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Trabalho e Inserção Social

category brazil/guyana/suriname/fguiana | movimento anarquista | policy statement author Tuesday December 02, 2008 20:02author by Federação Anarquista do Rio de Janeiro - FARJ Report this post to the editors
O trabalho social e a inserção social são as atividades mais importantes da organização específica anarquista.

ANARQUISMO SOCIAL E ORGANIZAÇÃO

A ORGANIZAÇÃO ESPECÍFICA ANARQUISTA: TRABALHO E INSERÇÃO SOCIAL

O trabalho social e a inserção social são as atividades mais importantes da organização específica anarquista.

Como já tratamos, vivemos em uma sociedade que coloca em campos opostos a classe dominante e as classes exploradas. Recordemos também que nossa luta é pelo estabelecimento de uma sociedade sem classes, o socialismo libertário. E que a forma de se chegar a esta nova sociedade, em nosso entender, é por meio da luta dos movimentos sociais, de sua conformação em organização popular e da revolução social. Para tanto, todo este processo deve se dar no seio das classes exploradas, que são as verdadeiras protagonistas da transformação social que reivindicamos.

Assim, se a luta do anarquismo aponta para os objetivos finalistas de revolução social e socialismo libertário, e se entendemos serem as classes exploradas as protagonistas da transformação rumo a estes objetivos, não há outro caminho ao anarquismo senão buscar uma forma de interação com estas classes. Por este motivo,

o anarquismo não pode continuar aprisionado nos limites de um pensamento marginal e reivindicado unicamente por uns poucos grupelhos, em suas ações isoladas. Sua influência natural sobre a mentalidade dos grupos humanos em luta é mais do que evidente. Para que esta influência seja assimilada de modo consciente, ele deve, doravante, se munir de novos meios e iniciar desde já o caminho das práticas sociais.[130]
Na luta de classes, as classes exploradas estão sempre em conflito com a classe dominante. Este conflito pode se manifestar de maneira mais ou menos espontânea, mais ou menos organizada. O fato é que as contradições do capitalismo geram uma série de manifestações das classes exploradas e nós consideramos ser este o melhor terreno para plantar as sementes do anarquismo. Neno Vasco, ao falar da sementeira, utilizava uma metáfora para dizer que os anarquistas deveriam plantar as suas sementes nos terrenos mais férteis. Como já enfatizamos, para nós, este terreno é o campo da luta de classes.

Já que pretendemos plantar nossas sementes no seio da luta de classes, e já que entendemos serem as classes exploradas as protagonistas do processo de transformação social, estamos assumindo que para o anarquismo chegar aos seus objetivos finalistas, as classes exploradas são imprescindíveis. Quando explicitamos este ponto de vista, não estamos idolatrando essas classes ou mesmo assumindo que tudo o que fazem é sempre certo, mas estamos enfatizando que sua participação no processo de transformação social é absolutamente central. Portanto, nós anarquistas, “devemos sempre estar com o povo”[131].

A forma de a organização específica anarquista buscar interação com as classes exploradas é por meio do que chamamos trabalho social. O trabalho social é a atividade que a organização anarquista realiza em meio à luta de classes, fazendo o anarquismo interagir com as classes exploradas. O trabalho social dá ao nível político do anarquismo, um nível social, um corpo sem o qual o anarquismo é estéril. Por meio do trabalho social o anarquismo consegue realizar sua função de ser o fermento das lutas de nosso tempo. O trabalho social da organização anarquista se dá de duas maneiras: 1.) Com o trabalho permanente com movimentos sociais já existentes e 2.) Com a criação de novos movimentos sociais.

