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50 anos da Federação Anarquista Uruguaia

category argentina / uruguai / paraguai | movimento anarquista | opinião / análise author Thursday September 21, 2006 21:06author by FAU - Federación Anarquista Uruguaya Report this post to the editors

A história da FAU se vincula com outra história: a do anarquismo no Uruguai que arranca desde da década de 1870. É o anarquismo fundador da maioria dos primeiros sindicatos; sua imprensa é quem difunde as novas idéias socialistas e libertárias em nosso país; é fundador da primeira federação operária; suas idéias e práticas revolucionárias deixam uma influência do movimento popular onde alguns de seus traços permanecem até os dias atuais.
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50 anos da Federação Anarquista Uruguaia



Breve Histórico

A história da FAU se vincula com outra história: a do anarquismo no Uruguai que arranca desde da década de 1870. É o anarquismo fundador da maioria dos primeiros sindicatos; sua imprensa é quem difunde as novas idéias socialistas e libertárias em nosso país; é fundador da primeira federação operária; suas idéias e práticas revolucionárias deixam uma influência do movimento popular onde alguns de seus traços permanecem até os dias atuais.

Precede à FAU esta história e o que há de expressão concreta libertária na década de 50: presença em setores operários e estudantis. Fala por isso a luta antifascista e terceirista no meio universitário, uma série de conflitos operários com incidência de ação direta e pouco mais adiante a luta dos grêmios solidários de 1951-52.

A FAU é fundada em outubro de 1956 e nela confluem militantes sindicais, de luta comunitária, assim como setores juvenis e estudantes agrupados nas Juventudes Libertárias, também alguns militantes espanhóis refugiados aqui.

A nova organização, com intenção de organizar politicamente os anarquistas uruguaios deve atuar em um país e em um continente que começa a se ver sacudido pela crise e pela inflamação da luta popular, e onde a ingerência imperialista, especialmente dos Estados Unidos, se faz cada vez maior e enfrenta crescentes resistências. Está recente o aparelhamento ianque do golpe de estado contra os planos de reforma na Guatemala. São também anos da “guerra fria”, de invasão da Hungria por tropas russas, de intervenção franco-anglo-israel como resposta a nacionalização do Canal de Suez e das triunfantes guerras de libertação contra o colonialismo na África e na Ásia.

A FAU se desenvolverá apoiada na tradição revolucionária bakuninista, nas posições organicistas que tivera Malatesta uns de seus portadores mais conhecidos, em experiências e epopéias da Revolução Espanhola, de certa influência classista do anarcosindicalismo e tomando a tradição dos métodos de ação direta. Ao mesmo tempo, a Organização e seus militantes são conscientes de que sua atividade deve se desenvolver em um continente e em um país com as características especifícas do que se começa a chamar de terceiro mundo. Nossa militância tem presente o momento histórico, o novo contexto em que se deve desenvolver sua ação, a necessidade que isso implica de localizar os problemas deste tempo, com cabeça própria, para operar conseqüentemente.

Estudando temas, desenvolvendo sua ação, encontrando dificuldades, tendo acertos e erros nessa fluida luta social, que um momento histórico revolto coloca. Uma obsessão nos empurra: colocar em cena uma proposta e uma ideologia que consideramos totalmente vigente. Aparecem algumas dificuldades internas que serão rapidamente superadas e não impedem a continuidade da estratégia libertária projetada.

Para a burguesia um modelo de país entra em crise e se tentará a reorganização suprimindo direitos e conquistas operárias e populares. A repressão se intensificará e será em tal conjuntura um instrumento principal da estrutura dominante para efetivar o modelo que lhe permita seguir adiante com seus brutais privilégios. Desde o poder um giro faz a direita tentar avançar a fundo. Os enfrentamentos populares contra a regressão e a repressão se fazem freqüentes. Frente a situação que se vive crê a organização ser necessário a adoção de formas organizativas que lhe permitam levar adiante as diversas atividades que encara: públicas algumas e também semi-clandestinas ou clandestinas outras. Um decreto do Governo declara ilegal a FAU, junto com outras organizações, no fim de 1967. Isto não toma de surpresa a Organização e pode então continuar o conjunto de suas ações, inclusive aumentar seu crescimento.

Manteve então uma atividade regular e um aumento de sua incidência político-social ao mesmo tempo em que se chegava a ditadura militar. Desde 1964 adiante sua coerência e eficácia se tornam bem maior. Foi criadora e dinamizou frentes de trabalho que marcaram presença e peso em nível nacional, fundamentalmente na capital. Participou ativamente na fundação da CNT. Coordenou internamente e com outras forças sua participação no importante Congresso do Povo. Fez a convocação para a criação da tendência combativa. Integrou “O Coordenador”, organismo com preferência de luta armada, com organizações como MLN, MIR e outros.

