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Os Expropriadores da Rua da Praia.

category brazil/guyana/suriname/fguiana | história do anarquismo | news report author Monday December 11, 2006 21:15author by evandro couto - FAG Brasil Report this post to the editors

Porto Alegre, 1911.

A violência é a conseqüência lógica da situação criada pelos governos, que teimam em tratar como escravos homens que tem aspiração da liberdade. A Anarquia não conduz à prática da violência. A lenda que diz ser um movimento organizado para assassinar e destruir é uma infâmia espalhada com o fim de denegrir seus partidários. Nenhum anarquista prega a revolta pela revolta nem jamais pratica algum ato de violência que não responda a alguma grande injustiça por parte do poder. Os anarquistas praticam a resistência contra a violência contra eles dirigida.
Stefan, Pablo, Alexander e Feodor
Stefan, Pablo, Alexander e Feodor


PORTO ALEGRE 1911.
OS EXPROPRIADORES DA RUA DA PRAIA



“Quando se vê algum fato levado a cabo por algum anarquista ou a ele atribuído, surge a antiga lenda de um movimento de terror, organizado exclusivamente para praticar a violência contra tudo e contra todos, com a pretensão de transformar a sociedade. Não fosse essa concepção arbitrária e sem fundamento e os nossos adversários não poderiam sentenciar: os anarquistas querem transformar a sociedade à força de bombas de dinamite. Logo, segundo essa lógica manipuladora, os anarquistas são criminosos vulgares e doentes perigosos, que devem ser imediatamente eliminados da sociedade. E é justamente nesse falso raciocínio, nessa desleal alteração de princípios que está a força de sua bárbara argumentação contra os anarquistas. Reconhecer este antigo erro seria nobre e digno, mas então sob que pretexto iriam reclamar o cárcere e a forca para os partidários da Anarquia? Como justificar o extermínio dos pretensos forjadores do terrorismo?

A violência é a conseqüência lógica da situação criada pelos governos, que teimam em tratar como escravos homens que tem aspiração da liberdade. A Anarquia não conduz à prática da violência. A lenda que diz ser um movimento organizado para assassinar e destruir é uma infâmia espalhada com o fim de denegrir seus partidários. Nenhum anarquista prega a revolta pela revolta nem jamais pratica algum ato de violência que não responda a alguma grande injustiça por parte do poder. Os anarquistas praticam a resistência contra a violência contra eles dirigida.”
Reynaldo Frederico Geyer. Redação de A Luta.

Terça-feira, 5 de setembro de 1911.

