisam fixar um objetivo a alcançar e um caminho a percorrer”[195]. Esta organização deveria atuar nos chamados “movimentos de massa” da época e influenciá-las o máximo possível e os sindicatos foram o campo privilegiado escolhido para atuação dos anarquistas. Malatesta pontuou muito bem as diferenças entre o nível político do anarquismo e do nível social, que constituía, na época, seu espaço de inserção – o sindicalismo:

Na minha opinião, o movimento operário não é mais do que um meio – embora não há dúvida de que é o melhor meio de que dispomos. Mas eu me recuso a aceitar esse meio como um fim [...]. Os sindicalistas, por outro lado, têm uma certa propensão a transformar os meios em fins e a considerar as partes como sendo o todo. E, desse modo, para alguns dos nossos, o sindicalismo começa a se transformar numa nova doutrina que ameaça a própria existência do anarquismo. [...] Lamentei, no passado, que os camaradas se isolassem do movimento operário. Lamento hoje que, caindo no extremo oposto, muitos entre nós se deixem tragar pelo mesmo movimento. Uma vez mais, a organização da classe operária, a greve, a ação direta, o boicote, a sabotagem e a própria insurreição armada são apenas os meios; a anarquia é o fim.[196]
Defendendo o anarquismo que busca a transformação social a partir da vontade, Malatesta acreditava, assim como nós acreditamos hoje, que a organização específica anarquista deveria atuar no seio da luta de classes, em meio aos movimentos sociais e, com eles, chegar à revolução social e ao socialismo libertário – o qual ele chamava de anarquia. Para tanto, Malatesta buscou criar tanto organizações específicas anarquistas, como foi o caso do Partido Socialista Revolucionário Anárquico Italiano e da União Anarquista Italiana; e também organizações que atuassem no nível social, como nos casos da União Sindical Italiana (USI), da Aliança do Trabalho, e de sindicatos na Argentina. As posições de Malatesta foram bastante difundidas por Luigi Fabbri, outro anarco-comunista italiano, que também possui significativa contribuição ao especifismo.

Experiência importante para o especifismo, em nossa concepção, foi também a do magonismo, na fase da radicalização do Partido Liberal Mexicano (PLM). Ricardo Flores Magón, seu mais ativo militante, integrou em 1901 o PLM, que havia sido fundado um ano antes. Durante a ditadura de Porfírio Diaz, tanto o PLM quanto o periódico Regeneración foram grandes opositores do regime. A partir da segunda metade da década de 1900, o PLM se radicaliza, tornando seu discurso mais combativo e criando uma tensão interna no partido, o que afasta os elementos menos radicais. O PLM não concorria às eleições e servia somente como um espaço de articulação política e horizontal dos revolucionários libertários da época, sem objetivos de tomar o Estado e estabelecer uma ditadura, mas para colocar um fim ao governo de Diaz, estabelecendo o comunismo libertário em seguida. O PLM tornou-se clandestino e organizou em todo o México mais de 40 grupos de resistência armada e também contou com membros indígenas, conhecidos por sua luta pelos direitos das comunidades e contra a propriedade capitalista. Após a radicalização, Francisco Madero estabeleceu uma discordância de que os meios pacíficos para tirar Diaz do poder estariam esgotados.

A fraude eleitoral de 1910 comandada por Diaz, daria início à explosão da Revolução Mexicana. Com a prisão de Madero, seu adversário nas eleições, conseguiu reeleger-se novamente. Exilado em San Antonio, no Texas, Madero redige o Plano de San Luís, convocando um levante armado, além de declarar nulas as eleições de 1910, rechaçando a eleição de Diaz e instituindo-se como presidente provisório. Muitos rebeldes atenderam ao chamado revolucionário, entre eles Emiliano Zapata, que tinha um importante papel na organização dos indígenas da região de Morelos, e Pancho Villa, um ex-ladrão de gado e assaltante de bancos, muito reconhecido pelos humildes das regiões de Durango e Chihuahua. Estavam unidos, em uma frente anti-reeleicionista, que dava a cada grupo relativo grau de autonomia e independência. Já em 1911 e em meio à Revolução e com apoio do sindicato norte-americano International Workers of the World (IWW), os anarquistas, que tinham à frente Magón, ocupam a região da Baixa Califórnia, tomando cidades de importância como Mexicali. Ao fim do mês de janeiro, constituem a República Socialista da Baixa Califórnia, a primeira república socialista do mundo. Os magonistas tiveram ainda vitórias em cidades como Novo León, Chihuahua, Sonora, Guadalupe e Casas Grandes; espaços esses que seriam perdidos após a repressão ocasionada pelo governo de Madero.

