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Quando a Crise Aérea é o Grande Problema Do Brasil

category brazil/guyana/suriname/fguiana | miscellaneous | opinião / análise author Thursday August 30, 2007 06:26author by Felipe Corrêa Report this post to the editors

Este artigo trata, rapidamente, das polêmicas em torno da crise aérea. Seu principal objetivo é questionar a visão das classes média e alta sobre o governo Lula, entendendo quem gosta e quem não gosta dele e de seu governo. O texto tenta passar um pouco pelos grandes problemas sociais que assolam o país e pensar por que, neste contexto, há gente que acredita que a crise aérea é o grande problema do Brasil de 2007.

Desde o acidente com o avião da Gol, ocorrido em setembro de 2006, e o agravamento do chamado “apagão aéreo” pelo acidente com o boeing da TAM, que matou quase 200 pessoas em 17 de julho de 2007, consolidou-se o discurso monotemático da imprensa e das classes mais abastadas em torno do assunto. Mostram revolta: poucos apontam as empresas como co-responsáveis e a maioria enxerga no acidente uma ótima maneira de criticar o governo de Lula, não sem razão; outros, empolgados com o momento, pedem até o impeachment de Lula.

Algumas questões não querem calar. Por que motivo, tanto a imprensa, quanto a classe média acham que a crise aérea está entre os maiores problemas do país? Por que, da mesma forma, uma e outra, acham que isso seria suficiente para derrubar o governo de Lula? E a classe alta, pensa da mesma forma? Afinal, qual é a real avaliação que o brasileiro faz do governo Lula? Estaria, de fato, o apagão aéreo, entre os principais problemas do Brasil, como quer fazer crer a imprensa?


LULA E A CLASSE MÉDIA BRASILEIRA, OU, QUEM GOSTA DO LULA?

A reivindicação do impeachment de Lula por setores das classes média e alta e movimentos como o Cansei mostram um retrato do fenômeno que tentaremos demonstrar, e que podemos resumir da seguinte forma: a classe média e grande parte da classe alta são incapazes de observar além daquilo que está ao seu redor. Para elas, é raríssimo tecer qualquer observação pertinente, de qualquer coisa, que vá para além de seus próprios círculos de convivência.

Um olhar um pouco mais atento ao sentimento “geral” do país, extrapolando o universo das classes média, alta e com imensas influências da classe baixa, anunciará que a popularidade de Lula, não só não baixou, como aumentou, se comparada a alguns períodos do ano passado.

Para uma rápida análise, observemos duas recentes pesquisas. Em uma primeira, encomendada pela revista Carta Capital e Band News para o Vox Populi, publicada na própria revista[1], ao responderem se, de maneira geral, aprovam ou desaprovam a atuação do governo Lula, 60% do público dizem aprovar e 34% reprovar. O índice de aprovação é o maior desde maio de 2006, com exceção do mês de outubro, quando Lula elegeu-se com 63% de aprovação. Em outro quadro, que faz uma avaliação dos primeiros seis meses de mandato, o governo de Lula foi avaliado como positivo por 47% dos entrevistados, índice maior do que os dois mandatos de Fernando Henrique, Itamar e Collor. Outra pesquisa publicada no domingo, dia 05 de agosto de 2007, pela Folha de São Paulo, mostra dados semelhantes. A pesquisa, realizada pelo Datafolha, mostra que 48% dos entrevistados avaliam o governo de Lula como ótimo ou bom, enquanto somente 15% avaliam como ruim ou péssimo.

Mas se Lula tem sido tão criticado nos círculos das classes média e alta, quem é que avalia de maneira positiva seu governo? Com uma observação mais detalhada nas pesquisas, pode-se notadamente perceber que quanto mais pobres e menos instruídos os entrevistados, melhor avaliam o presidente. Dos entrevistados na pesquisa Vox Populi que recebem até um salário mínimo, 69% aprovam o governo de Lula. Entre os que recebem mais de 10 salários mínimos, a aprovação diminui para 42%. Os dados são semelhantes quando se observa o grau de instrução dos entrevistados. Dos que estudaram até a 4ª série do ensino fundamental, 69% aprovam o governo de Lula, ao passo que daqueles com curso superior, somente 46% o aprovam.

Isso poderia conduzir a conclusões simplistas. Os mais pobres do país, muitos assistidos pelos programas sociais do governo, aprovam amplamente o governo de Lula. Os mais ricos, não beneficiados pelos programas sociais e que sentem, pela estabilidade da economia e aumento do crédito, uma entrada dos menos favorecidos na classe média, reprovam. Os menos instruídos, que “votam pela identidade de classe e pelo assistencialismo do governo”, aprovam. Os mais instruídos, ou os que têm mais contato com a imprensa, que são mais informados, reprovam.