Desde nossa fundação, pensamos ser os movimentos sociais terreno privilegiado para nossa atuação, conforme colocado em nossa Carta de Princípios, quando afirmamos: “a FARJ propõe-se a trabalhar – desde já e sem intermediações – no sentido de interferir nas diversas realidades que compõem o universo dos movimentos sociais”[132]. Conforme tratamos anteriormente, entendemos os movimentos sociais como resultado de “um tripé composto pela necessidade, vontade e organização”. Assim, os anarquistas organizados devem buscar estimular a vontade e a organização para uma mobilização que se baseie fundamentalmente na necessidade das classes exploradas. Estas, na maioria dos casos, estão desmobilizadas por “não terem o sentimento do seu direito, nem a fé na sua força; e como nem têm este sentimento, nem esta fé, [...] continuam a ser, durante séculos, escravos impotentes”[133]. Neste processo de mobilização, devemos estimular este sentimento e esta fé. A partir de então, a questão da necessidade torna-se central, pois é por meio dela que se dá a mobilização. Poucos são aqueles que estão dispostos a lutar por uma idéia que só trará resultados de longo prazo. Por isso, para mobilizar o povo, devemos, antes de tudo, tratar das questões e dos problemas concretos que o afligem e que estão próximos a ele. Para conquistar sua confiança e a adesão

[...] é preciso começar por falar-lhe, não dos males gerais de todo o proletariado internacional, nem das causas gerais que lhe dão nascença, mas dos seus males particulares, cotidianos, privados. É preciso falar-lhe de sua profissão e das condições do seu trabalho, precisamente na localidade em que habita; da duração e da grande extensão do seu trabalho cotidiano, da insuficiência de seu salário, da maldade do seu patrão, da carestia dos víveres e da sua impossibilidade de nutrir e de instruir convenientemente sua família. E propondo-lhes meios para combater os seus males e para melhorar a sua posição, não é preciso falar-lhe logo dos objetivos gerais e revolucionários. [...] Primeiramente só é preciso propor-lhes objetivos que seu bom senso natural e sua experiência cotidiana não possam ignorar a utilidade, nem repeli-los.[134]
Desta mesma forma, no processo de mobilização, pode-se colocar a questão de as pessoas não possuírem empregos, de não possuírem um lugar para morar etc. Por isso, a função da organização anarquista é explicitar as necessidades e mobilizar em torno delas. Seja na criação de movimentos sociais ou no trabalho com movimentos já existentes, a idéia central é sempre mobilizar em torno da necessidade.

Os movimentos sociais são as instâncias em que se dá a mobilização das classes exploradas e, portanto, são esses movimentos que fazem com que elas tenham uma prática política. Sua prática política desenvolve-se por meio de “toda atividade que tenha por objeto a relação [de confronto] dos explorados e oprimidos com os organismos do poder político, o Estado, o governo e suas distintas expressões”[135] além de outros organismos de sustentação do sistema capitalista. A prática política busca colocar o povo em combate contra as forças do sistema que o oprime e, portanto, incita o enfrentamento a estas forças, “a defesa e a ampliação das liberdades públicas e individuais, a capacidade de propostas que correspondam ao interesse geral da população ou a aspectos parciais do mesmo”. A prática política também pode ser “a insurreição como instância de questionamento violento a uma situação que queremos mudar [... e também] as propostas que, recolhendo as reivindicações populares enfrentam os organismos de poder, apresentam soluções a questões gerais e concretas e obrigam aqueles organismos de poder a adotá-las e torná-las válidas para o conjunto da sociedade”.

Por meio de sua prática política, os movimentos sociais devem impor todas suas conquistas às forças do capitalismo e do Estado. O povo deve exigir, impor e realizar, ele mesmo, todas as melhorias, conquistas, liberdades desejadas, conforme for sentindo necessidade, por meio da organização e da vontade. Estas reivindicações devem ser permanentes e aumentar progressivamente, exigindo cada vez mais, e buscando completa emancipação das classes exploradas.

