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Teoria dos jogos simultâneos à moda brasileira: o ataque do PMDB e o balanço do mundo político criminalizado

category brazil/guyana/suriname/fguiana | economia | opinião / análise author Wednesday September 30, 2015 09:08author by BrunoL - 1 of Anarkismo Editorial Groupauthor email blimarocha at gmail dot com Report this post to the editors

29 de setembro de 2015, Bruno Lima Rocha.

"O país já não vive um risco real de impeachment por direita sendo que o governo já está à direita, tão à direita que é governado pelo PMDB, sofre oposição do PMDB e tem como núcleo duro uma área econômica blindada e a mando dos grandes operadores do cassino especulativo. A nova direita perdeu, a UDN está enredada pelas artimanhas de Cunha e os contragolpes no Judiciário e a ex-esquerda dividindo a base social ainda passível de mobilização entre uma louca posição de apoio crítico a um governo moribundo, mesmo quando convocam a Frente Brasil Popular reeditando os quadros desenvolvimentistas e ainda ilibados do partido comandado por Lula", analisa Bruno Lima Rocha, professor de ciência política e de relações internacionais.

Eis o artigo.
Quem governa com chantagistas acaba sendo chantageado. Cunha empurra e Temer puxa o tapete, dizendo que a reforma ministerial e o enxugamento das pastas geraria "instabilidade na base".
Quem governa com chantagistas acaba sendo chantageado. Cunha empurra e Temer puxa o tapete, dizendo que a reforma ministerial e o enxugamento das pastas geraria "instabilidade na base".

A semana anterior a Assembleia da ONU concretiza o que este analista já intuía. As chances reais de impeachment cada vez menores e o poder e a voracidade do PMDB de um lado e os especuladores com rubrica de outro, irão colocar no canto do ringue a ex-desenvolvimentista que governa sem governar. Vejamos uma análise retrospectiva.

O jogo do PMDB, a reforma ministerial e o avanço final para a aliança oligárquica

Após assistir ao programa partidário do PMDB na TV aberta, na noite de 24 de setembro de 2015, o que era sintoma aparentemente fechou meu diagnóstico. A disputa concreta hoje no país é na interna da legenda de Renan, Temer e Cunha e a meta é tomar conta do governo federal. O vice-presidente vai orquestrar a tomada dos ministérios mais relevantes e marcar as eleições municipais do ano que vem. De sua parte, o maior partido de centro-esquerda da América Latina, o PT, está cedendo quase tudo de seu programa já frouxo e lavado e isto para não perder o Poder Executivo. Se o PMDB chega a abandonar o governo é para tomá-lo através de um golpe parlamentar.

Temos de congratular e dar os parabéns aos "estrategistas" de ex-esquerda. Conseguiram recuar tanto que se confundem com o aliado circunstancial e ex-inimigo dos anos '80.

Eduardo Cunha avança

A anunciada reforma ministerial termina sendo um jogo de cabo de guerra entre o vice-presidente e o presidente da Câmara. De novo repito, é bem-feito para a ex-esquerda. Quem governa com chantagistas acaba sendo chantageado. Cunha empurra e Temer puxa o tapete, dizendo que a reforma ministerial e o enxugamento das pastas geraria "instabilidade na base". Parece que estamos vendo um teatro encenado, uma ópera bufa protagonizada por canastrões de segunda linha, como o ex-presidente dos EUA, Ronald Reagan. É como disse – ou teria dito - o conhecido narcotraficante Fernandinho Beira Mar quando lá chegou – em Brasília - para depor na CPI do Narcotráfico: "estou chegando na humildade, vim aqui para aprender".

Ao invés de escantear o chantagista, como péssimos negociadores e derrotados ideológicos, o Planalto adula o achacador maior, como afirmara o ministro relâmpago da Educação, Cid Gomes.

Inclusive, na última semana veio a público o convite de Dilma Rousseff a Cunha, para que o presidente da Câmara participasse das decisões sobre a reforma ministerial. O mesmo convite teria se estendido a Renan Calheiros e outros nomes que lideram o PMDB na Câmara e no Senado. Cunha, que poderia ser o protagonista da série House of Cards, responde recusando-se a participar do debate, aumentando o desconforto e insegurança do governo petista.