As revoltas organizadas por Zapata em Morelos e o Plan de Ayala constituíram-se como instrumentos de luta dos camponeses pela revolução, sempre inspirados pelo lema Terra e Liberdade, entoado pela primeira vez por Praxédis Guerrero e disseminado pelos magonistas. Fruto desta importante relação entre zapatistas e magonistas foi o convite de Zapata para que Magón levasse Regeneración para Morelos.

Depois disso, o México afundou-se em um período de guerra civil e tentou estabelecer uma Convenção, já nos fins de 1914. Os fatos que se deram em seqüência, como a tentativa de tomada da Cidade do México por Villa e Zapata, a convocação da Assembléia Constituinte por Carranza, que depois seria eleito presidente e assassinado; e os conflitos que se seguiram no país, acabaram constituindo o pano de fundo da decadência do período revolucionário no país.

Outra referência histórica importante para o especifismo é a participação anarquista na Revolução Russa. No início de 1917, diversos regimentos se amotinaram em São Petersburgo, surgiu um governo provisório aclamado pelo parlamento e renasceram os sovietes de 1905. A palavra de ordem “todo poder aos sovietes” estava em evidência. No campo, no sul da Ucrânia, os camponeses de Guliai Polie, aldeia que desde a revolução de 1905 possuía forte organização anarquista, fundaram a União dos Camponeses, que decidiu lutar pela revolução social independentemente do governo, buscando a autogestão dos meios de produção. Em Petrogrado reivindicou-se o controle operário nas fábricas e marinheiros de Kronstadt, portando bandeiras vermelhas e negras, marcharam sobre a cidade com o objetivo de instituir uma república soviética e autogestionária. Em outubro, soldados anarquistas e bolchevistas, agindo de comum acordo, conseguiram tomar o Palácio de Inverno e surgiu, a partir de então, um divisor de águas entre os elementos revolucionários autoritários e os libertários. Os primeiros apoderando-se do aparelho de Estado e caminhando para a ditadura do partido (bolchevista) único dirigido por um comitê central todo poderoso e os segundos para o comunismo libertário e autogestionário, na forma dos conselhos de sovietes de operários, camponeses e do povo em armas.

Progressivamente, os bolcheviques passaram a negar, suprimir, impedir e finalmente proibir a difusão das idéias e práticas libertárias. Já a partir de 1918, os bolcheviques se posicionaram contra o controle operário das fábricas, estimulando a disciplina cega dos operários ao partido, e aos poucos foram consolidando a proibição da oposição ao partido. Militarizaram o trabalho, expulsaram os responsáveis eleitos nos sovietes, obrigaram estes a submeter-se ao poder central do partido e proibiram as greves.

Na luta contra o Exército Branco, o exército insurrecional de Makhno, na Ucrânia, se aliou aos bolcheviques por mais de uma vez. Ao derrotar a ameaça branca, o exército makhnovista foi atacado e perseguido pelo Exército Vermelho, obrigando os sobreviventes a se refugiarem em outros países. Foi o fim do processo de socialização autogestionário na Ucrânia, revertido repressivamente pelos bolchevistas a favor de maneiras estatizantes e totalitárias de organização e controle social sob uma nova classe dirigente. Os marinheiros de Kronstadt – que exigiam que os delegados dos sovietes voltassem a ser escolhidos por eleição; liberdade para os anarquistas e outros grupos de esquerda; que voltassem a se reunir sindicatos e organizações camponesas; a libertação de presos políticos; a abolição dos oficiais políticos; a mesma alimentação para todos – são mortos pelos bolcheviques.

