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MORRER LUTANDO ANTES QUE MORRER DE FOME

category brazil/guyana/suriname/fguiana | repressão / prisioneiros | news report author Saturday March 08, 2008 07:21author by evandro couto - FAG Report this post to the editors

8 de março. As mulheres trabalhadoras peleiam o futuro

A semana foi sacudida pelos metódos de ação direta e a dignidade peleadora das mulheres trabalhadoras do estado. Na terça-feira 04 de março a fazenda tarumã em Rosário do Sul amanheceu aos golpes de foice e facão fazendo justiça popular contra a propriedade da sueco finlandesa Stora Enso e a suas áreas daninhas de eucalipto invasoras da faixa de fronteira. Uma repressão brutal se desatou sobre 900 mulheres e 250 crianças sob as ordens do subcomandante Mendes e os socos e pontapés do coronel Lauro Binsfield e seus comandados. Cerca de 50 camponesas feridas por balas de borracha, estilhaços, incuído crianças, e duas presas.
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Na quarta-feira as mulheres da via campesina ainda eram “guardadas” em Santana do Livramento pelas forças policiais quando 8 bloqueios são levantados no estado pelo MST em solidariedade com as lutadoras. Em Porto Alegre, as companheiras do Movimento dos Catadores (MNCR), MTD, Resistência Popular, Levante da Juventude, Grupo de teatro Ói nóis aqui traveiz e Via Campesina dirigiam a ação para as portas do Teatro São Pedro onde se encontrava a governadora Yeda Crusius. Uma companheira libertária roubou a cena amamentando um pequeno esqueleto durante a cerimônia que participava a governadora com as suas.


Na quinta-feira foi a vez das mulheres do MTD se lançar na ocupação de repartições públicas em seis cidades pr frentes de trablho. A Via Campesina, no mesmo dia fez um protesto em frente a polícia federal denunciando a invasão das transnacionais na faixa de fronteira do estado. Em Santana do Livramento as mulheres que haviam ocupado a fazenda da Stora Enso novamente tomaram as ruas com o protesto na praça entre Brasil e Uruguai cantando valentes a Internacional. Durante a manifestação uma companheira sem terra foi atropelada por um fazendeiro da região.


Nos unimos aos protestos com a certeza de que a dignidade das mulheres tem que ser peleada contra quem nos tira o futuro e de que a solidariedade se pratica em atos. Os governos do país e do estado não venderão a pampa sem resistência. Nada podemos esperar senão de nós mesmos, as mulheres trabalhadoras, os pobres do campo e da cidade, os oprimidos deste Brasil.


Reproduzimos abaixo o manifesto da Via Campesina sobre a ação direta de 04 de março.


Manifesto das Mulheres da Via Campesina

Nós mulheres da Via Campesina do Rio Grande do Sul estamos mais uma vez mobilizadas, nesta semana do 8 de março, para intensificar nossa luta contra o agronegócio e em defesa da soberania alimentar da população brasileira.

A soberania alimentar é o direito dos povos de produzir sua comida respeitando a biodiversidade e os hábitos culturais de cada região. Hoje em nosso país as riquezas naturais estão sob domínio das empresas multinacionais do agronegócio e a população tem cada vez menos acesso à terra, à água e aos alimentos.

Nós mulheres somos as primeiras a serem expulsas das atividades agrícolas nas áreas onde avança o agronegócio. Nosso trabalho é importante em uma agricultura camponesa porque sabemos produzir alimentos. Mas as empresas do agronegócio não estão preocupadas em produzir comida, só em produzir lucro transformando o campo em desertos verdes (de eucalipto, de soja, de cana). Um dos desertos que mais cresce em nosso Estado é o de eucalipto para celulose.

As empresas de celulose estão fechando fábricas nos Estados Unidos e na Europa e vindo para a América Latina. Aqui encontram muita terra, água, clima favorável e governos dispostos a atender seus interesses. Mais de 90% da produção de celulose do Brasil é para exportação. Assim, reduzimos a produção de comida, destruímos a biodiversidade, aumentamos a pobreza e a desigualdade para atender a demanda de lucro das empresas e um estilo de vida consumista nos países ricos. Esse é o papel horroroso que o Brasil cumpre hoje no mundo.

Uma das empresas responsáveis pelo avanço do deserto verde no Rio Grande do Sul é a Stora Enso, multinacional sueco-finlandesa. Pela lei brasileira estrangeiros não podem ter terra em uma faixa de 150 km da fronteira do Brasil com outros países. Acontece que a Stora Enso já tem milhares de hectares plantados no Uruguai e é exatamente próximo da fronteira gaúcha com este país que essa gigante do ramo de papel e celulose quer formar uma base florestal de mais de 100 mil hectares.

Inicialmente a Stora Enso tentou comprar as terras em nome da empresa Derflin, o braço da multinacional para produção de matéria prima, que por ser estrangeira não conseguiu legalizar as áreas.

