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Entrevista Do Luta Social Com Militantes Franceses Dos Comités Syndicalistes Révolutionaires

category frança / bélgica / luxemburgo | workplace struggles | entrevista author Thursday August 28, 2008 18:32author by Colectivo «Luta Social»author email iniciativalutasocial at gmail dot com Report this post to the editors

Realizou o Colectivo Luta Social (Portugal) a seguinte entrevista a militantes franceses dos CSR.

Luta Social : Como definis a vossa organização ?

- Nós reivindicamo-nos da corrente sindicalista revolucionária histórica. Esta corrente começou por existir sob forma da Federação das Bolsas do Trabalho em 1892. Estas Bolsas do Trabalho organizavam as lutas operárias locais numa base interprofissional. Mas estas estruturas também estavam muito activas nas estruturas geridas pelos socialistas integradas nas Bolsas do Trabalho : colocação de trabalhadores desempregados, sociedades de socorro mútuo (subsídios de desemprego, de doença, de acidentes de trabalho, de reforma ...), cooperativas de produção e de distribuição, centros de saúde, teatros e actividades culturais, desporto operário, escolas profissionais ...
A Federação das Bolsas do Trabalho integrou-se, em seguida, na CGT, em 1902.
Desde essa data esta confederação funciona sobre duas bases : as Uniões Locais (Bolsas do Trabalho) e os sindicatos de indústria.
Em 1914, a corrente SR perdeu a maioria na CGT, o que motivou a criação de uma tendência SR : os Comités Sindicalistas Revolucionários. Nós reconstituímos essa tendência em 1997 principalmente no seio da CGT mas também na Confederação «Solidaires» (SUD), na CNT e na CGT-FO.
Nós defendemos o programa histórico da CGT resumido na Carta de Amiens.

Luta Social: Qual é a proporção de jovens, de trabalhadores precários, de desempregados ?

A nossa organização está sobretudo activa nas Uniões Locais da CGT e na juventude. Temos portanto uma forte proporção de camaradas e de simpatizantes precários (trabalhadores temporários, contratados a prazo, empregos precários do sector público). Estamos bem mais capazes de organizar os jovens trabalhadores, visto que defendemos a criação de sindicatos de
indústria que permitam sindicalizar os precários e os trabalhadores das pequenas empresas.

Luta Social : Qual é o papel das lutas sindicais e de classe, hoje em dia ?

Para nós não se trata de multiplicar as lutas sectoriais mas de favorecer as convergências interprofissionais. Recusamos os desvios localistas ou corporativistas, assim como o activismo de tipo esquerdista. O verdadeiro desafio é de organizar os trabalhadores no seu sindicato a fim de desenvolver a formação e as capacidades de gestão de um máximo de trabalhadores. Esta gestão operária prepara as condições para a apropriação da sociedade pelos sindicatos.

Uma das nossas actividades principais é portanto de garantir a formação dos sindicalizados, nas confederações onde os nossos militantes têm responsabilidades neste domínio, mas também enquanto CSR.

Encorajamos igualmente a sindicalização, explicando que o Socialismo se constrói no quotidiano, criando uma contra sociedade dos trabalhadores, na vida democrática do sindicato mas também nas actividades de ajuda mútua que nós animamos (apoio escolar para crianças, alfabetização dos trabalhadores imigrantes, desporto dos trabalhadores, actividades culturais nas UL ...)

Luta Social : Que estratégias propõem para contrariar a ofensiva do patronato e do governo ?

Para contrariar a ofensiva da burguesia é indispensável de preparar as condições para uma greve geral. Os aparelhos sindicais multiplicam as lutas sectoriais com o fim de evitar um confronto frontal com o inimigo. Nós desenvolvemos uma estratégia alternativa, apoiando-nos nas Uniões Locais e nos sindicatos de indústria para alargar a relação de forças e as perspectivas da classe.

Luta Social : Que problemas encontrais para vos fazer compreender dos trabalhadores ?

O problema principal continua sendo as lógicas individualistas e corporativistas presentes no quotidiano do trabalhador. É nas organizações interprofissionais e de indústria que os trabalhadores compreendem que os seus problemas não são individuais.
O segundo obstáculo é a delegação de poder, frequentemente mantida pelas burocracias social-democratas e esquerdistas. É necessário explicar constantemente o que é o federalismo e a democracia operária e ligar esta prática com a perspectiva comunista* [*Nota do tradutor : usam o termo 'comunista' no sentido dos fins, de 'sociedade comunista'].