Quaisquer que sejam os resultados práticos da luta pelas melhorias imediatas, sua principal utilidade reside na própria luta. É por ela que os trabalhadores aprendem a defender seus interesses de classe, compreendem que os patrões e os governos têm interesses opostos aos seus, e que não podem melhorar suas condições, e ainda menos se emancipar, senão unindo-se entre si e tornando-se mais fortes. [...] Se conseguirem obter o que desejam, viverão melhor. Ganharão mais, trabalharão menos, terão mais tempo e força para refletir sobre as coisas que os interessam; e eles sentirão de repente desejos e necessidades maiores. Se não obtiverem êxito, serão levados a estudar as causas de seu fracasso e a reconhecer a necessidade de maior união, maior energia; e compreenderão, enfim, que para vencer, segura e definitivamente, é preciso destruir o capitalismo.[136]
A prática política dos movimentos sociais traduzida nas lutas pelas conquistas de curto prazo traz o sentido pedagógico de ganho de consciência aos militantes, em caso de vitórias ou mesmo de derrotas.

Da mesma maneira funciona a prática política da organização específica anarquista. Afirmamos anteriormente que entendemos o anarquismo como uma ideologia e, neste caso, “um conjunto de idéias, motivações, aspirações, valores, estrutura ou sistema de conceitos, que possuem uma conexão direta com a ação – o que chamamos de prática política”. O trabalho social é a principal parte da prática política da organização anarquista que, neste caso, interage com as classes exploradas organizadas nos movimentos sociais, retirando o anarquismo dos pequenos círculos e semeando amplamente suas idéias no seio da luta de classes.

Apesar disso, para nós, mais do que simplesmente interagir com os movimentos sociais, o trabalho social da organização específica anarquista deve buscar influenciá-los na prática, fazendo com que tenham determinadas características de funcionamento. Chamamos de inserção social o processo de influência dos movimentos sociais a partir da prática anarquista. Assim, a organização anarquista possui trabalho social quando cria ou desenvolve trabalho com movimentos sociais e possui inserção social quando consegue influenciar os movimentos com as práticas anarquistas.

A inserção social não tem por objetivo “ideologizar” os movimentos sociais, transformando-os em movimentos sociais anarquistas. Diferentemente, ela busca dar a eles algumas características determinadas, de forma que possam caminhar para a construção e desenvolvimento da organização popular, e apontar para a revolução social e o socialismo libertário. Busca fazer os movimentos sociais irem o mais longe possível.

Não queremos “esperar que as massas se tornem anarquistas” para fazer a revolução; tanto mais de que estamos convencidos de que elas nunca se o tornarão se inicialmente não derrubarmos, pela violência, as instituições que as mantêm em escravidão. Como precisamos do concurso das massas para constituir uma força material suficiente, e para alcançar o nosso objetivo específico que é a mudança radical do organismo social graças à ação direta das massas, devemos nos aproximar delas, aceitá-las como elas são e, como parte das massas, fazê-las ir o mais longe possível. Isso se quisermos, evidentemente, trabalhar de fato para realizar, na prática, nossos ideais, e não nos contentar em pregar no deserto, para a simples satisfação de nosso orgulho intelectual.[137]
Recordemos que defendemos a posição que é a ideologia que deve estar dentro dos movimentos sociais e não os movimentos sociais que devem estar dentro da ideologia. A organização específica anarquista interage com os movimentos sociais buscando influenciá-los a ter as formas mais libertárias e igualitárias possíveis.[138] Apesar de tratarmos o anarquismo e os movimentos sociais como níveis de atuação diferentes, acreditamos que há uma relação de influência mútua entre os dois. Esta relação, complementar e dialética, faz com que o anarquismo influencie os movimentos sociais, e que os movimentos sociais influenciem o anarquismo. Quando tratamos da inserção social, estamos falando da influência do anarquismo nos movimentos sociais. Nesta relação, apesar de sustentarmos uma separação entre os níveis político (da organização anarquista) e social (dos movimentos sociais), não acreditamos que há hierarquia nem domínio do nível político para o nível social. Não acreditamos também que o nível político lute pelo social ou à frente dele, mas sim com ele, sendo esta, uma relação ética. Em sua atuação como minoria ativa, a organização específica anarquista luta com as classes exploradas e não por elas ou à frente delas, visto que “não queremos emancipar o povo, queremos que o povo se emancipe”[139]. Discutiremos à frente, com um pouco mais de detalhes, esta relação entre a organização específica anarquista e os movimentos sociais.