Apesar desta revolução proletária e libertária ter sido usurpada e dominada pelos bolchevistas, a partir de sua tomada do aparelho de Estado, aos anarquistas coube pecar por omissão na questão da organização. Esta reflexão foi formalizada anos depois, por imigrantes russos que estavam na Europa, em um documento chamado Plataforma Organizacional dos Comunistas Libertários. Makhno, Arshinov e outros formalizaram neste documento suas reflexões sobre a organização anarquista, a partir das experiências da Revolução Russa. Este documento trouxe importantes reflexões sobre a importância do envolvimento dos anarquistas na luta de classes, a necessidade de uma revolução social violenta que derrube o capitalismo e o Estado e que constitua o comunismo libertário. Há, também, uma relevante contribuição sobre a questão da transição do capitalismo ao comunismo libertário e sobre a defesa da revolução. A Plataforma defende uma organização anarquista, em nível político, que atue em meio aos movimentos sociais, um nível social, e enfatiza a função de minoria ativa da organização anarquista. Além disso, traz importantes contribuições sobre o modelo de organização do nível político dos anarquistas. Por estas questões, é um importante documento e possui bastante influência no especifismo.

Apesar disso, não entendemos que especifismo é a mesma coisa que plataformismo. Como estamos tentando mostrar ao longo deste texto, para nós, o especifismo é muito mais amplo que o plataformismo e tem as suas bases teóricas nas concepções organizacionais de Bakunin e Malatesta. A Plataforma, para nós, reivindica estes autores e traz novas contribuições e, portanto, deve ser considerada como uma contribuição ao especifismo, mas não a contribuição mais importante. Outro fato a ser levado em conta é que a Plataforma foi redigida sobre uma experiência de atuação militar dos anarquistas, em meio a um processo revolucionário e não deve ser deslocada deste contexto. Entendemos que esta forma de organização, tal como expressa na Plataforma, não deve ser aplicada em todos os seus pormenores em situações não-revolucionárias. Ela é mais uma contribuição para a discussão da atuação militar anarquista do que um documento para discutir a organização anarquista em todos os diferentes contextos.

Assim como a Revolução Russa, também consideramos referência a Revolução Espanhola de 1936. Durante aqueles anos, uma revolução social foi efetivamente levada a cabo. Uma revolução sob fogo cruzado que pretendia atingir todos os setores, das injustas estruturas econômicas até o cotidiano da população; das decrépitas noções de hierarquia até as históricas desigualdades entre homens e mulheres. E isso tudo foi obra dos anarquistas.

As influências do anarquismo chegaram na Espanha por Giuseppe Fanelli, aliancista e militante muito próximo de Bakunin. Fundada em 1910, a Confederación Nacional del Trabajo (CNT) foi a maior expressão do anarco-sindicalismo na Espanha e viveu, até a década de 1920 entre momentos de fluxo e refluxo com a constante repressão, da qual foi vítima. Fundada em 1927, a Federación Anarquista Ibérica (FAI) era uma organização clandestina voltada para a atividade revolucionária que, dentre seus objetivos, buscava opor-se às correntes reformistas na CNT. A ação logrou êxito, e os anarquistas revolucionários obtiveram a hegemonia na CNT.

Em 1936, a Frente Popular (reunindo os partidos de esquerda) tinha a possibilidade de vencer nas urnas. Os anarquistas da CNT acabaram apoiando taticamente a Frente, pois isso significaria a libertação dos companheiros presos. Com o aval da CNT, foi possível a vitória da Frente Popular. Porém, os fascistas não aceitaram a derrota. Em 18 de julho de 1936, irrompe o movimento golpista dos falangistas, entre os quais se destacou Francisco Franco. Assim teve início a explosão revolucionária que jogaria o país em três anos de guerra civil. Numa primeira fase (de julho de 1936 ao início de 1937), os anarquistas estão entre os grupos de maior destaque. A ação dos militantes em áreas como a Catalunha foi exemplar. As estruturas republicanas passaram para as organizações populares, num intenso e bem-sucedido processo de coletivização. Fábricas foram ocupadas e medidas sociais imediatas postas em prática, tais como: igualdade de salários entre homens e mulheres, serviço médico gratuito, salário permanente em caso de enfermidade, diminuição da jornada de trabalho e aumento dos pagamentos. Foram coletivizados serviços de metalurgia, indústria madeireira, transportes, alimentação, saúde, imprensa, espetáculos e propriedades rurais. Para combater as forças fascistas, estabeleceram-se milícias que avançaram em algumas frentes, com destaque para a coluna liderada por Buenaventura Durruti.