O terceiro problema é o retraimento afinitário. Nos sindicatos «alternativos» (SUD, FSU, CNT) o discurso ideológico serve como justificação a pequenas burocracias. A identidade filosófica permite justificar a cisão sindical.
Existem, em França, 5 confederações que se reivindicam do sindicalismo de classe e cada uma mantém a sua identidade com o objectivo de evitar a unidade de acção. A ausência de Frente Única torna difícil a mobilização mas também a perspectiva revolucionária que consiste em avançar com o conceito do sindicato enquanto futuro órgão de gestão socialista.

A desorganização do PCF produziu a desorganização da CGT, cada rede de militantes se centrando no seu sindicato, sua UL, sua UD (União Departamental). Também neste caso a rede oriunda do PCF procura demarcar-se das outras, com o objectivo de proteger o seu pequeno poder.

Infelizmente esta deriva é frequentemente bem acolhida pelos trabalhadores, sobretudo os jovens. Com efeito, é muito tranquilizador afirmar-se «revolucionário» num sindicato afinitário sem precisar de assumir a responsabilidade de organizar o confronto com a burguesia. A contestação tem cada vez mais tendência a deslocar-se para o terreno cultural e filosófico e a desertar as lutas de classe no terreno social. Este medo de organizar a batalha de classe justifica-se pelo retraimento no interior dos aparelhos e sobre a sua afirmação cultural.

Luta Social: Com que organizações sindicais ou tendências tendes diálogo ?

Desde a criação do CSR, este propôs constantemente campanhas centradas na unidade de acção. Mas nos sindicatos alternativos, assim como na CGT, as pequenas burocracias «anti-capitalistas» cultivam o seu isolamento fim de preservarem seu pequeno aparelho.

Este fechamento provocou uma verdadeira despolitização do meio militante. É o que nós chamamos a « deriva anarco-sindicalista» tal como já existiu aquando da crise do movimento operário dos anos 1920. O discurso filosófico abstracto vai de par com uma ausência de debate estratégico. A prática do CSR, favorecer a Frente Única enquanto se continua debatendo, inquieta todos os aparelhos militantes. Todas as correntes são obrigadas a trabalhar ao nível local com os nossos militantes, pois nós somos influentes, apesar de nossos efectivos limitados. Mas esta unidade é difícil de manter pois todas as outras correntes, mesmo as com maior implantação, têm medo de iniciar o debate connosco pois nós possuímos uma verdadeira estratégia revolucionária ligada a uma actividade real no terreno.

Luta Social: Que contactos tendes mantido ao nível internacional ?

Desde a nossa criação, contactámos o IWW. Procurávamos trocar reflexões estratégicas com os nossos camaradas norte americanos. Nessa altura, no entanto, dissemos que não queríamos aderir [ao IWW]. Queríamos existir enquanto organização activa e influente em França antes de nos coordenar com outras organizações que se reivindicam do SR.
Há dois anos, iniciámos um pedido de adesão ao IWW, pois nós dispomos actualmente de uma influência que permite coordenar as actividades internacionais.
No entanto, queremos que esta adesão seja acompanhada de um debate com o IWW, pois somos críticos em relação a elementos de táctica e de organização interna dos IWW. Pensamos que não pode haver apenas um único esquema de organização dos SR ao nível internacional. Nalguns países, é possível que se justifique criar sindicatos IWW autónomos. Mas em muitos países existem já confederações onde os SR podem agir para o reforço dos sindicatos de indústria e das Uniões Locais. Criar sindicatos IWW seria totalmente artificial em França e iria cortar-nos da grande massa dos sindicalizados.
No nosso país, o sindicalismo revolucionário está ligado à CGT e a batalha interna não pode ser abandonada.
Criar um sindicato novo pode parecer reconfortante mas no final sacrifica-se frequentemente a formação dos aderentes e se concentram as atenções na construção de um novo aparelho que repousa sobre forças militantes reduzidas e que está sujeito, portanto, a derivar em pequena burocracia. Para se construir verdadeiras UL e sindicatos de indústria, é necessário aderentes
numerosos e militantes.
Em França, constatamos o fracasso da CNT e de SUD por estas razões. Estas experiências devem servir para que noutros países os mesmos erros não se reproduzam.