Ao tratarmos da inserção social como a influência que a organização específica anarquista exerce nos movimentos sociais, entendemos ser importante detalhar um pouco mais, o que entendemos por “influenciar”. Influenciar, para nós, significa causar modificações sobre uma pessoa ou um grupo de pessoas, por meio de persuasão, dos conselhos, dos exemplos, das orientações, inspirações e práticas. Antes de tudo, consideramos que na própria sociedade há, a todo tempo, uma multiplicidade de influências entre os diferentes agentes que influenciam e são influenciados. Podemos mesmo dizer que “renunciar a exercer influência sobre outros significa renunciar à ação social, ou inclusive à expressão dos próprios pensamentos e sentimentos, o que [...] é tender à inexistência”[140]. Mesmo a partir de uma perspectiva antiautoritária, esta influência é inevitável e saudável.

Na natureza, como na sociedade humana, que em si mesma não é outra coisa que natureza, todo ser humano está submetido à condição suprema de intervir da maneira mais positiva sobre a vida dos outros – intervindo de maneira tão poderosa quanto permite a natureza particular de cada indivíduo. Rechaçar esta influência recíproca significa conjurar a morte no pleno sentido da palavra. E quando pedimos liberdade para as massas não pretendemos ter abolido a influência natural exercida sobre elas por qualquer indivíduo ou grupo de indivíduos.[141]
No trabalho prático, esta influência deve se dar a partir das características que buscamos dar aos movimentos sociais. Anteriormente, quando tratamos dos movimentos sociais e da organização popular, detalhamos mais estas características. Portanto, não nos ocuparemos neste momento, novamente, de detalhar todas elas. Apenas pontuaremos, mais uma vez e de maneira breve, quais são as características que devemos sustentar nos movimentos sociais. São elas: força, classismo, combatividade, autonomia, ação direta, democracia direta e perspectiva revolucionária.

Os movimentos sociais devem ser fortes, sem caber dentro de uma ideologia, já que impor a causa do anarquismo aos movimentos sociais “não seria outra coisa senão uma ausência completa de pensamento, de objetivo e de conduta comum, e [...] deveria conduzir, necessariamente, a uma impotência comum”[142]. Devem ser classistas e possuir corte de classe, o que significa buscar participação ampla das classes exploradas e sustentar a luta de classes; devem ser combativos, estabelecendo suas conquistas por meio da imposição de sua força social; devem ser autônomos em relação ao Estado, aos partidos políticos, aos sindicatos burocratizados, à Igreja, entre outros organismos burocráticos e/ou autoritários, tomando suas decisões e agindo por conta própria.

Além disso, devem utilizar a ação direta como forma de ação política, em oposição à democracia representativa. “Fundamentalmente se trata de fazer prevalecer o protagonismo das organizações populares, brigando pela menor mediação possível e assegurando que a mediação necessária não implique no surgimento de centros de decisão separados dos interessados”[143]. Os movimentos sociais devem, ainda, utilizar a democracia direta como método de tomada de decisões, o que se dá nas assembléias horizontais em que todos os militantes decidem efetivamente, de maneira igualitária. A democracia direta não dá espaço a “nenhum gênero de privilégios, sejam estes econômicos, sociais ou políticos; [... e constitui] uma institucionalidade onde a revogabilidade dos membros está imediatamente assegurada e onde, portanto, não há espaço à habitual irresponsabilidade política que caracteriza a democracia representativa”[144]. Finalmente, a perspectiva revolucionária, que “deve ser introduzida e desenvolvida nele[s] por um trabalho constante dos revolucionários que atuam fora e dentro de seu seio, mas não pode ser a manifestação natural e normal de sua função”[145].

