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[Brasil, AL]O Circo Eleitoral e Realidade dos Trabalhadores Alagoanos

category brazil/guyana/suriname/fguiana | local contacts | opinião / análise author Thursday September 14, 2006 04:32author by Coletivo Anarquista Zumbi dos Palmares - CAZP/FAO-Brasilauthor email cazpalmares at hotmail dot com Report this post to the editors

“Nossa vocação, nosso destino” O principal produto da economia alagoana, a cana-de-açúcar, foi implantada pelos portugueses no século XVI como estratégia para garantir a ocupação do território e conseqüente colonização do Brasil. A economia era sustentada pela mão-de-obra escrava dos negros trazidos da África e na grande concentração de terras (latifúndios). Passados cinco séculos, a economia de Alagoas, embora mais diversificada e complexa, não está diferente de seu eixo de sustentação: continua sendo baseada na super-exploração do trabalho nas usinas de cana-de-açúcar pelas oligarquias herdeiras do sistema colonial.


O Circo Eleitoral e Realidade dos Trabalhadores Alagoanos



“Nossa vocação, nosso destino”

O principal produto da economia alagoana, a cana-de-açúcar, foi implantada pelos portugueses no século XVI como estratégia para garantir a ocupação do território e conseqüente colonização do Brasil. A economia era sustentada pela mão-de-obra escrava dos negros trazidos da África e na grande concentração de terras (latifúndios). Passados cinco séculos, a economia de Alagoas, embora mais diversificada e complexa, não está diferente de seu eixo de sustentação: continua sendo baseada na super-exploração do trabalho nas usinas de cana-de-açúcar pelas oligarquias herdeiras do sistema colonial. O setor sucro-alcooleiro é o responsável mais imediato pela miséria do povo alagoano. Dos anos 90 pra cá a indústria canavieira, sob exigências impostas pela economia mundial, algo conhecido como neoliberalismo, sofre um processo intenso de desregulamentação e flexibilização do trabalho, bem como o emprego de novas tecnologias, modernizando sua produção, mas diminuindo os postos de trabalho.
Assistimos também a expropriação das pequenas agriculturas de subsistência, e a formação de um exército de reserva de mão-de-obra fundamental para a manutenção de uma super-exploração pelos “senhores-de-engenho”. Tal processo provoca um intenso êxodo rural, com os trabalhadores alagoanos sendo jogados nas favelas das principais cidades de Alagoas, em especial de sua capital Maceió, sem perspectivas de vida e emprego. Enquanto do lado dos poderosos, vemos maior concentração de renda e terra. Aliada a tudo isso está a mídia, “imparcial” como sempre foi, noticiando ou veiculando propagandas em defesa dos usineiros “democráticos” (amigos do povo, parceiros do meio ambiente), nas quais os trabalhadores cortam cana sorrindo e a natureza é cada vez mais bela. Não falam que são esses usineiros os principais responsáveis pela intensa degradação ambiental (destruição dos resquícios de mata atlântica, rios mortos pelos dejetos), bem como a própria degradação humana. Afinal, cortar toneladas de canas, com péssimas condições de trabalho e sob intenso calor, poeira, fumaça e fuligem, para ganhar poucos reais não pode ser considerado uma atividade que se faça senão sob uma questão de sobrevivência.

Essa é a “nossa vocação, nosso destino”, assim disseram e assim dizem os nossos inimigos de sempre. Assim, movimentamos “nossa” economia, adubando o solo com o suor dos trabalhadores, quando não com seu próprio sangue. O “doce” da cana vai para as oligarquias alagoanas, para os trabalhadores só lhes restam amargura e sofrimento.

Os aparelhos de Estado e as oligarquias alagoanas

Se estivermos atentos à história da formação político-social alagoana, podemos identificar a consolidação de uma estrutura estatal autoritária e patrimonialista, levada a níveis extremos. E esse fechamento e apropriação da esfera pública para uso particular é notório ao presenciarmos um domínio oligárquico, através do qual poucas famílias dominam o estado alagoano, seja economicamente, seja politicamente, isso sem contar o forte monopólio de mídia que garante a sustentação ideológica indispensável. Em Alagoas, o “Estado Democrático e de Direito” se torna de forma acentuada, mais formal (ilusório) do que real. É destacável o papel que os poderes de Estado exerceram perante a economia alagoana, intervindo a favor de seus representantes (a burguesia e suas variadas frações), sobretudo para assegurar o predomínio econômico do plantio de cana e produção de açúcar, assim como de suas oligarquias. Para isso, incentivos fiscais nunca faltaram através de vários programas de governo, tanto federal como estadual, definindo regras para exportação e administração dos preços de modo a garantir a produção dentro da margem de lucro dos usineiros, bem como possibilitar a variação na produção para atender as exigências do mercado externo, do qual o setor em Alagoas sempre foi dependente. A centralidade da economia alagoana em torno das usinas é bem exemplar quando vemos que a principal atividade de “extensão” na produção científica da Universidade Federal de Alagoas é o programa de melhoramento genético da cana. Mas isso nunca bastou. A pistolagem foi uma das formas adquiridas pelos poderosos para se firmar, se configurando até mesmo como uma necessidade da própria formação político-social, co-existindo, dentro de um mesmo ordenamento ideológico, as lutas entre as próprias classes dominantes pelo poder e influência sob determinada região. No entanto, a violência recai de forma brutal sob os trabalhadores quando estes ameaçam minimamente a se levantar contra os desmandos de usineiros ou fazendeiros, protegidos com seus “capitães do mato” ou pela própria polícia do Estado.