O empregado Alcides Brum deixa a pensão onde morava e dirige-se até o Centro de Porto Alegre para as 8hs abrir a casa de câmbio do Sr. Virgílio d’Oliveira Albuquerque, na Rua da Praia.
Os prédios daquela quadra tinham a mesma fisionomia. Sobrados de duas ou três portas, estabelecimentos comerciais no térreo e residências no segundo piso. A casa de câmbio, no número 210, tinha duas portas, uma delas transformada em vitrine. Ao se aproximar da loja, Alcides constatou que os outros estabelecimentos permaneciam fechados.
Depois de instalado avista a chegada dos primeiros clientes do dia. Quase oito e quinze. Percebeu que os quatro visitantes eram bem diferentes dos senhores bem trajados e de aspecto “respeitável” que freqüentavam a casa.
Os três que se aproximaram do balcão usavam bonés de viagem e tinham fisionomia parecida, quase o mesmo porte físico robusto e um reconhecível traço estrangeiro. Dois vieram na direção do balcão, um permaneceu na porta em flagrante agitação e o quarto homem ficou do lado de fora. Parecia ser o mais velho, sugeria uns 30 anos. Em segundos sacaram as pistolas automáticas.
Na Barbearia Brazil, defronte a casa de câmbio, um freguês era atendido quando interrompe o serviço o estampido de um tiro, seguido de mais dois. Dali se enxerga um homem gritando da porta para o interior da casa de câmbio num idioma estranho. Através da vitrine duas mãos nervosas recolhendo os valores ali expostos, usando o próprio feltro como sacola.
Quatro homens armados deixaram o estabelecimento. Um deles empunhava uma pistola mauser alemã ainda fumegante. Estava consumado o primeiro assalto a mão armada deste tipo ocorrido em Porto Alegre.
Vizinhos de todos os lados já se punham em alvoroço. Os atracadores fugiram em direção a Rua do Comércio a passos regulares, com as pistolas enfiadas nos bolsos. O interior da casa de câmbio deixava cheiro de pólvora. Atrás do balcão, diante do cofre aberto, Alcides Brum gemia ensangüentado no chão.
O delegado Chico Flores, chefe do 3° posto da Polícia Judiciária e inscrito no Partido republicano foi acionado. Era avisado do assalto que acabara de ocorrer em plena Rua da Praia. Os assaltantes fugiam em disparada.
Dobrando a esquina em carreira ruma a Praça XV, um guarda mira quatro vultos. Os fugitivos já de armas em punho alcançaram o largo do Mercado Público, esquivando-se das carretas, carroções de todos os tamanhos e alguns poucos automóveis que trafegavam por ali. Empregados das lojas e operários que construíam o segundo piso do Mercado paralisaram seu trabalho para dar atenção ao que acontecia.
Quatro homens corriam pelo meio da rua, seguidos de uma multidão de populares e alguns guardas municipais armados de facas. Os fugitivos pularam sobre o carro de aluguel n°21, o primeiro da fila da Companhia de Carruagens, estacionado na ponta da Praça XV.
Com o cocheiro rendido, um dos homens tomou as rédeas da carruagem. Em vez de seguir em frente, subindo a Marechal Floriano, decidiu fazer meia-volta e jogar o veículo contra os perseguidores, abrindo uma clareira.
O vendedor da loja de armas da Rua Marechal Floriano pôde reconhecer os dois homens que se postaram na boléia e as pistolas que empunhavam. Três dias antes, sábado de manhã, eles estiveram na loja. O balconista desconfiou dos estranhos. Durante cerca de meia hora manusearam armas de caça, de tiro ao alvo, fuzis flobert, rifles winchester de repetição e pelo menos uma dúzia de pistolas de várias marcas e calibres. Demonstravam falta de intimidade com as armas de fogo.
Apresentaram-se como argentinos, falavam em espanhol, mas conversaram entre eles num idioma desconhecido. Escolheram uma pistola mauser alemã 7.63 milímetros de 10 tiros, ao preço de 120 mil réis, e um revólver browning norte-americano de seis tiros por 80 mil. Compraram também cerca de 200 balas. Pagaram com notas autênticas.