Numa segunda fase (de 1937 a 1939), o avanço da contra-revolução foi devastador. Os falangistas contaram com apoio maciço de Hitler e Mussolini. A resistência estava mal armada e numericamente inferior. As Brigadas Internacionais, formadas para deter o avanço nazi-fascista, possuíam poucos combatentes. Para completar, nenhuma ajuda das nações liberais (França e Inglaterra), que mais uma vez lavaram as mãos. O “apoio” da URSS se mostrou um verdadeiro “presente de grego”. No interior da luta contra o fascismo, paralelamente se desenrolava a caça – promovida pelos stalinistas – aos anarquistas e aos heterodoxos do Partido Operário de Unificação Marxista (POUM). Os avanços obtidos pela CNT/FAI foram destruídos pelos que buscavam restabelecer as bases do Estado (setores moderados da República, comunistas e socialistas). Os comunistas começaram a ganhar posições-chave no governo. Os anarquistas tiveram de ceder mais uma vez diante das circunstâncias desfavoráveis: alguns membros da CNT acabaram participando do governo.

No Brasil, podemos dizer que, uma vez que a corrente especifista não foi de fato realizada em sua plenitude, nossas referências ideológicas se prendem a algumas iniciativas do passado e outras que julgamos signatárias da mesma corrente na história mais recente do país. Entendemos que desde os primeiros anos do século XX, anarquistas vinculados ao “organizacionismo”, em particular seguidores de Malatesta, esforçaram-se a fim de organizar um número possível de companheiros com vistas a formar uma organização com estratégias e táticas comuns, baseada em acordos tácitos e de claro entendimento do grupo.

Foram esses mesmos os responsáveis pela realização do Primeiro Congresso Operário Brasileiro, em 1906, e pelas iniciativas de mais fôlego do anarquismo nacional. Tais anarquistas prepararam as condições que permitiriam a plena inserção de anarquistas em sindicatos, na vida social, com a formação de escolas e de grupos teatrais, além de uma razoável produção escrita. Foi também, e em grande medida, a corrente “organizacionista” que acabou por auxiliar na preparação da Insurreição Anarquista de 1918, na criação da Aliança Anarquista do Rio de Janeiro, na formação do Partido Comunista Brasileiro, de feição libertária, em 1919, e nos eventos que distinguiram os anarquistas dos bolcheviques, nos anos de 1920.

Nesta primeira fase destacam-se os nomes de Neno Vasco, José Oiticica, Domingos Passos, Juan Peres Bouzas, Astrojildo Pereira (até 1920) e Fábio Luz. Posteriormente, após um adormecimento do anarquismo social por quase duas décadas, ressurge parte da tradição organizacionista no jornal Ação Direta e, com a consumação do golpe militar de 1964, perderíamos novamente a nossa principal força nesse campo, representada em Ideal Peres e nos estudantes do Movimento Estudantil Libertário.

Finalmente, outra influência latina do especifismo que defendemos é a Federação Anarquista Uruguaia (FAU), formada em 1956 a partir de influências da luta classista e anarco-sindicalista, pelos modelos organizacionais de Bakunin e Malatesta, e pelo anarquismo expropriador da região do Rio da Prata. Buscando desenvolver um anarquismo voltado aos problemas latinos, a FAU realizou, desde sua criação, um trabalho em diversas frentes. Participou das atividades da central sindical Convenção Nacional de Trabalhadores (CNT), que sustentava um modelo não burocrático, com democracia interna e de tendência classista. Foram criados grêmios de ação direta dentro da chamada Tendência Combativa. Com sua ilegalidade sendo decretada em 1967, a FAU passou à clandestinidade.