O jogo Político-Criminal. 19ª fase da Operação Lava-Jato e o país das (ex) esquerdas que se auto-iludiram

Simultaneamente a crise política no governo federal, a 19ª fase da Operação Lava-Jato anda de vento em popa, e agora vai atirando para todos os lados. Enquanto isso, pergunta-se: e a Zelotes por onde anda mesmo? Cabe aqui uma brevíssima análise de cenário político-econômico-criminal, digna de operações como a Chacal e a Satiagraha.

Na 19ª fase da Operação Lava-Jato, a Polícia Federal prende João Augusto Henriques, citado como lobista do PMDB. Denunciado por corrupção pelo Ministério Público Federal, Henriques estaria envolvido no pagamento de propina ao partido, através de contratos firmados com a Petrobrás. Este lobista é a arma apontando para Eduardo Cunha, e mela o jogo pela ala do PMDB apostando em derrubar a mandatária cujo governo seu partido participa com o vice-presidente.

Enquanto isso, já na 2ª fase da Operação Zelotes, a PF cumpre mandatos de busca e apreensão em diversos escritórios de contabilidade no Distrito Federal, São Paulo e Rio Grande do Sul. A Receita divulgou nota explicando que o objetivo das buscas era obter documentos contábeis de algumas das empresas investigadas, para auxiliar as investigações. As investigações da Zelotes ainda ocorrem sob sigilo, para evitar a exposição dos acusados. Ao mesmo tempo, o efeito político do silêncio da Zelotes é terrível, com os alvos saindo isentos de difusão e não pagando com suas reputações como pessoas jurídicas, ainda sendo vistas como ilibadas pela opinião pública.

No momento em que escrevia esta síntese, no ao vivo, o procurador federal e o delegado da PF estavam dando uma coletiva que diretamente orienta a conclusão do ato criminal para a presidente Dilma e/ou Zé Dirceu quando no exercício do cargo da Casa Civil no governo Lula. É interessante observar que o canto da sereia vem pela sirene da Polícia Federal. Eu sempre vibrei com as operações que punem o andar de cima, mas sem cair no engodo de supor que uma postura jacobina possa superar a luta direta, e tampouco confiar na conduta dos operadores policiais como linha de frente de um processo político. Tal seria uma contradição em si, na busca incessante de um Serpico brasileiro. A ex-esquerda anda rebuscando o mito do PCB (me refiro ao partido de linha soviética e prestista) querendo encontrar desesperadamente uma burguesia nacional desenvolvimentista, e depois passaram a buscar um delegado tipo "cavaleiro da esperança".

Do tenentismo pulamos - pularam - para o jacobinismo da PF. Quem se lembra do fato de que o delegado Protógenes Queiroz (um brasileiro de valor, sem dúvida), andava a tiracolo com a então deputada federal Luciana Genro (PSOL) e depois deu uma banana para a nova legenda e elegeu-se na coligação proporcional pelo PC do B com os votos do Tiririca puxando-o vai entender o que digo.

Digo também que é bem feito para o lulismo, pois em 2003 a PF ia fazer a limpa por dentro, através da CPI do Banestado e com sua nova Lei Orgânica, mas o Planalto com Zé Dirceu e Lula preferira prestigiar os delegados maçanetas de Romeu Tuma e aí tudo virou pó, como nas operações Chacal e na Satiagraha. Agora amargam da infecção para a qual não se vacinaram no decorrer dos primeiros anos de governo. Sendo parte do esquema, em maior ou menor grau, os herdeiros políticos e seguidores do lulismo como pacto de classes de falido têm de bancar o custo político da verossimilhança com os piores adversários de antanho. Para piorar ainda mais, observamos que as resultantes das transações pouco ou nada republicanas investigadas na Lava-Jato seriam:

- Criminalizar as operações da Petrobrás cujo papel do PT seria (é) de novo entrante no jogo das indicações aproveitando-se das possibilidades da carta convite, sem licitação.

- Afundar ainda mais a própria Petrobrás - efeito reverso - assim como as grandes empreiteiras, clientes do Bismarckismo Tropical (terceiro setor na hierarquia econômica, atrás apenas de Bancos e Mídia, à frente do latifúndio).