Na terça-feira os estranhos compradores estavam disparando com as armas para cima montados na boléia da carruagem depois da expropriação do câmbio. Na esquina da loja Tabak, o veículo dobrou bruscamente à direita, tomando velocidade na Rua Voluntários da Pátria.
Antes das oito e meia da manhã, a Rua Voluntários da Pátria fervilhava. Nos dois lados da rua, carruagens, carroças puxadas a boi, charretes e automóveis buscavam ou descarregavam mercadorias nas pequenas indústrias e no intenso comércio local. O espaço já congestionado da rua foi repentinamente rasgado por uma carruagem, ziguezagueando a toda velocidade. Dois homens disparavam para o alto. Atrás dela, dezenas de curiosos e guardas da Polícia Administrativa de facões, soprando os apitos.
Depois de andar duas quadras desviando e esbarrando em outros veículos, o cocheiro perdeu o controle e a carruagem dos homens armados foi de encontro a um carroção estacionado na Praça dos Bombeiros, diante do Teatro Colyseu, um pouco adiante da Usina Elétrica. O cavalo foi jogado à traseira do outro veículo, sendo atingido pelo varal da carroça que lhe atravessou o peito. Os quatro expropriadores foram derrubados.
Logo do tombo disparam rumo à Rua da Conceição, com os perseguidores nas costas. O pânico agita as ruas de Porto Alegre.
O bonde número 35 da linha Navegantes deveria chegar ao abrigo da Praça Senador Florêncio pontualmente as 8 e 40 da manhã. Os foragidos armados se acercam do bonde. O motorneiro tenta acelerar quando é interrompido pelas ordens dos quatro homens que pulam no vagão em movimento e mandam acionar o freio. Calçado pela pistola o motorneiro inverte o sentido da manivela e movimenta o bonde de volta na direção do bairro. As senhoras que restavam como passageiras eram acalmadas pelos expropriadores com a promessa que nada lhes aconteceria.
A manivela chegava aos sete pontos, velocidade fora da rotina. Quando o bonde dobrou a esquina da Voluntários da Pátria com a Rua do Parque, no trecho onde se entroncavam os trilhos das linhas Navegantes e São João, o motorneiro propositadamente deixou de abrir a chave, fazendo com que a carretilha se desprendesse dos fios elétricos. Sem força, o vagão andou mais alguns metros, movido por inércia até parar completamente.
A fuga volta para a Voluntários da Pátria rumo à zona norte. Um jovem leiteiro vê de relance desde a porta do armazém quatro homens correndo assustados pelos trilhos.
O rapaz curioso sobe na carrocinha e se põe a persegui-los. Ao ganhar proximidade e percebido sozinho pelos fugitivos, foi rendido pelo revólver apontado de um dos homens. Dominado o entregador de leite, fogem em sua carroça.
O leiteiro conduzia a carroça puxada por um cavalo, espremido entre dois estranhos e calçado pela pistola. A carrocinha tomou o rumo do extremo norte, quando a Voluntários da Pátria mudava o nome para Avenida Navegantes, sobraram algumas chácaras e plantações de arroz e cevada.
Diante de uma das chácaras situadas no final da Rua Dona Teodora, a carroça estaciona no pátio. Os ocupantes partem para os matos em direção ao Rio Gravatahy.
A identidade dos fugitivos ainda é desconhecida. O delegado Chico Flores é informado de uma prisão feita uns meses atrás de quatro judeus. Eram estrangeiros como os assaltantes e no interrogatório se declaravam anarquistas. A polícia passa a organizar as operações de busca.
A Estação Ferroviária de Gravatahy é feita de quartel-general, pela localização, facilidade de acesso e por dispor de telefonia. Patrulhas percorrem a Rua São José e vigiam a estrada de Canoas e a ponte de Gravatahy. As lanchas da Brigada Militar foram usadas para ronda no rio de ponta a ponta, retirando as canoas das margens. Chico Flores ganha o comando oficial das forças policiais.