Entre a cruz e a espada, ou entre o voto e a ilusão

Para melhorar toda essa situação desesperadora, eis que nos vem o circo eleitoral! Na “festa da democracia”, não existem mais ricos e pobres, patrões e trabalhadores, usineiros e cortadores de cana, todos viram “cidadãos”, alagoanos e brasileiros. Parece interessante, mas não é essa a realidade. Não seremos nós anarquistas que iremos alimentar qualquer expectativa que seja perante as eleições burguesas. Sim, são eleições burguesas, e dizer isso parece que incomoda. Estamos perante a escolha entre aqueles que irão administrar as contas da burguesia, proteger suas propriedades, expulsar sem-terras, bater em sem-tetos, reprimir estudantes. Nas eleições deste ano os principais candidatos ao governo de Alagoas são os usineiros João Lyra (o ex-deputado federal mais votado nas ultimas eleições) e Teotônio Vilela (ex-senador). Os mesmos que se mantém no poder econômico são os que se mantêm no poder político, ora com representantes seus, ora representando-se diretamente. Há também os candidatos que se põem como alternativa aos usineiros, como Lenilda do PT e Ricardo Barbosa, candidato da Frente de Esquerda (PSOL, PSTU, PCB e PCR). A primeira é dirigente da CUT, o braço sindical do Governo Lula, e utilizou-se desta posição para fazer auto-propaganda no dia da mulher, nos outdoors de Maceió. Cria de uma política de conciliação de classes que levou o PT a uma guinada sem volta à direita, se utiliza de um discurso curioso. O PT que sempre foi o defensor da “coisa pública”, contra os abusos feitos ao poder público, se coloca como melhor opção, pois Lenilda tem “ligação direta com o presidente Lula”. Isso não é nada menos do que assumir o “clientelismo político”, o “toma lá da cá” (mensalões), onde por trás de “governo para todos”, existem é interesses eleitoreiros e particulares. O PT aprendeu rapidinho...

Já a “Frente de Esquerda”, encabeçada na candidatura de Ricardo Barbosa do PSOL ao governo, se coloca como única alternativa de esquerda pra mudar a política alagoana. Mas que alternativa de esquerda é essa que privilegia a disputa das eleições burguesas ao invés de fortalecer as lutas populares? Seria diferente se o principal candidato fosse de esquerda? E mais, será que é através do aparelho de Estado, via eleições, que podemos reverter todo o sentido histórico de nossa formação sócio-econômica? Talvez seja mais fácil acreditar que sim, mas nós anarquistas afirmamos que não é esta a saída. O Estado, fruto da divisão social de classes da sociedade, é um instrumento necessariamente conservador, para a manutenção do status quo. Independente de quem esteja no poder legislativo ou executivo, por mais radical que seja o político, não se consegue mudança significativa através do parlamento. E em nosso caso, o mesmo sempre teve estreita relação com a economia canavieira, dando todas as condições para que os empresários do ramo pudessem se enriquecer à custa da exploração dos trabalhadores. Para nós não existe formula, não existe mágica, nem mesmo o “menos pior”. Estamos seguros que a política de Estado é a política da burguesia. Entendemos que todas as mudanças históricas nas estruturas do sistema foram impostas pelos trabalhadores através de muita luta, sangue, suor e barricadas. Mesmo as conquistas mínimas, são asseguradas e conquistadas na organização e luta de trabalhadores e são para elas que gastamos nossas energias.

Poder Popular: política e protagonismo de classe

A política própria dos trabalhadores é construída e sedimentada a partir de suas próprias mobilizações, de seu próprio espaço de moradia, trabalho ou estudo. É certo que não vivemos em uma situação favorável para a luta dos trabalhadores. A própria organização dos trabalhadores no meio rural alagoano, na luta pela terra, sempre encontrou fortes obstáculos e uma intensa repressão, deixando-os sem muita opção a não ser aceitar as humilhantes condições de trabalho e os baixíssimos salários. No entanto, não nos resta outra saída. A despeito do que nos jogam com bastante intensidade pela grande mídia, o que já seria motivo para desconfiança, não entendemos que “o Brasil está em nossas mãos”, ou mesmo Alagoas, através do voto nessas eleições. Não acreditamos que estamos dando um rumo de justiça e liberdade cedendo o poder de decidir sobre nossas vidas a terceiros, a políticos profissionais que vivem outra realidade, que mesmo que venha a ser o mais operário de todos, irá passar a olhar de “cima para baixo” as necessidades da população e a negociar seus direitos para se sustentar no topo. O Poder Popular se constrói na luta direta pela terra, nas ocupações de sem tetos, na luta por transporte de qualidade, pela saúde e educação, feitas a partir do povo, pelo povo pobre e trabalhador. Foi assim no Quilombo dos Palmares e é assim a cada luta contra a exploração e opressão que estamos submetidos diariamente, que podemos avançar em nossas conquistas e deter o controle sobre nossas vidas.

Chamamos todos os trabalhadores a não caírem na armadilha eleitoral! Gritemos fora aos usineiros e às oligarquias alagoanas, bem como aos seus representantes e à esquerda reformista. FORA TODA CLASSE POLÍTICA! Só temos dois caminhos: ou votar com os de cima, ou lutar com os de baixo. Chamamos o voto nulo e, principalmente, para nos levantarmos com organização e luta, contra os desmandos da classe dominante e seus projetos.

Política quem faz é o povo organizado! Protagonismo e luta popular!

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