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Dilemas da esquerda em Portugal

category iberia | a esquerda | opinião / análise author Thursday June 02, 2011 18:37author by Manuel Baptista - a título pessoal Report this post to the editors

A esquerda é minoritária politicamente, porquê? Aqui vão algumas pistas...

Então, sendo tal simpatia pelas ideias socialistas um lugar-comum, em praticamente todas as «democracias liberais», porque razão as pessoas continuam votando em partidos que não apenas executam um programa ao contrário dos anseios populares, como mesmo teorizam sobre a necessidade de contrariar essa visão socialista e igualitária?


Dilemas da esquerda em Portugal


A esquerda é minoritária politicamente, porquê? Aqui vão algumas pistas... Então, sendo tal simpatia pelas ideias socialistas um lugar-comum, em praticamente todas as «democracias liberais», porque razão as pessoas continuam votando em partidos que não apenas executam um programa ao contrário dos anseios populares, como mesmo teorizam sobre a necessidade de contrariar essa visão socialista e igualitária?

As ideias que enformam a esquerda desde há cento e cinquenta anos, aproximadamente, são largamente maioritárias na sociedade. Mesmo em países como os EUA sujeitos a campanhas de lavagem ao cérebro das massas, constantes, desde há muito tempo contra os «vermelhos», ou seja, contra a esquerda revolucionária, anti-capitalista, a verdade é que as pessoas, embora se dissociem (por medo?) da etiqueta de «socialismo» acabam por estar de acordo maioritariamente com aquilo que seriam partes substanciais de um programa socialista revolucionário, tal como, segurança social, assistência gratuita na doença, educação gratuita, proporcionalidade dos impostos, etc. ... Então, sendo tal simpatia pelas ideias socialistas um lugar-comum, em praticamente todas as «democracias liberais», porque razão as pessoas continuam votando em partidos que não apenas executam um programa ao contrário dos anseios populares, como mesmo teorizam sobre a necessidade de contrariar essa visão socialista e igualitária?

Há várias razões, fundamentalmente, para que este estado de coisas se perpetue. Uma, sem dúvida, será a capacidade de persuasão de “media” corporativos que insinuam de forma constante e subliminar dos «valores» capitalistas: não precisam de fazer campanha explícita a favor desses valores e contra uma visão socialista da sociedade.

Outra das razões é a incapacidade das forças de esquerda em perceberem a verdadeira natureza do jogo e terem uma atitude «ganhadora» em relação ao mesmo.

Quando a direita sente o seu poder ameaçado, quando os partidos tradicionalmente defensores do capitalismo estão em risco de perderem eleições, face a um adversário que potencialmente poderá trazer algum dano à sua hegemonia sobre a sociedade e seus negócios, o que faz ela? Une-se, joga tudo por tudo num candidato mais ou menos consensual, anulando críticas e dissidências, no momento da campanha eleitoral, apresenta uma «frente unida», sabendo ela muito bem que esse facto traz-lhe votos, além de significar uma maior maioria no parlamento pelo próprio mecanismo de tradução dos votos em mandatos.

Portanto, temos de nos convencer que as forças de esquerda, eleitorais, têm uma atitude inconsequente para quem deseja chegada ao poder por via eleitoral... isto aparentemente não faz sentido. Seria uma inabilidade dessas forças eleitorais? Se assim fosse, o problema teria sido corrigido há muito tempo. Não se trata de inabilidade, mas simplesmente de «jogo político».

Para compreender isto, é preciso perceber que as forças de esquerda – mesmo que não detenham uma fatia substancial do poder e grande acesso a lugares de primeira escolha no aparelho de estado (vulgarmente «tachos») - têm, no entanto, alguns privilégios enquanto membros do parlamento ou de câmaras municipais. Mas, sobretudo, mantêm uma parte da população sob influência. Uma parte do operariado, da população pobre, acredita nessas forças e segue os seus líderes, submetendo-se às suas orientações, sejam elas quais forem. Na hora de decidir, por exemplo, se devemos refrear os ânimos, se devemos renunciar (pelo «bem nacional» ou outra patranha do género) ou, pelo contrário, fazer subir o nível da luta de classes, quem pode ter influência nas massas trabalhadoras? Claramente, só os dirigentes sindicais e políticos... da esquerda.

O jogo, portanto, para aquelas forças situadas à esquerda no parlamento, não é tanto o de tomar o poder, mesmo que isso seja declarado o objectivo no seu programa e tentem convencer seus adeptos que estão fazendo o melhor. O seu propósito verdadeiro é conseguirem uma representação suficiente para que a direita, o patronato, os que detêm o poderio económico, se sintam coagidos a ter em conta e negociar com eles, na qualidade de «chefes» dos trabalhadores, daqueles que podem avivar ou (a grande maioria das vezes) extinguir os movimentos sociais de contestação, de luta social...

Assim, a esquerda anti-capitalista está permanentemente confrontada com um dilema falso, ou (A) perpetuar e validar pelo voto a encapotada rendição dessa «esquerda eleitoral» aos ditames do poder, favorecendo uma representação minoritária no parlamento e em autarquias, ou (B) recusar votar, insistindo na luta social, na auto-organização desde a base, não fazendo o jogo das forças eleitoralistas, denunciando mesmo esse jogo...

Um falso dilema, a meu ver, pois pode-se tacticamente assumir uma postura de estímulo, por todos os meios, da luta social, contrariando a «paz social» que os reformistas tentam instaurar durante o período pré-eleitoral, sem fazer porém uma campanha pela abstenção. «Votamos em vocês, mas não permitiremos que vocês se desviem do vosso próprio programa eleitoral, das promessas e compromissos que assumiram perante o eleitorado!»

Eles – da esquerda eleitoralista -não podem senão ocultar ou difamar-nos para manter sob influência uma parte substancial dos trabalhadores. Mas nós precisamos de contrariar essa difamação para podermos ser ouvidos dentro da classe trabalhadora, da qual fazemos parte. Essa parte significativa da nossa classe, a gente do nosso lado da barricada, não pode - de uma penada - perder as ilusões de reformismo inculcadas ao longo dos tempos! A nossa gente tem de se auto-educar na luta social, para entender a verdadeira natureza do «jogo político», nesta falsa democracia!

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