Não são criminosos comuns...

O crime da casa de câmbio e a fuga espetacular dos atracadores abrem um debate na capital. Cada qual procura explorar os fatos e ganhar força nas disputas políticas e sociais daqueles anos. Na esfera da política dominante “A Reforma”, órgão dos federalistas procura atacar as fraquezas do governo do Partido Republicano sob a sombra de Borges de Medeiros e recuperar-se do desprestígio.
Da parte dos republicanos vem a pressa de resolver este caso pelas mãos da sua polícia e atravessar a turbulência sem perder credibilidade na opinião pública. Borges quer preso todos os suspeitos para repor a ordem pública, enganando a sensação de desgoverno no centro da cidade.
O movimento dos trabalhadores marca em junho a vitória do anarquismo classista nas eleições da Federação Operária do RS. Desde a greve dos 21 dias em 1906 vinham se fortalecendo, se dedicando, freqüentando as fábricas e mobilizando o operariado. Aos poucos os anarquistas foram ganhando posição, conquistando a direção de importantes uniões sindicais, engrossando suas filas e alijando os socialistas, entre eles o líder Xavier da Costa. Para o socialista Carlos Cavaco o novo acontecimento era oportunidade, pelas vinculações suspeitas dos seus protagonistas com o anarquismo, de fazer propaganda contra seus adversários no movimento operário.
As especulações sobre o caso corriam nas bocas. “Não são, definitivamente, criminosos comuns, desses que se movem pela ambição mais rasteira de enriquecer às custas do crime. São agitadores anarquistas agindo, quiçá, por motivações políticas, o que fornece outros ingredientes que ainda não consegui aquilatar.” Ponderava o delegado Chico Flores numa dessas conversas investigativas. “Durante a fuga, não se dispersaram, mesmo nas horas mais dramáticas. Pelo menos duas vezes, algum deles caiu ao chão e os outros o socorreram. Não resta dúvida que os tipos estão unidos, para o que der e vier. Talvez até exista um pacto entre eles.”
Na sala da FORGS, pela noite, depois de uma palestra do médico Reynaldo Geyer na Escola Racional Eliseu Reclus, iniciava a reunião de um grupo de militantes operários de filiação anarquista. Estavam presentes o pedreiro italiano Luigi Derivi, o alfaiate polonês Stephan Michalski e os gráficos Lucídio Prestes, Polidoro Santos e José Rey Gil com o jornal republicano aberto sobre a mesa.
Preocupados pela repercussão, tinham dúvidas se a autoria do assalto era mesmo de anarquistas. De qualquer modo precisavam defender suas idéias e a influência que haviam conquistado entre os trabalhadores. Comentava-se entre eles que o assalto tinha semelhanças com várias ações de expropriação realizadas por companheiros da Europa e que seria conveniente se informar melhor. A reunião decidiu então por um artigo encomendado a Reynaldo Geyer para a imprensa libertária. Algo genérico, marcava a linha Derivi, relacionando a luta de classes, a violência institucional. Historicamente, acusam os anarquistas de prática de terrorismo. O texto deveria dizer que os anarquistas não são violentos, mas apenas reagem à violência inerente ao poder, à existência da autoridade.

Flores aos rebeldes que tombaram...