Para viabilizar sua implantação a multinacional criou uma empresa laranja que está comprando as terras em seu nome: a agropecuária Azenglever Ltda, cujos donos são dois importantes funcionários da Stora Enso. Eles se tornaram os maiores latifundiários do estado, sendo "proprietários" de mais de 45 mil hectares. Essa operação ilegal é de conhecimento dos Ministérios Públicos Estadual e Federal, do Incra, da Polícia Federal, mas nada de concreto foi feito para impedir o avanço do deserto verde. Decidimos então romper o silêncio que paira sobre esse crime.

Nossa ação é legítima. A Stora Enso é que é ilegal. Plantar esse deserto verde na faixa de fronteira é um crime contra a lei de nosso país, contra o bioma pampa e contra a soberania alimentar de nosso estado que está cada vez mais sem terras para produzir alimentos. Estamos arrancando o que é ruim e plantando o que é bom para o meio ambiente e para o povo gaúcho.

Alguns parlamentares gaúchos ao invés de combaterem a invasão dos estrangeiros estão propondo reduzir a Faixa de Fronteira para legalizar o crime. Usam o argumento de que a faixa de 150 km impede o desenvolvimento econômico dos municípios. Mas isso é uma grande mentira. Todos sabem que a Metade Sul não se desenvolve por causa do latifúndio e das monoculturas. Tanto que a faixa de fronteira também vigora na metade norte do estado e nessa região a economia é dinâmica.

As empresas de celulose prometem gerar emprego e desenvolvimento. Mas onde elas se instalam só aumenta o êxodo rural e a pobreza. Os trabalhos que geram são temporários, sem direitos trabalhistas, em condições precárias. Um exemplo é a Fazenda Tarumã em Rosário do Sul, de 2,1 mil hectares onde a Stora Enso gera somente dois empregos permanentes e alguns empregos temporários.

Se essa área for destinada para a reforma agrária podem ser assentadas 100 famílias gerando no mínimo 300 empregos diretos permanentes. Portanto, a Reforma Agrária e a Agricultura Camponesa é que são a melhor alternativa para preservar a biodiversidade, gerar trabalho e renda para a população do campo e alimentos saudáveis e mais baratos para quem mora nas cidades.

O projeto que tramita no Senado propondo reduzir a Faixa de Fronteira brasileira não inclui a Amazônia porque entende que isso seria uma ameaça para a floresta. Ou seja, admite que a redução da Faixa de Fronteira irá aumentar a destruição ambiental. Para nós todos os biomas brasileiros são importantes e entendemos que o Cerrado e o Pampa também precisam ser preservados.

Nós mulheres da Via Campesina reivindicamos das autoridades brasileiras:

- Anulação das compras de terra feitas ilegalmente pela Stora Enso na faixa de fronteira e expropriação dessas áreas para a reforma agrária. Somente nos 45 mil hectares que estão em nome da empresa laranja, a Agropecuária Azenglever daria para assentar cerca de 2 mil famílias, gerando 6 mil empregos diretos. Atualmente 2.500 famílias estão acampadas no Rio Grande do Sul e o Incra alega não ter terras para fazer assentamento.

- Retirada dos projetos no Senado e na Câmara Federal que propõem a redução da Faixa de Fronteira. Essa medida só vai beneficiar empresas como a Stora Enso que querem se apropriar das terras para transformá-las em deserto verde, destruir nossas riquezas naturais como o aqüífero guarani e o bioma Pampa. Para o povo gaúcho essa redução da faixa de fronteira só vai provocar aumento do êxodo rural, do desemprego, da destruição ambiental e o fim soberania alimentar pois vai faltar terra para produzir alimentos.

Sabemos que por lutar contra o deserto verde podemos sofrer a repressão do governo gaúcho. É prática desse governo tratar os movimentos sociais como criminosos e proteger empresas que cometem crimes contra a sociedade. Vamos resistir. Nossa luta é em defesa da vida das pessoas e do meio ambiente. Estamos aqui em 900 mulheres, mas carregamos conosco a energia e a coragem das milhares de camponesas que em todo o mundo lutam contra a mercantilização das riquezas naturais e da vida. Como dizia a companheira sem terra Roseli Nunes, assassinada covardemente em março de 1987 aqui no Rio Grande do Sul, "preferimos morrer lutando do que morrer de fome!".

Mulheres da Via Campesina do Rio Grande do Sul

Brasil, 04 de março de 2008.

Related Link: http://www.vermelhoenegro.org/fag

Ação direta da Via Campesina resiste a invasão da pampa pelo agronegócio
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Repressão de 04 de março deixou cerca de 50 companheiras feridas
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Em Porto Alegre governadora foi intimada pelo protesto social
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author by Mateus Florespublication date Sun Mar 09, 2008 06:17author email mateus.flores at gmail dot comauthor address author phone Report this post to the editors

Videos sobre ocupação da Fazenda da Stora Enso no dia 4 de março pelas mulheres da Via Campesina que foram brutalmente reprimidas e torturadas pela Brigada Militar

Parte 1 - http://br.youtube.com/watch?v=8Xi3bHF_G6s
Parte 2 - http://br.youtube.com/watch?v=Wb9EUSnTC58

 

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