Participou, junto a outras forças políticas, em um diário de certa relevância: “Época” que expressava a esquerda de caráter combativo. Teve a FAU parte ativa na elaboração de um documento que permitiria uma ação conjunta, em importantes zonas estratégicas, a estas forças que integravam o diário.

Sofreu diversos golpes, companheiros presos e torturados, a própria organização legalmente perseguida durante quase quatro anos. A partir de 1971 a FAU realizou sua atividade desde de uma situação de clandestinidade. Neste período alguns de seus locais clandestinos caíram e alguns de seus militantes tiveram que atuar totalmente na clandestinidade, pois apareciam publicamente como “procurados”. Por momentos teve mais da metade da junta federal detida em quartéis.

A FAU que já tinha conseguido desenvolver formas organizativas e de atividade que lhe permitiram manter seu funcionamento, seja nos distintos sindicatos onde nossos militantes atuam, nos organismos de direção da CNT, no movimento estudantil, nas tarefas políticas, de ação direta armada, na luta ideológica contra o reformismo e o colaboracionismo operário, fundamentalmente expressado pelo Partido Comunista. Consegue produzir e distribuir semanalmente durante todo o tempo de clandestinidade: “Cartas de FAU”. Também em condições de clandestinidade realiza eventos internos consultivos e resolutivos, inclusive de mudança na sua junta nacional. De menos importância é a discussão e acordos pontuais com outras forças revolucionárias; mantendo nossa independência ideológica e política. É de destacar que neste período, a Organização tem um importante crescimento. Em 1968, já na clandestinidade, depois de uma decisão orgânica que previamente realiza avaliações estratégicas, a iniciativa de nossos militantes, de distintos grupos operários e estudantis dão vida a ROE (Resistência Obrero-Estudantil) que atuará com amplitude porém também como frente externa e de massas da proscrita FAU. Na ROE atuam militantes da FAU com distinto grau de responsabilidade na direção de sindicatos tais como industria de borracha, gráficos, bancários, gás, porto, indústria metalúrgica, têxtil, indústria química, refinarias de petróleo, transporte, saúde, industria alimentícia, ferroviários, empregados de universidades, etc. Os estudantes são fortes fundamentalmente no instituto de Magistério, entre os estudantes de Ensenanza Secundaria, porém débeis na universidade onde só estão presentes em poucas faculdades (Humanas e Medicina).

O peso da organização no movimento operário e popular ganha importância. Marca uma linha de trabalho combativo e questionador do sistema. Foi apoio do trabalho de tendência que nucleará aos partidários de formas de trabalho não burocráticas, participativas e mobilizadoras. Não descuidou da polêmica com o reformismo, fundamentando permanentemente o porquê, de sua ação política distinta.

Paralelamente a atividade de massas, a determinada altura, atuará a OPR (Organización Popular Revolucionária), braço armado da FAU que levará adiante com bastante êxito uma serie de ações (sabotagens, expropriações econômicas, seqüestros de dirigentes políticos e patrões particularmente odiados pelo povo, apoio armado a greves e ocupações de fábricas, etc). A FAU insere sua ação armada em uma ótica político e ideológica muito distinta da maioria dos movimentos de libertação nacional latino-americanos, em grande medida influenciados pelo castrismo cubano e os teóricos do “foco guerrilheiro”. O acionar da FAU através da O.P.R tem mas parentesco com o dos companheiros dos grupos armados espanhóis vinculados a FAI (Federacion Anarquista Ibérica) da década de 20 e 30. É claro que atuando de forma adequada com o contexto histórico que deve enfrentar e da articulação global que devem ter suas distintas instâncias militantes.

Se estabelece para o aparato armado somente autonomia tática, todos os operativos político-sociais são resolvidos pela instância político global. Se estima que seu desenvolvimento e o tipo de violência que executa devem guardar relação com o desenvolvimento da luta global do movimento operário-popular no país.