O comandante das operações de busca já contava com o apoio de 30 agentes policiais, 10 soldados do piquete policial, uma equipe do segundo distrito e alguns oficiais da Brigada Militar. Pelas 5 horas da tarde era enviado mais um reforço do 1° Batalhão da Brigada com 34 soldados. O chefe republicano Borges de Medeiros queria mais.
Os judeus foram alçados a condição de principais suspeitos e as forças policiais passaram as prisões sumárias. A pequena comunidade judaica de Porto Alegre era formada por alguns desgarrados alemães, poloneses e austríacos vindos especialmente à Argentina, onde o governo fazia restrições aos estrangeiros. A eles, vinham se somando imigrantes russos que, aos poucos, deixavam a Colônia Philippson, por não conseguirem se adaptar a vida agrícola. Em geral haviam emigrado da Europa para fugir ao recrudescimento dos pogroms e buscavam novas oportunidades no Novo Mundo.
A polícia investigava uma loja de judeus chamada La Flor de Buenos Aires. Quatro irmãos de sobrenome Zweible, caixeiros-viajantes da loja, foram detidos um tempo atrás por suspeita de contrabando ou passar dinheiro falso e soltos em seguida. Um deles havia se declarado anarquista. Mas a informação revelava que os irmãos Zweible eram três e não quatro.
A imprensa tinha outra pista. O incêndio de uma loja na Andrade Neves feito por quatro russos. Um jornalista das páginas policiais se apresentou na Loja Franceza, um empório de tecidos da dita rua. Perguntado o dono da loja explicava que havia despedido um empregado de conduta inadequada que fazia exigências descabidas. Era russo e se chamava Pincus Isner. Dizia que o patrão é um chupador de sangue e queria reduzir o horário de trabalho e aumentar o salário de todos os seus companheiros. Alguns dias depois, outros quatro russos estiveram na loja fazendo ameaças de morte ao dono, caso não fosse atendida a reivindicação. Mais um tempo e sucedeu um misterioso incêndio na loja, no setor de tecidos mais finos. Deram prejuízo. O dono soube que eram todos anarquistas com ficha na polícia de Buenos Aires.
Depois de demitido Pincus Isner havia partido para São Paulo. O repórter policial tendo o procurado na pensão pobre que vivia chega até outro russo que andava com ele. Yurian Kirienko, trabalhava no Mercado Público e freqüentava a escola dos sindicalistas Eliseu Reclus. Foi um dos tantos que emigrou da Rússia, logo após o fracasso da Revolução em 1906, quando o regime czarista intensificou a perseguição aos socialistas e aos anarquistas. Embarcou clandestinamente em um navio estrangeiro e passou a vaguear de porto em porto. Na Argentina conheceu gente da Federação dos Trabalhadores Russos, a qual passou a freqüentar. Quando o governo começou a hostilizar os estrangeiros e reprimir com violência os que se envolviam com política, um dos amigos, Alexander Grauberger, o Sasha, o convidou para se mudarem a Porto Alegre, onde viviam os familiares dele.
Yurian Kirienko trabalhou como pedreiro e participou da greve vitoriosa de junho pela redução da jornada de trabalho, mas foi demitido logo depois. O amigo Sasha conseguiu para ele um emprego na fiambreria onde também trabalhava e ensinou o ofício. Além disso o levava para as aulas da Escola Racional. Os outros russos envolvidos no incêndio da Loja Franceza eram Pablo, Fedko e Stefan.
Alexander Grauberger, o Sasha, era feito suspeito principal. Morava no fundo da cantina onde trabalhava. Segundo o patrão era anarquista, o melhor empregado que já teve. Guardava no baú livros bem cuidados sobre socialismo, anarquismo e doutrinas revolucionárias de autores como Errico Malatesta, Mikhail Bakunin, Pierre-Joseph Proudhon e Max Nettlau, escritos em russo, alemão e espanhol. O jornalista não o encontrara na visita feita ao seu quarto neste dia em que se consumara o assalto.
Chegada a noite e os expropriadores permaneciam refugiados nos banhados do Gravatahy, sem chances de fuga. Todos os acessos por terra e pelo rio estavam bem vigiados. O capitão José Maria Vianna fora destacado para a operação, protagonista de feitos épicos durante a guerra de republicanos e federalistas em 1893. As forças policiais contavam com o piquete presidencial, uma força de elite com 20 praças; mais um batalhão da Brigada Militar e uma equipe da Polícia Judiciária com 43 agentes. Duas horas antes, haviam chegado mais 24 agentes do 1° posto. Haviam decidido manter o cerco pela madrugada e iniciar a ofensiva final nas primeiras horas da manhã.
No processo da investigação os irmãos Zweible tinham sido presos e descartados. Não conferiam as suspeitas. Os atracadores se fizeram passar pelas suas identidades. Alexander Grauberger era o foco agora.