E, de fato, o acesso à imprensa faz com que aumentem as críticas sobre o governo. Se uma parcela da imprensa simplesmente reproduz um discurso ideológico, em defesa da classe dominante, o fato é que há críticas muito bem embasadas sobre o desempenho de Lula e de seu governo. Como mostrou recente relatório do Banco Mundial[2], este governo é o mais corrupto dos últimos tempos e o que mais vem utilizando o Estado para fins partidários – o vulgo “aparelhamento” do governo –, talvez um pouco do que ainda restou da origem leninista de alguns membros do PT.

No entanto, para uma análise da situação como um todo, e não para uma observação restrita somente daquilo que é evidente e que está ao nosso lado, não podemos terminar a análise aí. Resta uma dúvida que não é esclarecida pelas duas pesquisas citadas. E os ricos de verdade? E a verdadeira classe dominante?

Ao observar a “faixa dos mais ricos” entrevistados na pesquisa Vox Populi, não conseguimos responder esta pergunta, visto que ela só nos mostra uma faixa única daqueles que recebem “mais de 10 salários mínimos”, ou seja, a partir de R$ 3800,00 mensais. A dúvida permanece.

Observando com um pouco de cuidado o contexto do Brasil, não seria um absurdo dizer que a classe A, ou seja, a classe alta de verdade, a elite do país, apesar dos desgostos pelas origens do petista, beneficia-se muito da situação econômica estabilizada por seu governo. São inúmeros os grandes proprietários, investidores e banqueiros que tecem elogios a Lula. Claros exemplos disso são os lucros anunciados recentemente pelos bancos privados do Brasil. Um artigo da Gazeta Mercantil[3], informa que o Bradesco afirma ter tido um lucro líquido de mais de 4 bilhões de reais, somente no primeiro semestre de 2007; um aumento de quase 30% em comparação aos lucros do mesmo período do ano passado. Este era o maior lucro entre bancos privados de capital aberto dos últimos 20 anos[4], até o anúncio dos lucros do Itaú no semestre: 4,02 bilhões.[5] O que será que os donos desses bancos acham do governo do Lula?

A política econômica do governo Lula deu espaço para que bancos faturassem como nunca, a estabilidade atraiu investimentos estrangeiros. Outro exemplo, são os empresários usineiros que, pelo incentivo de Lula ao álcool, estão sorrindo de orelha a orelha. José Pessoa de Queiroz Bisneto, empresário do ramo, proprietário de oito usinas e 11 mil empregados, afirma, em entrevista para a revista Audi Magazine[6]: “recentemente, quando apoiei Lula para presidente, no primeiro mandato dele, achava engraçado: tinha um monte de gente que morria de medo do Lula. Hoje o setor dá graças a Deus. Lula está em lua-de-mel com o setor, o etanol... O mundo veio a falar de etanol depois do Lula”. Poderíamos citar muitos outros exemplos.

Também não seria um absurdo entender o fenômeno da classe média que odeia o Lula. Por uma série de motivos, o fato é que o cidadão da classe média olha muito mais para cima do que para baixo; é muito comum uma pessoa que recebe seus R$ 3000,00 por mês, achar que está mais próximo do Bill Gates, do que do trabalhador que recebe um salário mínimo por mês. Reclama que não tem o que o rico tem, no entanto não observa o que tem a mais que o pobre. Isso porque a classe média não se move tanto pela racionalidade econômica, como a dos banqueiros e empresários; ela assume e absorve a ideologia da classe dominante e para se sentir mais próxima dos ricos, afasta-se dos pobres, e a melhor forma que encontra para fazer isso é justamente expressando uma visão de mundo de classe dominante. A classe média tem medo do Lula por acreditar que “ele é de esquerda”, algo que qualquer um, um pouco mais instruído, sabe que não é faz tempo; podemos confirmar isso com todo o setor privado que confirmará que de “comunista”, Lula não tem nem o cheiro. A classe média está ameaçada; acredita que está perdendo os poucos privilégios que lhe restam e que lhe fazem sentir tão superior aos pobres. É assim que endossam a visão de Veja e outros veículos que exprimem uma ideologia da classe dominante para a classe média. Isso com relação a todos os assuntos. Recordemos do bom e velho Chomsky que dizia que se você quer ser informado de verdade, deve ler um jornal de rico (de investidores, fundamentalmente) – ele cita o exemplo do Financial Times – pois, falava ele, a mídia feita para classe média tem óbvias intenções de ludibriar os leitores, expondo-os aos valores que essa imprensa gostaria que eles acreditassem. Extrapolando essa visão para o Brasil, Chomsky recomendaria a leitura da Gazeta Mercantil, ao invés de Veja, Folha ou Estado de São Paulo.