- Jogar de volta a criminalização sobre o agente econômico (a meu ver correta) e sobre os acordos políticos (que, de forma proposital, a conta recai apenas sobre o PT, midiaticamente tirando o foco dos demais operadores).

- Apresentar linchamento midiático seletivo, pois de mesma envergadura seria a Zelotes ou o escândalo do cartel do metrô de São Paulo (neste caso incluindo boa parte das mesmas pessoas jurídicas).

- Por tabela, jogar gasolina na fogueira política, aumentando o custo da aliança de Temer e Renan, e insuflando o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, contra o Planalto.

Como observação final vale comentar uma comparação de trajetórias presumidas. Quando prenderam o Zé Dirceu eu disse - e continuo dizendo - que ele não ia abrir nada. Já Antônio Palocci, não sei não.

A última esperança do impeachment e a direita que governa de fato

Como a ação no TSE caiu e a do TCU, mesmo tendo as contas rejeitadas, no balanço das acusações político-criminais, o aparecimento de indícios do Nardes na Operação Zelotes mela o jogo, a última esperança da UDN é derrubar a presidente eleita através de ação no STF. Esta é a continuidade do voto derrotado de Gilmar Mendes no TSE, mas entendo que não passa, a se considerar a derrota do mesmo no julgamento do financiamento empresarial de campanha. Vale lembrar que Gilmar Mendes permaneceu com o processo do financiamento privado de campanha parado por mais de um ano em seu gabinete, impedindo que a decisão da maioria dos ministros (que se mostraram a favor da inconstitucionalidade da proposta) fosse promulgada.

Os riscos de término do mandato são outros e estão no fogo amigo de Temer e Renan ou na possibilidade do Chicago Boy do Bradesco (o ministro da Fazenda Joaquim Levy) pegar o boné e voltar a faturar para si no mercado financeiro. De qualquer forma, perde a UDN, mas perde completamente a população brasileira, pois o governo administra por direita, com a direita e refém da direita.

A virada do jogo, Sérgio Moro para escanteio

Eu já havia falado e sigo afirmando que a última chance possível no curto prazo para a UDN era no TSE. Agora é mais factível o medo do "fogo amigo" do PMDB que é governo do que qualquer outra ameaça. Só anda o impeachment se aparecer um conjunto de gravações como a do caso Arruda e o Mensalão do DEM no governo do DF ou a corrupção pingada através de emissários, como foi o caso que deu origem a CPI dos Correios em 2005.

Nada disso impede que o juiz Moro avance em prisões delicadas, tendo como alvo possível gente como Antônio Palocci, ex-auxiliares de Dilma ou o próprio Lula. No caso, poderíamos assistir a repetição de habeas corpus instantâneos como os que o ministro Gilmar Mendes, então presidente do STF, concedera para Daniel Dantas no auge da Operação Satiagraha. O fato contundente é que o desespero agora abaterá a nova direita, pois a decisão do STF datada de 24 de setembro de 2015 na prática inibe e retira os superpoderes de Sergio Moro como herói dos neolacedistas e autoproclamado candidato a ser (tentar ser ao menos) o Giovanni Falcone brasileiro, embora com mais vocação para Baltasar Garzón nacional.

Apontando conclusões

O país já não vive um risco real de impeachment por direita sendo que o governo já está à direita, tão à direita que é governado pelo PMDB, sofre oposição do PMDB e tem como núcleo duro uma área econômica blindada e a mando dos grandes operadores do cassino especulativo. A nova direita perdeu, a UDN está enredada pelas artimanhas de Cunha e os contragolpes no Judiciário e a ex-esquerda dividindo a base social ainda passível de mobilização entre uma louca posição de apoio crítico a um governo moribundo, mesmo quando convocam a Frente Brasil Popular reeditando os quadros desenvolvimentistas e ainda ilibados do partido comandado por Lula.

E viva a democracia indireta faturada pelo mercado financeiro.

Bruno Lima Rocha é professor de ciência política e de relações internacionais.

Site: www.estrategiaeanalise.com.br
Email: strategicanalysis@riseup.net
Facebook: blimarocha@gmail.com

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