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Os impérios do esporte continuam

category brazil/guyana/suriname/fguiana | cultura | opinião / análise author Friday May 18, 2012 21:43author by Anderson Santos, Dijair Brilhantes e Bruno Lima Rocha Report this post to the editors

A América do Sul está cheia de "Poderosos Chefões"
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O futebol brasileiro viveu em 2012 um grande momento. A renúncia de Ricardo Teixeira do cargo de presidente da CBF é, sem dúvida, um marco na história do esporte que é a paixão nacional. Isto ocorre embora o sucessor não seja exatamente o que todos desejávamos. José Maria Marín tem um histórico digamos que tenebroso e sua prática não vem sendo algo nem um pouco "revolucionário" - chega a ser mais do mesmo, ou até um pouco pior, se é que isso é possível.

Porém, o assunto desta coluna é outro, algo que também já tratamos algumas vezes antes – e voltaremos à carga cada vez que for necessário. Presidentes de entidades esportivas ganham o poder e delas se tornam donos. O “saudável” rodízio no comando, que muitos defendem, sequer é pensado e, o pior, permitido. AFA, Conmebol e COB elegem “imperadores”, não presidentes.

O homem que atravessou regimes

Como não poderia deixar de ser, na irmã Argentina, Julio Grondona impera no cargo de presidente da AFA (Associação Argentina de Futebol) por mais de 30 anos, tendo sido reeleito para mais um mandato de quatro anos em 2011.

“Don Julio” foi designado pela ditadura militar argentina (ainda no governo de Videla!) para assumir o posto, em 1979, passando pelo período dos militares (resistiu a Guerra das Malvinas), por Carlos Saul Menem, pelas crises do final da década de 1990 e início dos anos 2000, e conseguiu negociar com os Kirchner (Nestor e Cristina) novos contratos para transmissão do campeonato local, em 2010.

Grondona sobrevive há mais de três décadas tendo ganhado “apenas” uma Copa do Mundo (México, 1986) – com Maradona em campo –, havendo enfrentado quase uma dezena de greves de jogadores, de árbitros e presenciando o aumento da violência entre as barras (torcidas), que conseguiram adentrar até nas diretorias dos times. Semeou o caos e a semi-falência de um futebol que está entre os melhores do mundo. Parabéns, Don Julio!

Os clubes da Argentina beiram a falência. Basta ver o River Plate, um dos maiores times da América do Sul, que vem há anos em declínio e hoje joga a Divisão de Acesso na Argentina.

O Boca Juniors também viveu um momento ruim - tendo antes servido de trampolim para Mauricio Macri, menemista e empresário, ganhar na urna a prefeitura da Capital Federal -, ficando dois anos sem disputar a Libertadores. Olha que a AFA cria fórmulas e mais fórmulas para privilegiar os grandes.

Em 2012, o time se reergueu e já está nas quartas de final do torneio, onde enfrenta o Fluminense. Porém, os problemas financeiros também estão evidentes.

Tudo bem, alguém pode dizer que aqui no Brasil ocorre o mesmo. Contando com dirigentes “amadores”, a maior parte dos clubes é uma entidade paraestatal que nada em possíveis grandes lucros anuais (ou em endividamentos, comprometendo receitas futuras) – por honra e graça de Ricardo Teixeira. Porém, há de salientar que na Argentina, o tradicional Racing Club de Avellaneda (time de Juan Domingo Perón), só não acabou por conta dos seus aficionados, que foram às ruas.

Talvez uma das melhores proezas de “Don Julio” tenha sido o acordo para os direitos de transmissão do Campeonato Argentino com a TV estatal. O governo Kirchner paga desde 2009 cerca de 150 milhões de dólares anuais para ter todos os direitos de transmissão até 2019, através do programa “Fútbol para todos” – rompendo assim a ditadura do cabo, da antiga parceria de TyC e Fox Sports.

Chapa (eternamente?) única

Passemos ao Brasil, e não ao futebol. No final de abril, foi anunciado que o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman (cartola do vôlei, ex-operador da Bolsa de Valores), formava a única chapa inscrita para a entidade que controla o esporte no Brasil.

O presidente do COB completará a maioridade no comando. Sem concorrentes para a disputa eleitoral, Carlos Arthur Nuzman será eleito e concluirá 21 anos à frente da entidade que deveria ser responsável por administrar e auxiliar no desenvolvimento de todas as atividades esportivas consideradas “olímpicas” no país - portanto, amadoras na base.