CRISE AÉREA E PROBLEMAS SOCIAIS DO BRASIL

O fato de as classes média e alta estarem focadas simplesmente nos seus próprios problemas faz com que acreditem realmente que o grande problema do Brasil de hoje é a crise aérea. Recordemos que somente 8% da população têm costume de voar de avião e não é estranho o fato de que aqueles que produzem as notícias da imprensa estejam dentro desses 8%. No entanto, será que esse realmente é o grande problema do Brasil? Observemos rapidamente alguns outros problemas do país.

DESIGUALDADE SOCIAL
O Brasil é um país com índices altíssimos de desigualdade social, constituindo uma sociedade em que poucos têm muito e que muitos têm pouco. A renda média dos 10% mais ricos do país é 28 vezes maior do que a renda média dos 40% mais pobres. Nos Estados Unidos, a proporção é de cinco vezes, na Argentina 10 vezes e na Colômbia 15 vezes.[7] O mesmo estudo mostra que o Brasil, ao ser comparado com outros países em termos de renda per capita, está dentro do terço mais rico dos países do mundo. Somente 36% dos países do mundo têm uma renda per capita maior que a do Brasil. Apesar disso, o que se conclui é que a média do Brasil é boa, mas que essa renda média está longe de ser igualmente dividida. A população pobre do Brasil representa 30%, ao passo que nos países que possuem renda semelhante, este índice é de 10%.

DESEMPREGO
O desemprego assola grande parte da população; praticamente 10% estão desempregados, como mostram os dados do IBGE[8]. Aos que ainda possuem registro, há ameaça do desemprego. Aos milhões de trabalhadores “informais”, resta a insegurança e a falta de garantias duramente conquistadas e incorporadas na lei. Os desempregados servem de exército de reserva para que os que estão empregados ganhem menos, pela possibilidade de outros desempregados estarem em seu lugar. O desemprego é considerado o terceiro maior problema das cidades[9] e apesar dos índices terem baixado em 2001, a partir de 2002 voltam a subir, encontrando praticamente o patamar dos anos anteriores.[10]

EDUCAÇÃO
Um estudo da ONG Ação Educativa mostra que apenas 25% dos brasileiros com mais de 15 anos têm pleno domínio das habilidades de leitura e escrita.[11] O mesmo estudo mostra que 38% dos brasileiros são analfabetos funcionais, desses, 8% são completamente analfabetos[12] e 30% tem habilidade em leitura e escrita muito baixa, conseguindo compreender as letras, mas não o significado de um texto, por exemplo. Hoje, somente 20% da população brasileira têm o ensino fundamental e médio completos, e a pesquisa mostra que, por isso, os outros 80% da população, que não concluíram o segundo grau, não têm as condições básicas de alfabetização. Aqueles que não podem pagar por uma escola particular, sofrem os efeitos de uma educação pública em frangalhos que não tem estrutura e nem professores. Alunos e professores sofrem as conseqüências de um ensino debilitado, baixos salários, e uma vida escolar deprimente que, quando muito, ensinará ao aluno algumas letras, transformando-o em um analfabeto funcional.

HABITAÇÃO
A classe baixa também é assolada por problemas habitacionais, já que não há condições decentes de habitação para ela. O tipo do mercado residencial brasileiro que, excludente, reserva à grande parte da população condições precárias de habitação que tem de se apertar em favelas, ocupações, locações ilegais, loteamentos clandestinos, etc. As recentes políticas públicas de habitação possuem como principal objetivo a “limpeza social” das cidades, afastando dos olhos daqueles que estão inseridos no mercado (classes média e alta) toda a pobreza. É assim que cidades como São Paulo, buscam empurrar a pobreza e a exclusão para a periferia, fazendo com que onde circule a classe privilegiada, onde a imprensa esteja presente, esteja tudo “muito bem”. Dessa forma, finge-se que a violência e a pobreza não existem, que os efeitos da desigualdade e da injustiça não aparecem; a idéia é reforçar o princípio do “o que os olhos não vêem o coração não sente”. Além disso, há relativa polêmica sobre o déficit exato de habitação no país: existe, por exemplo, estudo feito pela Fundação João Pinheiro, em 2000, que aponta o déficit brasileiro como 7,2 milhões de moradias; no entanto, há outros estudos, como por exemplo, o da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE e do Núcleo de Estudos da População da Unicamp, publicado posteriormente, que apontam um déficit de 3,1 milhões.[13] Para uma idéia de onde está esse déficit, podemos usar uma pesquisa relativamente antiga, mas que possui números interessantes.[14] Desse déficit, a maioria se dá na coabitação familiar nas regiões urbanas (52%), seguido por habitação precária rural (22%), habitação precária urbana (15%) e coabitação familiar rural (11%). Fora o déficit de habitação, podemos também tratar do déficit de “habitabilidade”, já que serviços básicos decentes como saneamento, esgotos, tratamento de água, coleta de lixo, eletricidade, dentre outros, faltam a grande parte da população.