A inserção social da organização específica anarquista nos movimentos sociais que se dá pela influência, deve apontar, em um segundo momento para a conexão das lutas e a criação da organização popular, buscando permanentemente aumentar sua força social.

Para a realização do trabalho e da inserção social a organização anarquista deve atentar para algumas questões.

A mobilização deve acontecer, principalmente, pela prática, pois é em meio à luta que o povo nota que pode conquistar mais e mais. Muito mais do que falar, devemos ensinar pelo fazer, pelo exemplo, que é “melhor do que pelas explicações verbais que [o trabalhador] recebe dos seus camaradas, depressa reconhece todas as coisas pela sua própria experiência pessoal doravante inseparável e solidária com a do outros membros”[146]. É muito relevante considerarmos que o processo de mobilização e de influência passa, além dos aspectos objetivos da luta, pelos aspectos subjetivos. Nossa prática vem mostrando que para se mobilizar e influenciar os movimentos sociais é muito importante utilizar, não só os aspectos racionais e objetivos, mas também aspectos emocionais e subjetivos, sendo eles os laços afetivos e amizades ou relacionamentos que naturalmente vão sendo construídos no seio das lutas. É também relevante identificar as pessoas dos bairros, das comunidades, dos movimentos, dos sindicatos etc. que possuem influência sobre os demais (lideranças locais oriundas das bases e legitimadas por elas) e focar nelas os esforços. Estas pessoas são muito importantes para auxiliar na mobilização das bases, para potencializar a influência anarquista, ou ainda, para integrar os agrupamentos de tendência. Feita desta maneira, a mobilização termina funcionando como uma certa “conversão”, sendo importante observar que

[...] só se pode converter os que sentem necessidade de ser convertidos, os que já trazem nos seus instintos ou nas misérias da sua posição quer exterior, quer interior, tudo o que quiserem dar-lhes; nunca converterão os que não sentem necessidade de nenhuma mudança, nem mesmo os que, desejando sair de uma posição da qual estão descontentes, são impelidos, pela natureza dos seus hábitos morais, intelectuais e sociais, a procurar uma posição em um mundo que não é o das vossas idéias.[147]
Neste processo de mobilização, a organização específica anarquista deve sempre, independente de qualquer coisa, atuar com ética, tratando de não querer estabelecer relações de hierarquia ou de domínio com os movimentos sociais; de dizer a verdade e nunca enganar o povo e sempre sustentar a solidariedade e o apoio mútuo em relação aos outros militantes. Da mesma maneira, deve ter uma postura propositiva, buscando construir e fazer os movimentos caminharem para frente e não só ficar apresentando posições críticas.

Mesmo quando as posições da organização anarquista não forem majoritárias, elas devem ser evidenciadas, deixando claros os pontos de vista que defende. Quando em contato com movimentos hierarquizados, a organização anarquista deve sempre ter em mente que o que interessa a ela é sempre a base dos movimentos sociais. Portanto, para qualquer tipo de trabalho, a organização deve sempre se aproximar, não dos dirigentes e daqueles que detém as estruturas de poder dos movimentos sociais, mas sim dos militantes de base, que geralmente são oprimidos pela direção e que constituem a periferia, e não o centro dos movimentos.

Outra questão que deve ser observada é que os militantes da organização específica anarquista devem conhecer bem o ambiente em que estão atuando, possuindo presença constante nos movimentos sociais em que se propõem a realizar trabalho social. O conhecimento do “terreno” em que se atua é fundamental para saber quais são as forças políticas em jogo, quem são os possíveis aliados, quem são os adversários, onde estão as forças, as fraquezas, as oportunidades, e os riscos. A presença constante é importante para que os militantes anarquistas estejam completamente integrados com os outros militantes dos movimentos sociais, que tenham reconhecimento, legitimidade, que sejam ouvidos, que sejam queridos, que sejam pessoas bem-vindas.