De fato, se pegarmos esse período, podemos perceber forte crescimento de determinados esportes, com imenso destaque para o vôlei (de quadra e de praia), que se consolidou entre os melhores do mundo principalmente após a construção do super centro de treinamento no Rio de Janeiro para todas as categorias.

Só que outras modalidades, como fora o caso do basquete, entraram num túnel cuja luz tarda para ser vista. Tudo bem, mais por culpa de quem comandou a CBB (parabéns seu Grego!) do que do pessoal do COB. Mas trata-se de um esporte historicamente praticado nas escolas, que só perde para o futsal e para o handebol, este último ainda sem grandes sucessos de desenvolvimento.

Reparem que aqui citamos apenas os esportes mais famosos e de ordem coletiva. Esportes mais “desconhecidos” vivem à míngua, esperando um grande talento surgir daqui ou dali. Além disso, vale salientar, que a cada “fezinha” do brasileiro nas loterias, uma parte vai para o desenvolvimento de esportes olímpicos no Brasil. Se o alto rendimento deu uma melhorada, o reforço do esporte de base onde está?

Mais que uma crítica específica, basta lembrar que os Jogos Olímpicos de Verão serão realizados no Brasil, no Rio de Janeiro em 2016, e pouco se viu de grande mudança nos esportes nacionais para as Omimpíadas deste ano, em Londres. Esporte, tal qual a educação, não se faz da noite para o dia, mas com uma formação desde as categorias de base. É trabalho de uma ou duas décadas, alinhando cada federação estadual com as metas do COB. E aí seu Nuzman, cadê o famoso planejamento?

Até morrer!

Até aqui tratamos de exemplos de pessoas que se “apoderaram” de entidades esportivas, sem muita oposição, e que continuam, eleição após eleição, dirigindo esportes importantíssimos. Mas este último caso é estranhíssimo, para o dizer o mínimo.

Ao completar no dia 01 de maio 26 anos no cargo de presidente da Confederação Sul Americana de Futebol (Conmebol), o paraguaio Nicolás Leoz (eterno amigo do finado Stroessner) foi anunciado como presidente vitalício da entidade que coordena o futebol no sul do continente americano, em que três seleções ganharam nove Copas do Mundo!

Vá lá que os demais, assim como era Ricardo Teixeira no Brasil, não se imaginam que sairão sem ser por vontade própria, mas o caso de Leoz é ainda pior. Segundo o diretor da comissão técnica do órgão, Hildo Nejar, em entrevista ao Lancenet!, um congresso em Santa Cruz de la Sierra (Bolívia), em 1997, definiu que o paraguaio só sairia do cargo se quisesse ou se morresse. Apenas quinze anos depois é que se tem esta informação divulgada. Leoz é o Imperador do Continente!

“Dr. Leoz” é responsável por administrar um torneio do porte de uma Copa Santander Libertadores (arghhh!!! Venderam Bolívar, San Martín, Sucre, Artigas e cia. para um banco espanhol!), mas que paga menos prêmios que um Campeonato Brasileiro de Futebol.

Este cobiçado torneio também permite partidas em estádios onde se atira quaisquer coisas nos jogadores (se os ovos podres ainda fossem na cartolagem...), e que não pune os atletas caso recebam determinada sequência de cartões amarelos. Se comparamos, como o Lancenet! fez, com a Uefa Champions League, aí sim a diferença é gritante.

A causa de tamanha balbúrdia está longe de ser por conta da riqueza dos países do outro lado do Atlântico. Parece não haver interesse em difundir os negócios no futebol de clubes local – ou há alguém ganhando muito bem com isso, sem dividir com quem realmente merece.

Dentre os absurdos de sua gestão está um caso muito simples. No Brasil, desde o final da década de 1990, início dos 2000, que se usa o spray para marca a correta distância da barreira para a bola. Mesmo com Teixeira num cargo do conselho de arbitragem da FIFA, e tendo muito poder na América do Sul, o spray só veio a ser utilizado na Libertadores deste ano. Porém, o spray utilizado é um modelo fabricado na Argentina, que demora a apagar do campo, assemelhando-se com um creme de barbear.

É inadmissível que um Continente que possui países com o histórico de Brasil, Argentina e Uruguai fiquem à mercê de um sujeito como Leoz. Por mais que os presidentes das confederações/federações destes países sirvam como uma justificativa bastante plausível.

Anderson Santos, Dijair Brilhantes e Bruno Lima Rocha

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