SAÚDE
Com exceção das classes média e alta, que pagam um plano de saúde e que são atendidos nos hospitais particulares – menos de 25% da população possui um plano de saúde[15] –, a população, que considera a saúde o segundo maior problema das cidades[16], tem de sujeitar-se à situação caótica, com falta de hospitais, precariedade nos atendimentos e pessoas que morrem nas filas sem atendimento. A rede hospitalar é precária e as equipes médicas recebem pouco e são cada vez menos capacitadas para atender os pacientes. A especialização, que deveria trazer melhores especialistas, além de não atingir esse objetivo, criou médicos que não são capazes de examinar o doente como um todo. Não resolvem o problema do doente; empurram um analgésico qualquer e mandam-no de volta para casa.

TRANSPORTES
Sobre o sistema de transportes, também há muitos problemas. De acordo com a pesquisa Mobilidade da População Urbana, realizada pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos em agosto de 2006, os problemas com transportes são identificados hoje como o quarto problema mais importante das cidades. Nesta mesma pesquisa, identifica-se que 65% da população consideram os serviços de transportes por ônibus muito caro e 14% um pouco caro. Dentre todos os problemas ocasionados pelo transporte em ônibus, os principais problemas identificados são: assaltos e roubos, preço, ser muito lotado, ser poluente, demorar muito para passar, não ser confortável. O quadro aqui avaliado pode resumir-se da seguinte forma: quem mais se preocupa com os roubos é a classe média, que é a mesma a identificar o problema de poluição. A classe baixa sente-se afligida por problemas de preço alto e lotação do transporte.

VIOLÊNCIA
É interessante percebermos que, conforme a pesquisa citada nos transportes, quanto mais abastada é a população, com mais gravidade vê o problema da violência. No entanto, por mais que isso seja verdade, fato é que também para o povo pobre, a violência constitui o maior problema das cidades hoje, sendo identificada como o principal problema por 31% dos chefes de família das classes D e E.

Outros dados relevantes é que quanto mais pobre é a população, mais são sentidos os impactos sobre as questões de saúde (para as classes A e B, 20% apontam esse como principal problema da cidade, enquanto para as classes D e E o percentual é de 23%). Assim também acontece com as questões de desemprego e transporte que, para os pobres representam 23% e 11% respectivamente. A educação, ao contrário, é identificada como problema crítico, mais pelas classes abastadas (11%), do que pelos pobres (5%).[17]

* * *

Quando todos esses problemas dão lugar à crise aérea, alguma coisa está errada. Ou todos esses problemas já entraram em uma situação de “normalidade” tal, que não saltam mais aos olhos do público, ou então se conclui que a imprensa só mostra aquilo que está próximo daqueles que a produzem. Em um país como o Brasil, com tantos problemas assim, parece brincadeira considerar a crise aérea o grande problema do país. A atenção dada à crise aérea aponta, exatamente, para uma normalização de todas as outras crises, que existem no país desde sempre e que afligem a massa do povo. Essa atenção especial à crise aérea, indiretamente, diz à sociedade que os problemas do povo não têm saída e tudo o que vivemos hoje, ao invés de indignar, deve ser considerado “o modo como as coisas funcionam”, ou simplesmente that’s how it is.

Quem produz a imprensa está desempregado? Não. Quem produz a imprensa coloca os filhos na rede pública de ensino? Não. Quem produz a imprensa utiliza a rede pública de hospitais? Não. Quem produz a imprensa pega ônibus? Em grande medida não. Será por isso que estão tão sensíveis ao problema da crise aérea? Parece que sim. Em qualquer um dos outros casos, não podia ter sido ele o prejudicado; agora, no caso do acidente da TAM, deve intrigar-lhes aquele “poderia ter sido eu” dentro de suas cabeças.