Por volta das quatro horas da madrugada, os fugitivos se aproximaram da ponte do Rio Gravatahy, arrastando-se sorrateiramente pelo chão, mas foram percebidos e rechaçados a tiros pelo comandante da escolta. Um pouco mais tarde, tentaram passar a linha de baionetas montada ao longo da estrada de ferro. Investiram contra um dos soldados e chegaram a disparar contra ele, mas foram repelidos e retornaram a mata.
Às seis horas da manhã, quando o cinza da noite úmida começava a clarear, as forças policiais estavam de prontidão. Uma equipe ficaria responsável pelo policiamento externo e outras duas lideradas pelo delegado Chico Flores e pelo capitão José Maria Vianna, ingressariam na mata a partir de dois pontos diferentes. A ordem era atirar ao menor gesto de reação dos bandidos, fazer fogo à vontade!
O maricazal dos banhados do Gravatahy ainda permanecia envolto por uma névoa densa e escura que dificultava a visão além de dez metros de distância. Em muitos trechos soldados e policiais eram obrigados a caminhar com água pelo peito. Assim que um cabo se perdeu do resto da patrulha.
O cabo Manoel andava perdido, gritava pelos colegas sem resposta esse deixava dominar pelo medo até que enxergar o esboço de uma figueira com algumas vozes imprecisas. À sua frente surgiu um vulto corpulento, quando percebe que o homem estava armado. Empunhou a corneta e começou a tocar.
O estranho apontou a arma e errou o tiro, enquanto que o cabo segurou a corneta pelo bocal e acertou a cabeça do agressor, que cambaleou. Era Sasha, acusaram os gritos de seus companheiros.
Em poucos minutos os soldados da Brigada acercaram-se da figueira, localizada numa pequena ilha em meio ao banhado, e se lançaram na água de carabina em punho. Iniciaram uma artilharia pesada contra o homem estonteado e os demais entrincheirados na figueira. Os fugitivos revidaram com suas pistolas de repetição.
O tiroteio durou menos de três minutos. Ao se certificar de que não havia mais reação dos fugitivos, o capitão Vianna ordenou o cessar-fogo. Os corpos caídos no barral ainda eram sacudidos por novos disparos. Por fim, emudeceram as mauser. Oito e quinze da manhã.
Chico Flores mandou então que fossem removidos os corpos, amarrados pelas mãos uns aos outros e puxados por dentro d’água pelos soldados a cavalo. Os cadáveres foram amontoados em uma carreta e transportados até a estação de Gravatahy.
Na noite anterior, o jornal republicano e governista A Federação publicava que já havia perto de vinte judeus presos, parecendo que se trata de uma terrível quadrilha, estando a polícia na sua pista.
No 3° posto, na Rua da Floresta, autoridades políticas e policiais junto da imprensa recebia a expedição com fogos de artifício. Antes que os corpos fossem transferidos para o desfile pelas ruas no carro fúnebre da assistência municipal Edward Grauberger reconhece seu irmão entre os mortos. Apontou junto de Sasha: Stefan Sedoresky, Pablo Pavlowsky e Feodor...
Operários de origem russa, segundo a viúva que os tinha como inquilinos, mas não eram judeus revelava o laudo médico ao não encontrar sinal de circuncisão. Sasha, como reconhecia Reynaldo Geyer, dentro do anarquismo se filiava aos grupos de ação direta, defendia que a politização dos operários nascia de momentos de choque, nas táticas de greves e mobilizações.
Os quatro corpos haviam sido transferidos para o Cemitério da Santa Casa e enterrados na madrugada de quinta-feira, para evitar tumultos. Eram lápides de pedra bruta que mostravam números em lugar dos nomes. Logo de manhã estavam cobertas de flores, mais alguns dias pétalas de rosas e velas acesas. Sem ninguém ter sido visto.

Livre adaptação do livro Tragédia da Rua da Praia. Uma história de sangue, jornal e cinema. Rafael Guimaraens. Editora Livretos. 2005.

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author by Dante Caleffi - Publicitário free-lancerpublication date Sat Jan 20, 2007 21:27author email supervia at bo dot com dot brauthor address rio branco,123-rio de janeiro-Brasilauthor phone 552199771027Report this post to the editors

Podia ser pior."Pogroms" gaúchos. Estes, preocupados de se destruirem mutuamente:chimangos e maragatos.
São Paulo,mais industrializada,enfrentou manifestações anarquistas e reagiu expulsando os participantes do nascente movimento sindical brasileiro.A maioria italianos. Ainda assim , contribuiram para humanizar os fatores de produção.
A abolição tardia, foi responsável pela resistência aos direitos advindos do trabalho não escravo.
Visto por esse ângulo, o país fez razoáveis progressos em pouco tempo de história republicana.
Merecia, um trabalho profundo sobre esse período de transição.Esse Brasil desconcertante, se oculta nas dobras desses anos.

 

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