Procura-se evitar níveis de violência que fiquem fora do contexto e se isolem. Ao mesmo tempo se tomam uma série de medidas de funcionamento para prever e com intenção de evitar deformações “militaristas”. Combater toda cultura de obediência. O país sofre uma profunda crise econômica e política, a “classe política” não dá respostas aos problemas urgentes que o mantimento do sistema coloca. Há no país já instalada uma ditadura constitucional. O movimento operário-popular responde diante da queda de liberdades e direitos. Organizações combativas marcam certa presença. É todo um período de forte repressão e enfrentamentos sindicais e populares. O exército entra em cena e domina a repressão. Em diferentes lugares, também no parlamento, há denuncias de brutais torturas nos quartéis. As chamadas “forças conjuntas” (Exército e polícia) somam a seu trabalho de repressão física um trabalho de repressão de tipo ideológico, tratam de difundir confusão e medo através de comunicados postos em distintos meios de comunicação que utiliza. Em dois ou três meses a repressão praticamente desmantela o MLN (Tupamaros). Em um momento inseguro e de declínio das lutas, com eminente ameaça da ditadura, a Organização avalia a situação e considera necessário ocultar parte da sua força. Há neste momento uns trinta companheiros em condições de clandestinidade. Os companheiros da O.P.R estão entre os primeiros que a organização evacua. Eles se encarregam de imediato, na Argentina, de conseguir os meios econômicos para uma luta contra a ditadura que se prevê longa. Se estima que a Organização deve tomar medidas pertinentes que permitam durar no tempo. “Durar fazendo, durar lutando” se dirá por isso. Em Junho de 1973 com a implantação da ditadura militar, se completa o processo de tiranização do país em um continente marcado pela presença de ditaduras militares no Brasil, Chile, Bolívia, Paraguai, etc.Há neste momento centenas de presos políticos nos cárceres do Uruguai, a maioria das organizações revolucionárias foram dizimadas. A FAU concentra todos seus esforços na greve geral que durante quinze dias paralisou o país. Deve redobrar seus esforços já que a força majoritária, o PC, recua, neste momento, grande parte de sua força militante e procura determinado diálogo com os militares. A greve geral sobrevive na memória dos trabalhadores uruguaios como exemplo de sua decisão de luta.

Nestas condições, a FAU ordena agora a evacuação da maioria de seus militantes até Buenos Aires, onde se encontram os “mais queimados”, parte da junta federal e os companheiros da O.P.R, com a intenção de iniciar desde ali as tarefas políticas que impõe a resistência contra a ditadura. Em parte do ano de 73 e durante 74 e 75 a Organização desenvolve um importante trabalho desde da Argentina. Apoiando o trabalho no Uruguai, conseguindo os meios materiais necessários para sustentar uma longa resistência . Militantes no Uruguai e militantes no exílio vêem a organização como uma expectativa real. Começa nela nestes anos um processo de abertura política que atrai muita militância que não procede do anarquismo. Um congresso definirá uma posição que aponta tal objetivo. De qualquer maneira se mantêm uma estratégia de intenção revolucionária, anti-eleitoral e de matriz libertária. Porém a situação na Argentina se deteriora rapidamente. Em Setembro de 1976 os militares tomam o poder e instauram ali uma brutal e genocida ditadura. Encurralados pela repressão dos serviços especiais do exército argentino e uruguaio, operando o Plano Condor, uns cinqüentas militantes são assassinados e “desaparecidos”, suportando torturas indescritíveis, outros tantos são condenados a muitos anos de prisão. Dentro dos assassinados se encontram companheiros antigos de decisiva participação para o acionar do conjunto da organização, por exemplo Gerardo Gatti, Leon Duarte, Alberto Mechoso. Companheiros de formação intelectual e emotiva anarquista. O grande golpe sofrido gera dispersão, confusão e sensação de derrota. Uma grande perda humana e militante que deixará profundas marcas nessa história. A FAU, levando em suas entranhas aquele período de luta e na melhor das recordações daqueles companheiros caídos seguirá o caminho libertário de nossos dias.

Cai a ditadura e há anistia para os presos políticos. A FAU se reorganiza em 1985. Com companheiros que haviam estado lutando no país nos últimos anos da ditadura e que tiveram como referencial primordial a FAU; com companheiros que saíram do cárcere depois de muitos anos de prisão e que continuaram mantendo sua definição anarquista de sempre; com companheiros que chegam do exílio com a disposição de continuar sua militância libertária. Em Março de 1986, se realiza o 7º Congresso, primeiro nesta nova realidade. Ao tempo que analisa a nova conjuntura que se enfrenta são feitas sua Carta Orgânica e Carta de Princípios. Documentos todos que se articulam com a nova realidade, envoltos em uma concepção de ruptura e de propósito socialista libertário. Os modelos econômicos e sociais levados adiante pela ditadura, cujos desenhos fundamentais vem desde uma estrutura imperial de dominação, criaram um enorme empobrecimento dos setores populares e estenderam a marginalidade, a exclusão. E também a ação deverá agora realizar-se em meio de uma esquerda cada vez mais institucionalizada, com menos confiança na luta, com altos componentes ideológicos de derrota, que centra sua ação dentro dos parâmetros e mecanismos do sistema capitalista.