PERSPECTIVAS?

A esquerda constituída pelo PT no início dos anos 1980 e o partido democrático que era fruto de uma intensa movimentação social rendeu-se nitidamente ao neoliberalismo. A política econômica de Lula é mais ortodoxa do que a de Fernando Henrique e os seus e, se existem programas sociais – e esses devem ser considerados progressos em relação aos contextos anteriores, em que eles não existiam –, eles servem mais para comprar o povo pobre e garantir a aprovação que mencionamos acima. Lembremos também que os programas sociais, muito ao contrário daqueles que, de fato, garantem boa saúde, educação, auxílio desemprego, etc., o Bolsa Família dá o mínimo do mínimo, para que as pessoas não passem fome, não oferecendo mudança real de condição de vida e estimulando a dependência por meio do assistencialismo.

Se a estratégia política foi pensada dessa forma ou não, não sabemos, mas o que sabemos é que, para Lula e o governo, deu certo. Um agrado à faixa menos favorecida da sociedade com programas sociais, o que lhes proporciona fidelidade, com base na política do pão e circo. Por trás disso, uma política econômica que faz o jogo da classe dominante, o que lhes permite apoio daqueles que dão as cartas do país. A fórmula é simples e vem mostrando que dá certo (para eles). Lula utiliza-se da legitimidade e da “identidade de classe” que possui com o povo pobre, mas já não joga o jogo das classes excluídas faz tempo (se é que algum dia jogou). Usa o nome do povo para continuar no poder, aparelhando a máquina do Estado e atingindo índices altíssimos de corrupção. Faz conciliação de classes, acalmando os movimentos sociais, e mantém os privilégios da classe dominante.

Ao povo, resta o desemprego, a pobreza, as condições precárias de educação, saúde e habitação. Para aqueles que questionarem, polícia; tudo exatamente como sempre ocorreu. O povo só irá libertar-se de fato, quando o fizer por si mesmo; quando se organizar e lutar por seus direitos. E aqueles que escolherem esse caminho – o caminho da liberdade – deverão seguir o que disse Albert Camus, quando enfatizou: “hoje se escolhe a liberdade colocando-se junto daqueles que, em todas as partes, sofrem e lutam, e só então é necessário escolhê-la”.


Agosto de 2007


NOTAS

1. Edição de 25 de julho de 2007.
2. Segundo este relatório do BM, o controle da corrupção atingiu no Brasil, este ano, seu pior patamar em 10 anos. Para detalhes, ver “Brasil tem pior controle da corrupção em 10 anos, diz Banco Mundial” em edição de O Globo on-line de 10/07/2007.
3. Edição de 7 de agosto de 2007.
4. Léa De Luca “Bradesco lucra 2,3 bi no trimestre”. Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados, p. 1. 07/08/07.
5. Léa De Luca “Itaú lucra 2,1 bi no trimestre”. Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados, p. 1. 8/08/07.
6. “Energia Renovável” entrevista com José Pessoa de Queiroz Bisneto. Audi Magazine 66. São Paulo, junho de 2007.
7. IPEA. Ricardo Paes de Barros, Ricardo Henriques, Rosane Mendonça. “A Estabilidade Inaceitável: Desigualdade e Pobreza no Brasil”. 2001.
8. Pesquisa Mensal de Emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísitica (IBGE), 2007.
9. Pesquisa Mobilidade da População Urbana, realizada pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos, agosto de 2006 p. 39.
10. IBGE. “Brasil em Síntese”, Pesquisa Mensal de Emprego.
11. ONG Ação Educativa, em parceria com o Instituto Paulo Montenegro (ligado ao Ibope), 2003.
12. O IBGE fala que mais de 11% da população é analfabeta. IBGE. “Brasil em Síntese”, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, 2005.
13. Antonio Góis. “Estudo vê exagero em escassez de moradia”. Folha de São Paulo 19/12/2004.
14. Composição do Déficit Habitacional - Brasil – 1991. Dados Básicos: IBGE, Sinopse preliminar do censo demográfico, Brasil, Unidades da Federação, 1991. IBGE: Censo demográfico, Brasil, Unidades da Federação 1991. IBGE: Pesquisa nacional por amostra de domicílios, 1990. Arquivo de registros do Brasil.
15. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE de 2003.
16. Pesquisa Mobilidade da População Urbana, realizada pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos, agosto de 2006 p. 39.
17. Ibidem. p. 40.

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