Em um esquema estratégico, podemos entender que a organização específica anarquista deve realizar o trabalho social, já que “como anarquistas e como trabalhadores, devemos incitá-los e encorajá-los [os trabalhadores] à luta e lutar com eles”[148]. Incitando e encorajando o povo, devemos buscar a inserção social, e conseguir que os movimentos sociais trabalhem da forma mais libertária e igualitária possível. Com inserção social nos movimentos sociais, devemos conectar as lutas e construir a organização popular. Assim, conseguiremos estimular seu permanente aumento de força social e preparar as classes exploradas para a revolução social, já que “nosso objetivo é preparar o povo, moral e materialmente, para esta expropriação necessária; é tentar e renovar a tentativa, tantas vezes quanto a agitação revolucionária nos der a ocasião para fazê-lo, até o triunfo definitivo”[149], com o estabelecimento do socialismo libertário. Podemos dizer, então, que a função da organização específica anarquista no trabalho e inserção social é ser o “motor das lutas sociais. Um motor que nem as substitui e nem as representa”[150]. Julgamos poder constituir este motor “participando combativamente no dia a dia de lutas dos movimentos populares em atividade, em um primeiro momento, no Brasil, na América Latina e, em especial, no Rio de Janeiro.”[151]


Notas:

130. Nestor Makhno. "Nossa Organização". In: Anarquia e Organização, p. 32.

131. Errico Malatesta. "Programa Anarquista". In: Escritos Revolucionários, p. 23.

132. FARJ. "Carta de Princípios".

133. Mikhail Bakunin. "Algumas Condições da Revolução". In: Conceito de Liberdade, p. 127.

134. Idem. "Educação Militante". In: Conceito de Liberdade, pp. 145-146.

135. FAU. "Declaración de Principios". As aspas deste parágrafo são deste mesmo documento.

136. Errico Malatesta. "Programa Anarquista". In: Escritos Revolucionários, p. 18.

137. Idem. "A Propósito de Revolução". In: Anarquistas, Socialistas e Comunistas, p. 55.

138. Em "Em Torno de Nosso Anarquismo", Malatesta enfatiza: "Provocar, tanto quanto nos seja possível, o movimento, nele participando com todas as nossas forças, imprimindo-lhe o caráter mais libertário e mais igualitário que seja; apoiar todas as forças progressivas; defender o que é melhor quando não se puder obter o máximo, mas conservar sempre bem claro nosso caráter de anarquistas". [grifos nossos] Ver Escritos Revolucionários, p. 80.

139. Errico Malatesta. "A Organização das Massas Operárias...". In: Escritos Revolucionários, p. 40.

140. Mikhail Bakunin. "Libertad e Igualdad". In: G. P. Maximoff (org.). Escritos de Filosofia Política vol. II. Madrid: Alianza Editorial, 1990, p. 9.

141. Ibidem.

142. Idem. "Táctica e Disciplina do Partido Revolucionário". In: Conceito de Liberdade, p. 192.

143. FAU. "Declaración de Principios".

144. Ibidem.

145. Errico Malatesta. "Los Anarquistas y los Movimientos Obreros". Excerto de Umanità Nova, 6 de abril de 1922. In: Vernon Richards. Op. Cit. p. 114.

146. Mikhail Bakunin. "Educação Militante". In: Conceito de Liberdade, p. 146.

147. Ibidem. "Operários, Camponeses, Burgueses e Intelectuais". In: Conceito de Liberdade, p. 110.

148. Errico Malatesta. "Programa Anarquista". In: Escritos Revolucionários, p. 18.

149. Ibidem. p. 17.

150. FAU. "Declaración de Principios".

151. FARJ. "Carta de Princípios".

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