Neste marco de uma miséria que tem crescido no meio operário-popular há novas expressões de descontentamento e urgentes reivindicações: lutas com os desocupados, por terra para morar, por trabalho, para manter fontes de trabalho, por melhoramento da atenção na saúde, por melhores condições na educação. Os clássicos bairros operários se transformaram basicamente em ex-bairros operários e a desocupação ou o trabalho precário é o dominante. Os bairros, neste novo contexto habitam um importante trabalho regional. A FAU encara imediatamente à sua reorganização um trabalho no meio sindical, comunitário e estudantil. Tudo isto sem descuidar de sua tarefa interna de reconstrução e estruturação de sua infra-estrutura que foi dizimada no período ditatorial.

Apenas iniciada a sua reorganização teve que enfrentar a repressão, três de seus militantes foram encarcerados e processados. Uma campanha intensa e persistente foi a resposta imediata, campanha que contou com a solidariedade de organizações libertárias internacionais. Esta luta foi fator de primeira ordem para conseguir a liberdade dos companheiros. Daí em diante a Organização tem tratado de estar participando e apoiando as diversas lutas populares: operárias, por moradia, por saúde, por trabalho, por educação, em defesa de DD.HH, conta a desocupação de fábricas, contra as diversas repressões. Junto à população nas importantes mobilizações contra as privatizações que enfrentava ao modelo neoliberal.

No orgânico a estrutura federal funcionou adequadamente para potenciar as distintas instâncias de ação. Os congressos foram avaliando o trabalho militante e ajustando a estratégia aos tempos atuais. O Federal e o Secretariado foram os encarregados de aplicar as resoluções gerais do terreno concreto, fluido, das conjunturas que iam se apresentando. A propaganda esteve a cargo de distintas expressões: revista, periódico, murais, carro falante, manifestos e volantes. Quase tudo editado na gráfica da FAU. Os atos públicos, primeiro em teatros e depois na rua tem contado até o momento com boa participação. A militância da FAU nos Ateneos comunitários, com atividade regular, intensifica seu acionar em oportunidade dos 1º de Maio, convocando nos últimos tempos a uma coordenação que aglutina a milhares de pessoas em uma manifestação operária histórica que percorre vários quilômetros.

Tem resolvido, e há feito esforço em tal sentido, de trabalhar em busca de uma coordenação regional libertária. A CALA foi uma expressão desta inquietude. Os resultados não foram de todo efetivos até o momento, porém as coordenações realizadas tem lançado alguns resultados favoráveis e ainda hoje está viva esta idéia em quem participou da CALA. Desde 10 anos que se mantêm uma coordenação regular e em nos últimos anos orgânica com a Federação Anarquista Gaúcha.

As relações internacionais com o campo libertário são fraternas, ao tempo que se tem priorizado aquelas que os anos e feitos vem marcando como mais afins política e socialmente.

Em distintas instâncias orgânicas e especialmente em congressos tem se analisado categorias conceituais e fenômenos relacionados com a etapa e a conjuntura. Procuramos munirmos daquelas ferramentas teóricas que dêem maior possibilidades de acerto em nossa ação. Com a certeza em nosso propósito socialista libertário, com acertos e erros, temos atravessado todo um tempo. Um tempo de luta com um ideal a vista. Muitos queridos companheiros foram torturados, presos, assassinados e “desaparecidos” e são eles uma referência permanente na memória e ânimo da Organização. Temos perdido faz pouco outros velhos e queridos companheiros que estiveram toda sua vida política na FAU, tais, por exemplo, os casos de “Perro”Perez, “Santa”Romero, Roberto Larrasq, Carlos Molina, Andrés Medina, também eles são um exemplo e referência permanente. Uma Militância jovem tem chegado a velha organização e levantado sua bandeira vermelha e negra e seu espírito de luta, ela vai assegurando sua continuidade histórica. Distinta gente, distintos tempos, os mesmos sonhos.

ARRIBA LOS QUE LUCHAN!




Traduzido para o português pela Secretaria Nacional do Fórum do Anarquismo Organizado - Brasil
secretariafao@riseup.net

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