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O discurso para legitimar o poder do capital financeiro

category brazil/guyana/suriname/fguiana | economia | opinião / análise author Thursday April 26, 2012 20:28author by Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre a Globalização - NIEG Report this post to the editors

A colunista Miriam Leitão é a autoridade da Rede Globo para comentar economia na TV aberta. Leitão e outros comunicadores contribuem com o processo de desinformação do jornalismo econômico no Brasil.
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Neste artigo de opinião, fazemos uma análise “foucaultiana” partindo das premissas do NIEG-CEPOS, tendo como alvo de análise o jargão da economia neoclássica difundido sob a forma de consenso (fabricado) midiático. A construção e a fixação do discurso econômico neoliberal em sua etapa financeira ganha contornos concretos não apenas pelos seus “renomados” economistas, mas também potencializado pelas mídias corporativas, que possuem interesses na financeirização de suas estruturas produtivas. Como se sabe, estes agentes econômicos de difusão ideológica (mídia), se utilizam de “especialistas” em economia (muitos ex-operadores de orçamentos de Estado) para formar não só o discurso que traduz as formas de dominação, mas aquilo pelo que almejam, o poder pelo qual querem manter o controle.

Como já colocado em textos anteriores, o NIEG utiliza-se de audiovisuais e debates para discutir e difundir o conhecimento sobre a área, mas, para quem se propõe a “traduzir” o quase indecifrável mundo do capital financeiro, é necessária uma construção teórica um pouco mais densa sobre o assunto.

Um dos textos escolhidos para a discussão interna do núcleo foi A Ordem do Discurso (Loyola, 1996), descrição da aula inaugural proferida por Michel Foucault no Collège de France, em 1970. Por mais que o filósofo francês não esteja entre as “prioridades” de leitura nos estudos sobre Economia Política da Comunicação, este livro serve como base para uma hipótese trabalhada no NIEG, que é a desinformação estrutural.

O discurso econômico, por exemplo, é conhecido apenas por “especialistas” e mesmo quem atua no mercado de capitais não sabe bem como explicar o que faz quando tratado no conjunto das ações desempenhadas. Ou seja, trabalham sob verdades pensadas, verdades pensáveis como nos explica Chomsky, tratando-se de raciocínio instrumental sem entrar no elemento substantivo das operações em curso.As explicações midiáticas seguem o ritmo do “explicando para te confundir”, deixando de lado as interdições que atingem o discurso e a sua relação, especialmente, com o poder.

As relações de interesse que circundam a atuação desastrosa dos agentes do capital financeiro são atravessadas pelos ideais corporativos, uma espécie de injeção que é introduzida na pele de seus especialistas, que tem a função de pronunciar seus discursos conclusivos, independente de sua formação acadêmica, estabelecidos em uma sociedade controlada e organizada, tendo como base de domínio a adesão do indivíduo ao mundo do consumo e no jogo de esconde-esconde das relações causais mais básicas (como por exemplo o financiamento do Estado para as grandes empresas privadas).

Constatamos que no contexto econômico atual esse discurso está longe de ser neutro. As edificações de novas teorias capitalistas comprometem a visão transparente das relações de poder, com um emaranhado de intelectuais que tentam cauterizar uma ferida já necrosada. Existe então um compromisso de tornar verdadeiro aquilo que em seu discurso é pura especulação transformada em objeto de desejo, o poder. Estas “falas” ganham então ares de “ciência exata”, pois originalmente ganham uma moldura “técnica”, pois originalmente foram formalizadas através de modelos matemáticos, sendo que após ganham forma de discurso através de axiomas “do fantástico mundo do Dr. Friedman”.

Há uma separação clara nesse discurso, os limites da razão e da loucura. Entendemos que a loucura é a palavra que não tem validade, que é nula, que não há tom de verdade nem importância. Na fase mais recente do sistema capitalista, os limites de abrangência e regulamentação de sua atuação no mercado são ignorados, agregando valores que não se encontram na razão. A história das bolhas é a prova da insanidade humana traduzida pela avareza, ganância, cobiça e acumulação numa escala de que seus controladores são verdadeiros sociopatas (vide a obra realizada na Argentina durante e pós-Menem e a Grécia aconselhada pelo Goldman Sachs Europa!).

Em outra esfera, a mídia corporativa vincula seus interesses econômicos nos grandes protagonistas da financeirização, colocam à frente de seus noticiários um pacote de supostas verdades, que teriam embasamento, acabando por formalizar apenas os discursos que negligenciam o conhecimento cientifico e causam a desinformação estrutural. Materializa este axioma a sempre presente ladainha de “independência” dos Bancos Centrais em relação aos seus governos, e a chiadeira da mídia brasileira quando o Comitê de Política Monetária baixa a famigerada taxa Selic, diminuindo assim a margem de lucro das instituições financeiras, bancos em particular.

Mas o que conseguimos compreender desse discurso que estabelece questionamentos entre a oposição de verdadeiro e falso?

O pensamento e o posicionamento da sociedade são construídos de informações vindas de infinitas fontes de acesso, passando da família à escola e aos meios de comunicação, isto para além da plataforma tecnológica de suporte. Independentemente do conteúdo, a importância cada vez maior da comunicação (incluindo as telecomunicações) para a sociedade capitalista e para a “formação” político cultural das pessoas, acaba por mascarar a intervenção por formas de inclusão de poder.

A construção do discurso é carregada de informações que circulam entre o verdadeiro e o falso, mesmo que se passe a questionar o objeto com mais freqüência, houve a desvinculação da idéia de poder. Agora, há sentido nos dois extremos.

Para dar credibilidade ao discurso produzido, empresas de comunicação recorrem à utilização de linguagens “fictícias” em suas produções, ou seja, são reportagens televisivas ou ficção documentada explicativas (docudrama). É o que geralmente vemos na veiculação das informações sobre economia no mundo. Entrevista-se especialistas em economia financeira que estão diretamente ligados a bancos e empresas de consultoria, que aliviam os efeitos da “farsa com nome de crise” transferindo a responsabilidade para a sociedade civil. A versão hegemônica termina por responsabilizar aos governos por farra nos gastos públicos e nunca entra na natureza do endividamento recente dos Estados europeus ou mesmo dos EUA, onde o que opera é o financiamento coletivo para cobrir o rombo deixado pelos agentes privados de mercado.

Núcleo Interdisciplinar de Estudos da Globalização Transnacional e da Cultura do Capitalismo (NIEG)

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