Mesmo neste período de clandestinidade, com muita repressão e prisão de militantes, a FAU conseguiu manter sua atividade sindical na CNT, no movimento estudantil, na luta contra o colaboracionismo do PC. Fez circular sua publicação Cartas da FAU. Em 1968 foi fundada a Resistência Obrera Estudantil (ROE), entidade de massas da organização, que partiu para o uma estratégia de confronto, com ocupações de fábricas com participação estudantil e de sindicalistas em passeatas estudantis. Paralelamente à organização de massas, a FAU desenvolveu ao final da década de 1960 a organização de seu “braço armado”, a Organização Popular Revolucionária – 33 (OPR-33), que desenvolveu uma série de ações de sabotagem, expropriação econômica, seqüestro de políticos e/ou patrões particularmente detestados pelo povo, apoio armado a greves e ocupações de locais de trabalho etc. A FAU abandonou o foquismo como paradigma de luta armada, evitando a militarização e possuindo inserção social em meio à população. Com a ditadura de 1973, a FAU direcionou seus esforços a uma greve geral que paralisou o país por quase um mês. Desenvolveu trabalhos clandestinos e teve vários militantes presos, torturados e mortos. Com a abertura política, rearticulou-se e desenvolveu um trabalho com o paradigma especifista que defendemos hoje, com três frentes de inserção: sindical, estudantil e comunitária.

Em suma, nossa concepção das referências históricas do especifismo não é dogmática. Possuímos influências amplas que se iniciam com as concepções de Bakunin e dos aliancistas na AIT, passam pelas concepções de Malatesta e suas experiências práticas nos níveis político e social, assim como pelas experiências de Magón e do PLM no seio da Revolução Mexicana. Também nos influenciam as experiências dos anarquistas na Revolução Russa, com destaque à makhnovitchina na Ucrânia e às reflexões organizacionais realizadas pelos russos no exílio, assim como as experiências dos anarquistas na Revolução Espanhola em torno da CNT-FAI. No Brasil, temos influências do “organizacionismo” anarquista, com destaque às experiências da Aliança Anarquista do Rio de Janeiro de 1918 e o Partido Comunista (libertário) de 1919. Finalmente, as influências da FAU, tanto de sua luta contra a ditadura, como em sua atuação em frentes, com sindicatos, movimentos comunitários e estudantis. Todo este conjunto de concepções e experiências contribui hoje com nossa concepção de especifismo. Atualmente o especifismo é defendido por diversas organizações latino-americanas e desenvolve-se na prática, mesmo que sem utilizar este nome, em outros lugares do mundo.


Notas:

185. Mikhail Bakunin. "Programa Revolucionário e Programa Liberal". In: Conceito de Liberdade, p. 189.

186. Luigi Fabbri. "A Organização Anarquista". In: Anarco-Comunismo Italiano, pp. 104-105.

187. Mikhail Bakunin. "Táctica e Disciplina do Partido Revolucionário". In: Conceito de Liberdade, pp. 197-198.

188. Idem. "Programa Revolucionário e Programa Liberal". In: Conceito de Liberdade, pp. 188-189.

189. Dielo Trouda. "El Problema de la Organización y la Noción de Síntesis".

190. Mikhail Bakunin. Império Knuto-Germânico. Citado em Daniel Guérin (org.). Textos Anarquistas (trechos de Ni Dieu, Ni Maître). Porto Alegre: LP&M, 2002, pp. 47-48.

191. Errico Malatesta. "A Organização II". In: Escritos Revolucionários, p. 62.

192. Mikhail Bakunin. "Educação Militante". In: Conceito de Liberdade, p. 154.

193. Ibidem. pp. 151-152.

194. Não confundir o termo partido utilizado aqui com os partidos que concorrem às eleições ou que buscam tomar o Estado por meio da revolução. Como já enfatizamos, "partido anarquista" para Malatesta é a mesma coisa que organização específica anarquista.

195. Errico Malatesta. "A Organização II". In: Escritos Revolucionários, p. 56.

196. Idem. "Sindicalismo: a crítica de um anarquista". In: George Woodcock. Op. Cit. pp. 208; 212.


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