Luta Social : Qual é a vossa análise sobre Portugal e o movimento sindical português ?

A situação sindical portuguesa parece-nos muito mais simples que a que encontramos em França. Existem duas confederações, uma que se diz luta de classes e a outra que se gaba da colaboração com a burguesia.
Da facto, a história do sindicalismo português é relativamente próxima do que encontramos em França, apesar de que a ditadura salazarista teve um verdadeiro impacto. Com efeito, a [antiga] CGT portuguesa é uma das confederações que foi mais longe na imitação do modelo da CGT francesa. Isto foi assim no início do século XX, quando os sindicalistas revolucionários portugueses se inspiraram largamente nos seus camaradas franceses no que diz respeito à estruturação sindical (sindicatos de indústria, Bolsas do Trabalho, Juventudes Sindicalistas ...). Isto também aconteceu no que respeita à viragem de muitos SR para o PC, tendo a França servido de exílio durante a ditadura. O CSR português foi criado em 1923 sobre o modelo do CSR francês de 1919. Depois, o PC português inspirou-se da experiência da CGT estalinista francesa para implantar um modelo sindical bastante parecido em Portugal.
Com todos estes elementos, pensamos que as nossas experiências respectivas na CGTF e na CGTP devem ser debatidas e dadas a conhecer para melhorarmos a nossa intervenção sindical.

Luta Social : Como podemos contribuir mais activamente para a unidade de classe dos trabalhadores, aos níveis local, regional e internacional.

Os nossos militantes participam desde há 15 anos em toda uma série de encontros internacionais das redes sindicais alternativas e de influência libertária. Infelizmente, estas reuniões serviram, sobretudo, a produzir textos de princípios com uma dimensão muito afinitária. Com excepção de uma verdadeira coordenação de 4 ou 5 sindicatos ferroviários (CGT de Espanha,
SUD, sindicatos de base italianos, RTM britânico ...) estes encontros não deram em grande coisa, excepto em fazer crer que existe uma verdadeira actividade internacional.

Pensamos, pelo contrário, que o movimento sindical internacional deve se reconstruir a partir de actividades de ramo de indústria à escala internacional, coordenando sindicatos nas mesmas multinacionais e nos mesmos sectores profissionais. É também a este nível que podemos tecer laços entre sindicatos dos países de emigração e dos países de imigração.

No que diz respeito á dimensão anti-capitalista, é preciso ter em conta a situação de recuo que nós sofremos desde uma trintena de anos, na maioria dos países. Os sindicatos não estão em situação de se apropriar de uma estratégia anti-capitalista, pois os militantes sindicais têm de se concentrar constantemente em lutas defensivas. É neste quadro concreto que os SR devem intervir com o objectivo de elaborar colectivamente, entre militantes revolucionários motivados, uma estratégia revolucionária inserida nas lutas. Depois é muito mais fácil usar a nossa formação e o nosso material para propor análises nas AG de sindicatos. Seria irrealista crer que a situação actual permite construir sindicatos de massa, revolucionários. É preciso primeiro redefinir um projecto de sociedade e uma estratégia que lhe esteja associada e isto ainda não pode ser realizado no seio de uma organização de massas, devido á ausência de formação política da
grande maioria dos sindicalizados. É esta a função que atribuímos a organizações SR activas enquanto tendências em confederações sindicais. Esta estratégia será tanto mais fácil de elaborar quanto nós conseguirmos, no seio da IWW, a colectivizar o trabalho de reflexão.

A unidade internacional deve portanto ser levada a cabo a dois níveis : coordenar as actividades nos sindicatos de indústria, com os nossos sindicatos, mas também elaborar uma estratégia anti-capitalista graças à existência de organizações que agrupam militantes sindicalistas revolucionários.
Por isso, convidamos todos os militantes favoráveis ao sindicalismo revolucionário, independentemente das suas filiações filosóficas, a se reunirem no seio de uma única organização internacional para estruturar essa actividade comum.

[traduzido por MB para o Luta Social (Portugal)]

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